"Tem coisas que acontece na sua vida para te tornar forte, nunca passamos por quaisquer situação sem aprender alguma lição. "
Por: Larissa.
A dor de ter meus fios sendo massacrados pelas mãos da minha mãe é ínfima em comparação com a que sinto por dentro. Meu coração foi reduzido a pó.
_ Você não tem vergonha na cara, Larissa? O que teu pai e eu fizemos para merecer essa humilhação que você está nos fazendo passar? Hein? Sempre fizemos de tudo por você, garota! Sempre! E o que recebemos? Mentiras, desonra! - minha mãe berra, puxando-me pelo caminho.
Eu não consigo me defender. Na realidade, não há defesa para mim. A culpa daquilo tudo que está acontecendo também é minha, por acreditar naquele homem, por achar que mesmo que fosse mínimo, ele sentia algo por mim. Descobri da pior forma que ele não sente, nunca senti. Fui uma diversão nas mãos do italiano.
Eu, com as minhas doces ilusões, pensei que poderia construir um edifício no meio do deserto que aquele homem demonstrava ser. Pensava que assim, eu chegaria perto, bem perto do coração dele e teria a sua atenção. Acreditei que conseguiria refazer os jardins secos que ele possui em seu interior, plantando narcisos. No entanto, tudo não passou disso: ilusão. E eu estou aqui, neste momento, regando com lágrimas de sangue os lírios dentro de mim.
Dona Luzia me puxa com tanta força pelos últimos degraus da escada que me desequilibro e caio, batendo a cabeça no chão. Soluço, me sentindo um lixo humano, um objeto que foi descartado depois que não tem mais serventia, uma verdadeira porcaria.
"Deus, o que eu fiz de errado? Amar, meu pai? Amar foi o meu pecado e por isso estou sendo condenada?" - indago sem forças para me reerguer.
_ Jesus! O que está acontecendo aqui? - escuto a voz conhecida, a voz da pessoa que me aconselhou tantas vezes a me afastar do infeliz e eu sequer dei ouvidos.
Mãos quentes e carinhosas me pegam pelos braços, me auxiliando a levantar do chão frio. Meu olhar se cruza com o dela: Carmem.
_ Eu peguei minha filha na cama do senhor Pietro, acredita nisso? A garota mentiu para mim e para o pai dela, dizendo que ia dormir na casa da Sophia. Qual foi a nossa surpresa quando a própria amiga apareceu na minha casa atrás dessa impudica! Fernando e eu nos desesperamos, então tive a brilhante ideia de pedir ajuda à senhora Grecco para nos auxiliar a encontrar a garota. E qual foi o presente de grego que me aguardava aqui? Larissa se esfregando com o filho dos patrões. - minha mãe berra visivelmente alterada.
_ Calma, Luzia! Não vê o estado da sua filha? A menina está tremendo demais e ainda por cima pelada! Você vai mesmo expor sua filha ao ridículo na frente de todos? Não acha suficiente tudo o que aconteceu? - Carmem brada, retirando uma longa blusa de frio que aquece seu corpo e me veste, fechando o zíper, escondendo a minha nudez.
_ Quem foi exposta fui eu, quem serão taxados como os pais da v***a seremos Fernando e eu. Você não sabe a vergonha que estou sentindo. - profere, me pegando pelo braço.
Sou arrastada aos tropeços pelo caminho até chegar em casa, meu choro não cessa, as palavras reverberadas por ele ecoam no mais profundo do meu âmago, minando a minha essência.
_ O que está acontecendo, Luzia? - meu pai surge na porta assim que chegamos em casa. Olho para seu rosto, que sustenta um semblante assustado.
_ Acontecendo? Melhor corrigir essa frase, Fernando. Aconteceu. Flagrei Larissa na casa dos patrões e você nem imagina onde! No quarto do senhor Pietro! - revela minha mãe, me empurrando para que eu adentre na sala.
_ Como é a história? - o grito que meu pai dá me faz levantar meus braços e proteger minha cabeça e ouvidos.
_ Nossa filha não é mais uma moça, Fernando, e sim uma mulher. Se entregou para o filho dos Greccos. Nós dois estamos sendo enganados e por quanto tempo? Isso só Deus sabe. -a fala destemperada de dona Luzia corta o ar.
