Capítulo 01
Rio de Janeiro, Brasil. 11hrs30min da manhã.
Joshua estava em seu escritório assinando os últimos papéis para a licença de sua secretária.
— Bem Cecília... — sorriu para a moça. — Agora você está oficialmente de licença à maternidade. — ele fez cara de choro, arrancando sorrisos da mulher.
— Ora Josh. — disse achando graça do comportamento de seu chefe. — É apenas seis meses homem!
— Mesmo assim. — disse mostrando o último pápel para que assinasse. — Sentirei sua falta.
— Também sentirei a sua. — ela terminou de assinar. — E você se comporte durante minha ausência senhor Beauchamp. — repreensiva.
— Ok. — assentiu com a cabeça. — Boa sorte Ceci. — levantando e dando um abraço nela. — Assim que nascer me ligue avisando que vou visitá-los.
— Pode deixar. — os dois se despediram e ela saiu.
Joshua a observou sair e suspirou, ele iria enlouquecer sem Cecília por ali, além de ser muito competente, era um amor de pessoa e gostava muito dela. Óbvio que era apenas como amigo, por que Cecília era casada, e muito bem casada.
Além de ela ser casada, ele também era casado com Sofya... E isso já fazia dois anos.
Fora praticamente forçado a se casar com Sofya, seus pais passaram a vida inteira idealizando os dois como um casalzinho feliz, ele não a amava e duvidava se algum dia amaria, Sofya era fútil ao extremo e completamente burra, ele não a odiava, apenas não sentia nada por ela além de amizade.
Inclusive se considerava um homem de sorte e até muito feliz por tê-la.
Saiu de seus devaneios quando sentiu o celular vibrar no seu bolso. Coçou a nuca ao ver que era sua adorada esposa.
— Alô. — atendeu desanimado.
— Oi Baby Blue! — ela deu um gritinho estridente, fazendo o fechar os olhos com força.
— Oi Sô... — forçou um sorriso.
— Sô? — ela disse com um bico. — O que a gente combinou coelhinho?
— Baby Pink... — ele sussurrou rezando para que ninguém entrasse enquanto estivessem nesse dialeto ridículo. — O que você quer? — rolou os olhos, às vezes tinha vontade de manda-la à merda.
— Ai coelhinho, não acha que está um pouco m*l-humorado hoje?
— Tem razão, estou estressado. — ele disse sentando em sua cadeira e rodando. — Cecília foi embora hoje e ainda não consegui ninguém competente para substituí-la. — disse coçando os olhos. — Estou a ponto de um ataque de nervos.
— Hã?
Joshua suspirou pesado, ele ainda se perguntava por que insistia em conversar coisas normais com Sofya, antes de casar com ela se perguntava se ela se fazia de i****a, ou apenas queria chamar atenção, mas depois que casou ele teve certeza que ela era realmente acéfala!
— Nada Sofya. — disse levantando. — Eu tenho que desligar.
— Espera amor meu! — ela berrou. — Hoje não vou almoçar em casa, vou sair com as meninas, vamos ao shopping! — com os olhinhos brilhando.
— Ok, sem problema. — ele deu de ombros.
—Pode me fazer um favor? — ele fez um barulho que ela deduziu ser um sim e continuou. — Pode ir buscar nosso filho no pet shop ?
Não se assuste, ela está falando de Rupert, seu chihuahua.
—Não sei se vai dar Sô... — ele disse choroso.
— POR FAVOR, POR FAVOR, (...) — ficou repetindo a palavra inúmeras vezes fazendo-o perder a paciência.
— OK! — rolou os olhos. — Agora eu realmente preciso desligar. Tchau, um beijo.
— Tchau meu Baby Blue... Beijos. — desligou.
Sofya parecia uma criança, gostava dela, gostava muito. Mas ele tinha certeza que a não a amava. Tinha medo de machucá-la, apesar de sua burrice extrema era uma boa pessoa, tinha um coração muito bom e era linda. Era loira e tinha olhos azuis com o mar, tirando o belo corpo.
Se ele já a tinha traído? Não. Nunca tinha traído, apesar de não formarem um casal exemplo, ele tentava não cair em tentação. Mas não podia mentir que vontade ele já teve, e muita.
Muito bem, a questão agora não era essa e sim o que ele faria agora sem sua secretária? Tinha marcado entrevista com mais três candidatas para esta tarde e estava na esperança de conseguir a mulher ideal para ajudá-lo.
