Conversa entre irmãos

1306 Words
Lucas saiu da garagem ainda com o coração acelerado. Tomou um banho gelado, tentou fingir normalidade, mas a sensação da boca quase tocando a dela não saía da cabeça. Mais tarde, encontrou Victor na varanda do apartamento, mexendo no celular e tomando café, como sempre fazia quando queria silêncio. Lucas ficou parado por alguns segundos antes de falar: — Preciso te contar uma coisa. Victor levantou os olhos devagar, já desconfiado. — Pela sua cara… não é boa. Lucas respirou fundo e se jogou na cadeira. — Eu quase beijei a Vanessa hoje. Victor congelou por dois segundos. Depois fechou os olhos como quem recebeu exatamente a notícia que mais temia. — Ah, não, Lucas… você não fez isso. — Eu não beijei — Lucas corrigiu. — Mas foi por pouco. Victor largou o celular e se inclinou pra frente. — Você sabe muito bem que essa menina vai virar sua vida de cabeça pra baixo. Lucas passou a mão no cabelo, nervoso. — Eu juro que tento manter distância, mas ela provoca. Ela não para. — E você gosta — Victor rebateu sem pena. Lucas não respondeu, o silêncio disse tudo. Victor suspirou pesado. — Olha pra mim. Você já tem coisa demais pra lidar. A organização, o condomínio, a saude da mamãe, tudo… A Vanessa é fogo puro. Se você chegar perto, vai se queimar. Lucas encarou a xícara na mesa, evitando os olhos do irmão. — Eu sei que ela é problema. — Então se afasta antes de virar um maior — Victor insistiu. — Você não precisa de confusão agora. Lucas mordeu a mandíbula, frustrado. — É mais difícil do que parece, Victor. O irmão deu um meio sorriso, compreensivo, mas firme. — Eu sei. Mas alguém tem que ter juízo nessa família, e claramente não é você. Lucas riu de canto, sem humor. Victor bateu no ombro dele: — Promete que vai manter distância. Lucas demorou… mas respondeu: — Eu prometo tentar. Victor levantou uma sobrancelha. — Tentar não é o suficiente quando se trata da Vanessa. Lucas ficou em silêncio, olhando para a rua lá embaixo… e mesmo sabendo que o irmão tinha razão, uma frase não saía da cabeça: Ele não tinha certeza se queria se afastar. ********** O galpão de treinamento estava cheio na manhã seguinte O som dos socos nos sacos de areia ecoava, e alguns soldados treinavam no ringue central. Lucas passou por ali apenas para checar a segurança do local — até congelar. Vanessa estava no centro da ação. Usava top preto, r**o de cavalo alto e luvas de boxe vermelhas, apoiadas nos quadris. Não estava treinando… estava torcendo. — Vamos, Ramon! — ela gritou, animada. — Se é pra apanhar, pelo menos faz bonito! Os soldados riam, motivados pela energia dela. Ramon era um dos meninos novos que foi resgatados recentemente , vanessa estava usando ele para deixar Lucas com ciúmes Lucas tentou passar pela lateral, fingindo que não viu nada, mas Vanessa o enxergou na hora. O sorriso dela abriu como se tivesse acabado de ganhar o dia. — OLHA SÓ… — ela falou alto de propósito. — Até quem anda sumido apareceu! Os soldados automaticamente olharam para Lucas, que apenas levantou a mão em cumprimento, seco. Vanessa virou de volta para o ringue, como se ele não fosse mais interessante. — Continua, Ramon! — ela gritou, batendo as luvas uma na outra. — Esse jab tá parecendo carinho de namorado frouxo! O ringue explodiu em risadas. Lucas apertou a mandíbula. Victor, que estava ao lado observando, comentou baixo: — Isso é o que você chamou de “manter distância”? Lucas nem respondeu. Vanessa circulou pelo ringue, animada, vibrante, chamando atenção sem fazer esforço. Quando o treino terminou, ela apoiou as luvas nas cordas e falou alto: — Quem vai ser o próximo? Ou todo mundo aqui tem medo de suar? Um dos soldados brincou: — Se você