Resultado do desastre.( Larissa)

1379 Words
" Dizem que São Miguel Arcanjo, engana a morte para poder dar aos homens a chance de poder viver mais um pouco. Não estamos aqui por acaso todos nós viemos com uma missão. " Por: Larissa. As dores vinham junto com a dificuldade de respirar, minha nuca latejava tanto que pensei que minha cabeça fosse explodir. Ele me subjugou, disse coisas terríveis e ameaçou não só a minha vida, mas também a dos nossos filhos. Tem perdão para uma atitude tão desumana? Eu sei a resposta: não tem. Pietro tinha fúria em seus olhos, acidez em cada frase proferida. Quando o homem saiu da minha presença, caí de joelhos no chão. Eu sentia as contrações que estavam se intensificando a cada minuto. Algo desceu por minhas pernas. Levei a minha mão até lá e entrei em desespero quando vi sangue manchar meus dedos. Com muita dificuldade, rastejei até a mesinha lateral que fica entre os dois sofás, peguei meu celular, liguei para o meu pai e disse a única coisa que consegui: "me ajuda". Não sabia se a minha mãe ainda estava com ele. Dona Luzia tinha ido até a baia para levar as garrafas de café. Dessa vez, ele não tinha esquecido, e sim ela que demorou para preparar o líquido rico em cafeína. Fiquei sozinha e, nesse pequeno espaço de tempo, o que jamais imaginei que pudesse acontecer, aconteceu. Ele surgiu para arrebentar um pouco mais com a menina que massacrou sem piedade alguma. Só que desta vez, Pietro foi além da conta. Na noite passada, quase não consegui dormir com os gêmeos mexendo sem parar. Então, resolvi levantar cedo e finalizar o casaquinho. Estava ansiosa para começar a tricotar a touquinha para combinar. No entanto, tudo ficou interrompido. Estou neste momento dentro do carro, tentando ao máximo puxar o ar que me falta. As dores continuam intensas e meu medo de parir meus filhos dentro desse carro, sem chegar a tempo ao hospital, faz meu estômago gelar. Meus pequenos não sobreviveriam, assim como acho que nossas chances de permanecermos vivos são mínimas. _ Corre, Fernando! - minha mãe berra, com as lágrimas transbordando. _ Estou indo o mais rápido que posso! - ouvi a voz nervosa do meu pai. Meu corpo pulava e sacodia conforme passávamos por buracos e os desníveis da rua. _ Mãe, ma.... mãe, me escuta, por favor, me escuta! - peço com a voz falhando. _ Shiu, não fala nada, princesa, se concentra em respirar, só respira. - diz, passando a mão trêmula em meu rosto. Sinto minhas forças se esvaindo, fecho os olhos por alguns segundos. _ Não, filha, não feche os olhos! Lari, escuta a mamãe, meu amor, eu estou aqui com você, meu sol! Olha para mim! - brada nervosa, tocando em minha face. _ Os... os nomes... - tentei lhe contar que eu tinha escolhido os nomes dos meus filhos: se fossem dois meninos, seriam Uris e Ulisses; se fossem duas meninas, seriam Cefir e Elora; e se fossem um casal, seriam Dante e Giulia. _ Quando você estiver bem, nós escolheremos os nomes. Agora só respira, pelo amor de Deus, Larissa! - vocifera em prantos - Eu não devia ter te deixado sozinha. Vi o exato momento em que o carro do desgraçado partiu como um louco da nossa casa. - se martiriza por algo que estava aquém do nosso conhecimento. No instante em que vi o italiano de pé no meio da minha sala, eu soube que aquele encontro não seria nada bom. Me esforço ao máximo para tentar manter a calma, contudo é impossível quando estou ciente de que meus filhos estão sofrendo dentro de mim. Eu não me importo comigo, com o que irá acontecer com meu ser, apenas com eles. Me empenho ao máximo para poder dar tempo deles serem tirados de dentro de mim. Se eu faltar, meus pais cuidarão deles da melhor forma possível, e essa certeza me deixa em paz para partir. Quando chegamos na entrada do hospital e maternidade pública de Alegrete, meu pai me pega no colo e entra correndo, gritando por ajuda. A correria entre os enfermeiros se fez presente. _ O que