Joshua tinha vinte e seis anos, era arquiteto, seguindo a linhagem de sua família, desde seu tataravô das quantas. Seu pai e o pai de Sofya tinham criado a Espaço Arquitetura & Design há exatamente dezesseis anos e era uma das mais bem sucedidas no ramo no Brasil.
— Ei cara! — Noah, seu amigo de infância entrou na sala. — Vamos almoçar, o José vai passar aqui.
— Vamos. — suspirou desligando o computador. — Terminou o gráfico?
— Quase. Vou mandar pra lá hoje a tarde mesmo. — Joshua assentiu. — Que cara é essa?
— Nada cara... — ele negou com a cabeça. — Eu não ando muito motivado esses dias.
— O que é isso irmãozinho? — Noah perguntou. — Sabe, você está precisando é de uma gandaia. É disso que você está precisando! — ele disse batendo nas costas do amigo.
— Claro... Sempre gandaia né? — disse levantando. — Mas vamos lá, estou precisando respirar.
Os dois saíram.
¨¨¨¨
Enquanto isso em Piedade, um bairro do subúrbio carioca.
— Any! — Priscila berrou pela quinta vez. — Mas que raio se meteu essa menina... — disse limpando as mãos no pano de prato. — Any Gabrielly! — foi até a escada e pode ouvir o som alto que vinha do quarto de sua filha caçula. — Ai meu Deus... — negando com a cabeça e subindo as escadas. — Any? — abriu a primeira porta do corredor correspondente ao quarto de Any.
Lá estava ela dançando em frente à TV, adoidada.
— Nossa, nossa... Assim você me mata, ai se eu te pego, ai ai se eu te pego... — ela se requebrava tanto que parecia que ia se partir no meio.
— Any! — gritou fazendo a cacheada dar um pulo.
— Nossa, nossa, assim a senhora me mata! — cantou fazendo graça enquanto abaixava o DVD.
— Que engraçado. — a mulher disse. — Desça para almoçar.
— Ai mame... — a garota deitou em sua cama. — Diz se não é lindo? — apontando Michel Teló com adoração.
— É um rapaz bonito. — assentiu. — Mas vamos descer filha. A comida vai esfriar. — disse saindo do quarto.
— Ok. — observando a mãe sair do quarto. — Ai se eu te pego Michel... — piscou desligando a TV.
Desceu as escadas e encontrou a mãe arrumando a mesa. Any Gabrielly tinha vinte anos, morava com os pais e com a irmã mais velha, Sabina.
Any era folgada, como dizia sua irmã. Adorava sair pra curtir e não gostava mesmo de trabalhar.
— Enfim... — disse sentando. — O cheiro está bom.
— É um escondidinho de carne de sol. — Priscila explicou, quanto colocava a forma em cima da mesa.
— Cadê a Sabina? — perguntou olhando para os lados.
— Está no banheiro e seu pai foi buscar refrigerante.
Sabina voltou e sentou-se a mesa ao lado de Any. Sabina era irmã mais velha de Any, tinha vinte e dois anos, fazia faculdade de biomedicina e vivia pentelhando a irmã, chamando-a de preguiçosa e reclamando.
— Que milagre... — disse Sabina com um sorriso irônico. — Já são meio dia e a Any já acordou. — arregalou os olhos, fingindo surpresa.
— Que fofo maninha... — disse Any, olhando suas unhas pintadas de rosa. — Hoje o Pedro me ligou cedo. — fez bico.
— Você não cansa de fazer esse cara de i****a não Any? — Sabina bufou. — Ele é lindo demais pra levar fora de você.
— Eu não dou fora nele. — Any retrucou. — Fico com ele às vezes, mas ele quer namorar e eu não quero ninguém no meu pé, já falei isso pra ele várias vezes e parece que entra por um ouvido e saí pelo outro.
— Chega as duas. — Priscila resmungou entregando o prato de Sabina. — Hora de comer!
Silvio chegou trazendo o refrigerante em uma mão e na outra um jornal.
— Aí está o refrigerante. — colocando em cima da mesa.
— Jornal de hoje papai? — Sabina perguntou.
— Sim querida. — ele disse sentando-se. — Bom dia Any. Pelo visto a gandaia ontem foi boa hein?
— Maravilhosa, papai. — disse mandando um beijinho para o pai, depois dando uma garfada.
Sabina começou a vasculhar o jornal, nos classificados.
— E então? — Priscila perguntou. — Está bom meu almoço?
— Ótimo mame. — Any sorriu.
— Olha só! — Sabina sorriu. — Um emprego perfeito para a Any! — com os olhos brilhando.
— Mãe, manda a Sabina parar... — Any choramingou.
— Sabina, pare de perturbar sua irmã. — Priscila suspirou. — Se ela não quer trabalhar o problema e todo dela, o seguro desemprego acaba esse mês não é Any?
Any assentiu com um bico.
— Pois bem, se você não quer trabalhar vai ficar sem suas farras, por que seu pai e eu já temos conta o bastante pra ainda manter suas noitadas por aí. — a senhora explicou encarando a filha mais nova.
Desde pequena Any nunca foi muito de trabalhar, nunca gostava de ajudá-la nos afazeres domésticos e sempre gostou de gandaia.
— Eu nunca pedi pra gastarem dinheiro comigo. — ela disse irritada com o rumo da conversa.
— Any, minha filha... — o pai começou. — Sabe muito bem que se tivéssemos mais condições, não nos importaríamos em lhe dar dinheiro. Mas a situação não está muito boa, temos que pagar a hipoteca da casa, temos que pagar as dívidas, e você sabe bem...
— Ok papai... — ela retrucou, sabia que isso iria acontecer, em um momento ou outro. — Qual é a droga do emprego Sabina? — se virou encarando o olhar satisfeito de Sabina.
— Secretária. — disse entregando o jornal a irmã. — Em uma empresa de arquitetura muito famosa.
Any rolou os olhos e viu o anúncio. Precisavam de uma secretária substituta, e blá... Espera aí. Substituta? Isso estava começando a ficar interessante, provavelmente essas substituições eram rápidas e o seguro desemprego era garantido.
— Ok, Sabina... — Any sorriu falsamente. — Mamãe... — encarou os pais. — Vocês venceram, vou lá nessa tal de... — pegou o jornal e leu. — Arquitetura & Designer.
— A única que vai sair ganhando é você querida. — Silvio sorriu.
— Ah é mesmo... — ela rolou os olhos. — Eu vou subir, perdi minha droga de fome! — saiu.
— Não liguem pra ela, isso já é normal. — Sabina disse com um sorriso na cara.
Os pais suspiraram e decidiram escutar a filha mais velha, já que a mesma começou a falar de sua faculdade e assuntos variados.
¨¨¨¨
Dois dias depois, Any estava se arrumando para a bendita entrevista. Não sabia nem como tinha conseguido essa entrevista de última hora, já que a nojenta recepcionista fez questão de dizer que já tinham selecionado as melhores e não dava mais pra ninguém ser entrevistada.
Depois de muito sambar na recepção da empresa ela conseguiu com que marcassem a entrevista, era uma única oportunidade. Estava arrumando o terninho, quando sua mãe entrou.
— E então minha filha? — ela sorriu. — Está pronta?
— Quase. — suspirou. — Só falta me perfumar. — indo até seu armário e buscando seu perfume. — Onde está o papai?
— Foi ao banco. — ela disse sentando-se na ponta da cama. — Está animada?
— Claro... — forçou um sorriso. — Bem eu já vou mame. — deu um beijo na cabeça da mãe. — Me deseje sorte.
— Claro, boa sorte minha filha, vá com Deus! — disse fazendo o sinal da cruz em sua filha.
— Fique com ele. — ela pegou sua bolsa e saiu do quarto.
Desceu as escadas apressada, e olhou no relógio, já eram dez horas, sua entrevista estava marcada para dez e meia, não podia se atrasar.
Foi até a garagem e abriu seu fusquinha vermelho, que tinha ganhado de seu avozinho, seu Ronaldo... Sentia tanta falta dele. Tanto que pôs o nome do fusquinha de Ronaldinho, e ai de quem falasse m*l de seu fusca!
Ligou o fusquinha, coisa que não era lá muito fácil, mas logo ele pegou, a cacheada arrancou rumo a sua entrevista.
—É isso aí Ronaldinho... Vamos lá, se me aceitarem, bem, se não me aceitarem f**a-se. — disse ligando o radio em uma estação qualquer.
Não demorou em que chegassem até a empresa, era um prédio bastante requintado, cheio de não-me-toque, rolou os olhos e entrou no elevador.
Ao chegar lá tinha uma mulher com uma prancheta na mão.
— Senhorita Any Gabrielly Soares? — a mulher a encarou.
— Isso aí tia. — ela fez legal com a mão, fazendo a mulher torcer um bico.
— Tia? — abaixou as lentes dos óculos. — Não sou sua tia. — disse dando um sorriso enojado.
— Desculpe. — respondeu morrendo de vontade de mandá-la tomar no fiofó.
— Não acha que está um pouco atrasada senhorita Soares?