_ Eu não posso acreditar que isso está acontecendo! - A voz embargada do meu progenitor é como uma espada de dois gumes sendo cravada na minha carne, perto de tantas outras que atingiram meu pequeno ser há pouco tempo.
- É, Fernando, mas acredite, porque eu vi, não foi ninguém que me contou, não! Fiquei de "cara larga" na frente de todos! Eu procurei a patroa, chorei desesperadamente, contei o que estava acontecendo e ela disse que pediria ao filho para verificar as câmeras espalhadas pelo local do evento, já que aquele maldito é bom com essa coisa de internet. Mas nem precisou, não é mesmo, dona Larissa! Fiquei no corredor esperando que a dona Violeta falasse com o aquele cretino, foi então que ouvi a mulher falar o nome da bonitona aí, nem pensei, invadi o cômodo e me deparei com a situação mais constrangedora que nenhuma mãe deveria passar. - vocifera dona Luzia, andando de um lado para o outro.
Meu pai se senta no sofá, seu olhar está perdido, longe. Seus cotovelos estão apoiados em cima de seus joelhos, suas mãos caídas na frente de suas pernas. Vejo uma lágrima deslizar pelo seu rosto.
Me sinto péssima em ver os dois destruídos e pior é saber que estão assim por minha causa. Simplesmente porque agi movida pelo sentimento que nasceu em meu peito.
Ando até meu pai, me ajoelho em sua frente, minhas mãos trêmulas e vacilantes tocam as dele. Fico com medo de ser repelida.
_ Pai, paizinho, me perdoa. - peço chorosa.
Seus olhos me fitam, neles tem tanta tristeza. Ele também sente dor.
_ Sente-se, Luzia, precisamos conversar. - meu pai pede.
Minha mãe se senta numa poltrona e esfrega as mãos no rosto.
_ Lari, me conta, filha. Por qual motivo você se prestou a esse papel deplorável? - a voz embargada do meu progenitor denota que ele está se esforçando para não desabar.
_ Eu... eu me apaixonei por ele, pai. Me entreguei por amor, por amar, mas eu nunca signifiquei nada na vida daquele homem. - falo baixinho, com meus lábios tremendo.
_ Como você pode ser tão ingênua, Larissa? Homens da estirpe dele só querem se aproveitar de moças como você. Pessoas como ele, ricas e cheios de poder, não têm coração, não têm sentimentos por ninguém, atropelam qualquer coisa para alcançar seus objetivos. Usam as outras pessoas para o seu bel-prazer e depois as descartam, sabe por quê? Porque para eles, gente simples como nós sempre é substituível. - minha mãe exprime.
Abaixo minha cabeça sem ter como replicar, porque ela tem toda razão em suas palavras e eu descobri isso da pior maneira.
_ Não adianta mais remoer os fatos, temos que buscar soluções. - meu pai se expressa.
_ Pensa em pedir para que ele corrija o m*l feito? Que repare a honra e a moral da nossa filha?
_ Como se esse miserável fosse fazer algo ínsigne e íntegro. Ele foi calhorda do começo ao fim, Luzia, enganando uma menina simplória, inocente e tirando proveito da situação.
_ Então?
_ Enviarei a Larissa para a casa da minha irmã, onde ela poderá construir uma nova vida, longe de toda essa sujeira. Vou pedir demissão, quero ficar o mais longe possível desses Greccos. Eles tocaram no que eu tenho de mais valioso no mundo e por esse ato indecoroso nunca os perdoarei.
Ouço calada a minha vida ser decidida. Sinto-me devastada, com meu ego ferido e coração arrasado.
_ Levante-se, Lari, vá tomar um banho, arrume suas coisas, hoje mesmo você embarca para Minas. Pedirei que Roberta te busque na rodoviária de Uberlândia.- meu pai fala, levantando-se e me erguendo do chão - Não chore mais, minha filha, não sofra assim, aos poucos tudo vai voltar a ficar bem, tudo dará certo no final, você vai ver.- pronuncia, afagando meu cabelo, enquanto desabo em prantos protegida por seu abraço.
● Continua....