houve? - uma médica fala enquanto examina meus olhos com o auxílio de uma lanterna e um esfigmomanômetro digital afere a minha pressão. _ Se desentendeu com... _ Uma briga entre amigas, depois ela passou m*l. - minha mãe interrompe a explicação do meu pai. - A pressão está alta, o feto está em sofrimento, a gestante apresenta sangramento, teremos de fazer um parto de emergência. - a doutora revela. Ouço quando ela grita ordens para prepararem o centro cirúrgico e os leitos na UTI. _ Mãe, se acontecer qualquer coisa comigo, cuida bem dos meus filhos. Por favor, cuida deles. - falo puxando-a por sua blusa. Dona Luzia me olha em prantos e apenas anui. Sou colocada numa maca e levada às pressas para o segundo andar do hospital. Médicos obstetras, enfermeiros, pediatras, instrumental cirúrgico e anestesista correm contra o tempo para tirar meus filhos do meu ventre. Capto os olhares que eles trocam. A forma como se comunicam em silêncio, a expressão em suas íris me evidenciam a tensão no ar. Vejo quando o primeiro corpinho pequeno é erguido e entregado às pressas para outra pessoa. _ O bebê está bem? - pergunto preocupada. _ Quieta, mamãe, seu bebê está sendo assistido, depois você o verá. - o anestesista fala perto de mim. _ O sexo deles, por favor, eu não sei. - profiro. Meus olhos vêem quando um segundo corpinho frágil é erguido, escuto um chorinho ao longe. _ É um menino e uma menina, mamãe, parabéns. - choro ao saber que é um casal, um sorriso brota em meu rosto. Eles tinham nascido, e finalmente eu poderia parar de lutar. _ Uma hemorragia, preciso de auxílio agora! - ouço a voz ao longe, conforme vou perdendo a consciência. Terminaria assim, minha alma sendo encaminhada para outro plano e meus filhos crescendo sem ter um pai e uma mãe presentes? De repente, abro meus olhos e me vejo num local muito diferente de um centro cirúrgico; eu estava num lugar muito escuro, me sentia muito cansada e só queria parar e repousar. _ Aqui eu vou poder descansar. - falo para mim mesma. Olhei ao meu redor e me vi em um túnel muito extenso dominado pelo negrume. Alguém chamava meu nome bem longe e eu não sabia de qual direção partia a voz, muito menos identificá-la. Fixei meu olhar ao longe e vi uma pequena iluminação do tamanho da tampa de uma garrafa. Mesmo fatigada, decidi ir até lá para ver do que se tratava aquela fonte luminosa . Caminhei no escuro, sem conseguir ver por onde meus pés pisavam. Conforme a distância diminuía, aquela pequena fonte luminosa ia crescendo e crescendo. Quando, enfim, me vi bem perto, percebi ser a entrada ou saída do túnel. Atravessei para um ambiente completamente diferente, totalmente claro, cheio de luz. Olhei para frente e vi um rapaz muito bonito me olhando. Me aproximei alguns passos em sua direção. Ele vestia-se todo de branco, segurando uma espada prateada de metal reluzente e ao seu lado estavam dois cisnes parados quietos. O rapaz me estendeu a espada que tinha em mãos. Olhei para o objeto e depois para o rosto do homem, sem saber por qual razão ele me oferecia. _ Para você prosseguir, terá de sacrificar esses dois animais. - disse sério, embora me passasse uma sensação de paz. Olhei para as aves, tão lindas e quietas, inocentes e desprotegidas. Eu não seria capaz de realizar uma maldade tão grande. _ Moço, eu não mato nem barata. Como o senhor me pede para fazer uma coisa dessas com esses bichinhos que são tão bonitos? Eu não posso. - expressei, olhando para o casal de cisnes que não me representava nenhum tipo de perigo. _ Então pode retornar, que sua missão ainda não terminou. - disse ele, encostando a ponta da espada no chão. Ouvindo suas palavras, retornei para o túnel e, assim que a escuridão me encobriu, senti uma energia muito forte me puxar. Era como se um raio me atingisse uma, duas e, na terceira vez, tudo se apagou junto com minha consciência.
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