— Não, ainda são dez e vinte e cinco. — encarou a mulher. — Minha entrevista é as dez e meia!
— Não senhorita, sua entrevista era às dez em ponto.
— Mas, me disseram que era às dez e trinta! — disse indignada.
— Pois eu tenho certeza que a senhorita ouviu errado. — disse escrevendo algo em sua prancheta.
— Escute aqui sua velha coroca, eu não vim até aqui hoje para fazer papel de i****a! — a mulher arregalou os olhos. — Se eu fosse a senhora eu chamava logo o seu chefinho antes que a minha paciência espoque!
— O que está acontecendo aqui?
Any se virou e deu de cara com o homem mais lindo que já vira em toda sua vida.
— Senhor Beauchamp. — a velha pareceu criar educação de uma hora para outra. — Essa moça insiste em ser entrevistada, mesmo tendo chegado meia hora atrasada.
Ele se virou e viu aquela mulher linda, que tinha um bico enorme na cara.
— Não é verdade! — ela disse. — Me disseram que minha entrevista era às dez e meia e agora eu chego aqui e essa velha vem querer me fazer de idiota...
Ele nem tinha ouvido bem o que ela disse, já que estava enfeitiçado com aquela linda garota.
— Não tem problema Clarice... — ele disse à mulher. — Eu a entrevisto... — abriu um sorriso.
— Mas, senhor Beauchamp...
— Mas nada, pode ir... — ele disse e a mulher apenas assentiu saindo.
Any sorriu vitoriosa.
— Pode me acompanhar senhorita Soares? — ele perguntou e Any assentiu. — É assim que se chama?
— Corretíssimo senhor. — ela deu um sorrisinho, enquanto o acompanhava até a sala dele. Não pode deixar de notar a bela comissão traseira que ele possuía. — Minha nossa... — se abanou.
— Disse algo? — ele perguntou.
— Não. — ela sorriu.
Ele sentou-se em sua cadeira e pediu que ela se sentasse.
— Pois bem Any Gabrielly... — ele sorriu. — Posso te chamar assim?
— Pode me chamar do que você quiser... — disse com um sorriso safado, ele apenas riu. — Digo, do que o senhor quiser.
— Não me chame de senhor. Me chame de Josh. — pediu descontraído.
Ela assentiu dando de ombros.
— Pois bem vamos começar... — disse analisando o currículo dela.
Any não tirava os olhos dele, que delícia de homem. Umedeceu os lábios e esperou mais do que nunca que ficasse com aquele cargo, ela iria aproveitar muito.
— Pois bem, aqui está dizendo que tem curso de informática avançada, entende de secretariado, fala inglês?
— Yes!
— Também fala espanhol?
— Sí.
— É realmente Any... — ele riu. — Você tem um currículo muito bom... — assentiu com a cabeça. — Me diga, por que lhe interessa esse emprego? — ele apoiou-se nos cotovelos enquanto a observava.
— Bem, eu acho muito interessante esse lance de advogados... — assentiu com a cabeça.
— Perdão... — ele pareceu não entender. — Aqui trabalhamos com arquitetura, não com advocacia.
— Oh! — pôs a mão na boca. — É claro, arquitetura, é que eu me confundo um pouco. Mas eu juro pra você que sou muito competente e esforçada, eu serei uma ótima secretária. — abriu um sorriso.
— Isso eu tenho certeza... — ele sussurrou mordendo o lábio. — Quer dizer... — observando a cara confusa da candidata. — Seu currículo é maravilhoso, me responda mais algumas coisas e depois responderá a um questionário.
Ela assentiu e continuou respondendo as perguntas dele. Depois ele lhe entregou um questionário com questões de múltipla escolha. Ela respondeu rapidamente.
— Aqui está. — ela entregou a folha.
Ele pegou e viu que todas as questões estavam corretas, encarou a cacheada que o olhava apreensiva.
— Foi muito bem. — se levantou. — Por hoje é só isso... — ela levantou também. — Qualquer coisa, hoje mesmo lhe telefonamos.
Any assentiu e apertou a mão dele, sentindo uma onda de excitação corroendo suas veias. Que homem era aquele?
— Obrigada Josh. — ela sorriu confiante. Aquele emprego já era dela.
Saiu da empresa com um sorriso enorme na cara. Foi até a calçada e arregalou os olhos ao ver um animal minúsculo urinando no pneu frontal de Ronaldinho.
Bufou de irritação e foi até lá em passos firmes. Parou em frente à loira que acompanhava o cachorro.
— Posso saber por que esse ratinho está mijando no pneu do meu carro? — perguntou vermelha de raiva.