entrar, a gente desiste, Vanessa. Ela riu, provocante. — Eu não luto com quem não aguenta olhar na minha cara. Lucas entendeu o recado. E antes que pudesse escapar, Vanessa se aproximou — lenta, confiante — ainda com as luvas. Parou bem na frente dele, sem tocar. — Relaxa, não vou morder — disse, mas os olhos diziam o contrário. — Só vim agradecer por aparecer de novo no mundo dos vivos. Lucas ficou firme. — Eu não tô aqui por você. Vanessa deu um sorrisinho. — Eu sei. Mas o seu ego precisava falar isso em voz alta, né? Victor engasgou rindo. Lucas desviou o olhar, irritado — e um pouco perdido. Vanessa se inclinou, a voz baixa o suficiente só pra ele ouvir: — Fica tranquilo… eu não vou atrás de quem não quer. Ela deu dois passos para trás — ainda sem quebrar o contato visual — e virou de costas. Mas antes de sair do galpão, ergueu a luva e gritou: — Semana que vem tem treino aberto! Quem quiser apanhar com estilo, me chama! Os soldados aplaudiram. Lucas ficou parado, sentindo o estômago virar. Lucas passou o resto do dia tentando não pensar nela. Falhou miseravelmente. Cada risada dela no galpão, cada olhar de desafio… aquilo ficou martelando na cabeça até virar insuportável. Quando anoiteceu, ele saiu do apartamento sem nem avisar Victor. Desceu pelo elevador com o coração batendo rápido, como se estivesse indo pra guerra — mas a guerra era dentro dele. Lucas mandou mensagem tarde da noite: “A gente precisa conversar.” Vanessa respondeu apenas: “Não quero.” Mas Lucas insistiu: “Me diz onde você tá. Eu vou.” Vanessa ficou olhando para o celular, o coração acelerado demais para alguém que prometeu não sentir nada. Depois de alguns minutos, ela digitou: “Estacionamento do condomínio. Cinco minutos.” O estacionamento estava quase vazio, iluminado só pelos postes altos. Vanessa encostou no carro, com os braços cruzados, tentando parecer no controle. Lucas apareceu do outro lado, caminhando rápido, como se tivesse atravessado o mundo para chegar ali. Ele parou na frente dela, respirando pesado. Vanessa não deu espaço. — Se você veio pra pedir desculpa por existir, já ouvi ontem — disse, firme. Lucas passou a mão no rosto, claramente abalado. — Eu não quero te complicar. — Então por que veio? — ela perguntou, sem tirar os olhos dele. Lucas demorou para responder. — Porque quando você virou as costas ontem… eu percebi que preferia brigar com você do que ficar longe. Vanessa sentiu o estômago cair, mas não demonstrou. — Você precisa decidir o que quer, Lucas. Eu não sou sua confusão de fim de noite. Ele aproximou mais um pouco — tão perto que ela sentiu o calor, mas sem encostar. — Eu tô tentando decidir. É isso que você não entende. Vanessa mordeu o lábio, segurando o que queria dizer. — Enquanto você decide, eu fico como? Lucas finalmente estendeu a mão… mas parou no meio do caminho, sem tocar nela. — Eu não consigo ficar longe — confessou, voz baixa. — Mas também não quero problemas. Ela respirou fundo, a voz firme, mesmo tremendo por dentro: — Então não me procura… até saber o que vai fazer comigo. Lucas fechou os olhos por um segundo — como se aquilo doesse de verdade. Vanessa deu um passo para trás. — Meus pais acham que eu tô pegando ar. Se eu demorar, vão descer. Lucas assentiu, sem conseguir falar. Ela virou para ir embora. Mas antes de subir, sem olhar pra trás, disse: — Da próxima vez… me encontra só quando tiver certeza. E deixou Lucas ali, sozinho no estacionamento, finalmente entendendo: não era mais só provocação — agora ele tinha algo a perder. Vanessa era uma confusão sem fim. Lucas estava confuso, não sabia o que ela realmente queria , e muito menos o que ele queria .
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD