Primeiro impacto
Vanessa estava recostada no balcão da área gourmet do condomínio, mexendo o canudinho dentro do copo como quem não tem pressa nenhuma. O sorriso tortinho já anunciava problema antes mesmo de ela abrir a boca.
Lucas entrou apenas para pegar água, mas congelou ao vê-la ali.
— Ué… fugindo de mim até aqui? — Vanessa provocou, sem sequer levantar os olhos.
Lucas respirou fundo, como se precisasse lembrar do próprio nome.
— Não estou fugindo de ninguém. Só vim beber água.
Ela ergueu o olhar, lenta, avaliando ele dos pés à cabeça.
— Humm… interessante. Então é natural ficar tenso assim? — inclinou a cabeça, mordendo o lábio, só para irritar.
Lucas desviou, mas o maxilar denunciou.
— Você adora isso, né? Cutucar.
Vanessa deu um passo na direção dele, encurtando a distância que ele fazia questão de manter.
— Não é minha culpa se você fica nervoso só de me ver, Lucas.
— Mas pensa em mim… demais também — ela rebateu, baixa e certeira.
O silêncio veio pesado.
Lucas ficou parado, olhando para ela como se aquilo fosse uma linha perigosa demais para atravessar. E mesmo assim, ele quase atravessou.
Vanessa percebeu.
— Relaxa, eu não mordo… a não ser que peçam — sussurrou.
Lucas aproximou apenas o suficiente para ela prender a respiração.
— Você é problema, Vanessa.
— E você adora problemas.
Antes que qualquer coisa acontecesse, o portão eletrônico abriu e vozes ecoaram pelo corredor. Lucas recuou imediatamente, como se tivesse sido pego fazendo algo errado.
Vanessa sorriu, vitoriosa.
— Quer saber o pior, Lucas? — ela falou antes de sair andando. — Quanto mais você tenta fugir… mais eu vou atrás.
Ela saiu, balançando os quadris de propósito, enquanto Lucas ficava ali, apoiado no balcão, tentando recuperar o controle que já tinha perdido.
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No final da noite, o condomínio estava silencioso. Lucas tinha acabado de sair da reunião com Ariel e ia para a garagem quando ouviu um estrondo vindo do corredor lateral.
Ele correu por instinto.
Vanessa estava encostada na parede, rindo sozinha, segurando o salto na mão.
— Calma, não desmaiei — ela disse ao vê-lo chegando. — Só virei o pé. Nada grave.
Lucas passou a mão no rosto, aliviado demais para admitir.
— Você quase me matou do coração.
Vanessa ergueu uma sobrancelha, divertida.
— Olha aí… preocupado comigo?
— Eu só não quero dor de cabeça — ele rebateu, mas a voz saiu mais baixa do que deveria.
Ela tentou caminhar, mas mancou de leve. Lucas segurou sua cintura antes que ela perdesse o equilíbrio.
Por um segundo, os dois ficaram imóveis.
O corpo dela colado no dele.
A respiração quente entre eles.
Nenhum dos dois teve coragem de se afastar.
Vanessa ergueu o rosto devagar, os olhos presos nos dele.
— Você sempre fala que eu sou problema… — sussurrou. — Mas é você que não solta.
Lucas engoliu seco, a mão ainda firme em sua cintura.
— Porque você não sabe parar — ele disse, mas não se moveu.
Vanessa aproximou um pouco mais, o nariz quase tocando o dele.
— Se eu parar… você beija?
Lucas fechou os olhos por um instante, como se estivesse lutando contra algo maior do que ele.
A distância entre eles era de um pensamento.
Ele chegou a inclinar o rosto, quase encostando sua boca na dela—
Quando a porta da garagem abriu com força e Aron apareceu chamando:
— Lucas! Precisamos de você agora.
Eles se afastaram como se o chão tivesse queimado.
Vanessa sorriu, devagar, como quem já sabia o final:
— Continua fugindo… uma hora você não vai conseguir.
Lucas virou o rosto, tentando recuperar o controle, mas a voz saiu rouca:
— Não começa, Vanessa.
— Eu? — ela piscou. — Você é que quase me beijou.
E saiu mancando leve, sem perder o charme — deixando Lucas parado, respiração descompassada e uma certeza perigosa:
Da próxima vez… ele não ia conseguir parar.