Capítulo 4 - Amnesia

1947 Words
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Eles me encontrariam e se eu não os enfrentasse, achariam minha filha também. Voltei para o campo aberto, onde eles me farejavam. Respirei fundo e fechei meus olhos. - Mitte vos, et ligabis.   Uma luz branca cegou todos os centauros, e então, fugiram todos para seu refúgio. Eles estavam apenas de passagem e eu acabei me denunciando, por nada. Eu estava sempre tão preocupada e ansiosa... Meu corpo ainda estava meio tremulo por conta do encanto, a luz retornava a mim. Celene veio ao meu encontro e me abraçou forte. - Você está bem, mamãe?  - Sim, querida. Mas por que você saiu de seu esconderijo antes da hora? Poderia estar perigoso aqui. - a menina abriu um enorme sorriso.  - É por que o Papai chegou.   Eu olhei na direção das árvores em que havia deixado Celene e lá estava ele. Ele sorria e olhava para um jovem rapaz ao seu lado. Aquele homem... eu tinha a impressão de conhecê-lo. Quem era ele? - Esse é meu irmão, Vandd. O menino sorriu para mim e para mim filha, mas seu sorriso desapareceu depressa demais. Ele olhou para os lados, aflito. - Corram! Estão cercando a floresta! Vão nos atear fogo! – os dois correram em nossa direção. O vento ficou mais forte e as árvores estavam muito agitadas. Eu olhei ao redor, mas eu não via nada, o que ele estava dizendo? - Hanaã! – gritei. - Vou ter que abrir a f***a agora! Ou morreremos! – eu assenti e todos nós nos abraçamos forte. Hanaã fechou os olhos. - Numinis Mundi, invoco te. Attolle te possit moveri per timeline. Transeamus ad infernum. Electione simus proprio fine. Libera nos de morte. Aperi nobis teipsum... - Lilian!? – perguntou Dante. Sua voz era um sussurro, o encantamento ainda ressoava por toda a minha mente, como se fosse o plano de fundo dos meus pensamentos.    Eu estava atirada no chão da sala, completamente tonta e desorientada. Meu corpo doía. Eu tentava respirar, mas meu coração batia forte demais, eu sentia um peso em meu peito. Eu olhei para Dante e lhe dei um t**a. - O que estava pensando quando me mandou para aquele mundo? Você é tão... c***l. - O que? Não te mandei pra lugar nenhum, eu apenas chamei a Kaissa para fora. Era pra você ficar desacordada. - eu o olhei sem ainda acreditar. - Pois é. Mas eu não estava apenas desacordada. O que aconteceu aqui? - Bem, parece que teremos que encontrar um velho amigo seu. Hanaã. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -   Já haviam passado duas semanas e eu estava ignorando os telefonemas de Dante. Paul me mandava mensagens dizendo estar preocupado, e até meu irmão bateu na porta do meu quarto perguntando se eu ainda estava viva. Sara foi me visitar, mas eu disse para ela ir embora, pois eu queria ficar sozinha. Mas ela não foi... - Você não pode fugir do que você é. - O problema é que eu não sou isso, eu não pedi pra ter um ser dentro de mim. Eu... Odeio a ideia de que toda vez que sonho com o passado dela... Ela possua meu corpo. Quando acordo já se passaram horas! E pareciam minutos... Tem sido cada vez mais frequente isso. Eu não aguento mais. - Lilian, nós podemos te ajudar... É só você... - O que? Esperar? Não tenho tempo. Eu passo dias em claro tentando não sonhar com aquilo. Mas do nada eu caio dura no chão e sou obrigada a permanecer assim. E quando acordo estou em outro lugar, fiz coisas que não fui exatamente eu. – eu a olhei e a vi tentando sorrir. - Tem um monstro dentro de você querendo sair. Mas somos seus amigos e vamos lutar por você até o fim. - Amigos? Amigos não mentem Sara. - Se você ainda está falando do Jack.... - Sim, eu ainda estou falando sobre ele. Ele era o amor da minha vida, você me viu sofrendo por causa dele.  Quando eu comecei a chorar novamente, ela me abraçou forte e tentava me fazer sentir melhor. - Será que ele chegou a me amar? - Acredito que sim, já que ele teve que ser enfeitiçado para esquecer como era o sentimento. Foi muito difícil para ele também.   Eu me afastei dela e afastei as lágrimas. - Ele o que? Por que eu sempre descubro algo novo com vocês?  - Ele não queria se separar, a ligação que vocês tinham era estranha e sem limites, ele ficou muito agarrado, Dante achou por bem separá-los.  - Isso não faz sentido nenhum, por que não poder se relacionar com pessoas normais? - Porque este não é o nosso destino.   Sara se ofereceu para dormir na minha casa e eu disse que tudo bem. Quando eu estava quase adormecendo, meu celular tocou. - Alô? – disse meio sonolenta. - Lilian... desculpe ligar essa hora. - Tudo bem, Derek. O que foi? - Não durma esta noite, você não pode dormir. – tirei o telefone do rosto e olhei o visor, sim, era ele mesmo me ligando. - O que quer dizer? Por que não posso dormir? - Só não durma... – e desligou.   Me levantei da cama ainda grogue e caminhei até o banheiro. Fiquei me encarando no espelho por um longo tempo. Eu me achava uma pessoa atraente. Tinha uma pele morena, olhos azuis e cabelos escuros. Meus cachos eram cortados na altura do queixo e meu sorriso era muito bonito. Pisquei duas vezes e liguei a torneira, jogando fortes rajadas de água no rosto. - Um, dois, três...   Peguei a toalha rapidamente e enxuguei minha face. Olhei ao redor, mas não havia ninguém. As luzes do banheiro começaram a piscar assim que a porta do banheiro se fechou atrás de mim. Corri até ela, mas já estava trancada. Eu me jogava contra ela, socava, batia, mas parecia que ninguém do lado de fora conseguia me ouvir. Olhei para trás e fiquei de costas para a porta. - Quatro, cinco, seis... – uma risada ecoou por todo o banheiro. - Quem é você?! – gritei. Outra risada. - Um a um... Você vai esquecer.   Uma forte dor percorreu por todo o meu corpo e eu me apoiei na pia tentando respirar melhor. Minha cabeça girava. Quando levantei o rosto e me olhei no espelho a luz apagou, mas mesmo estando tudo escuro eu conseguia me ver. Não era eu. A menina no reflexo tinha longos cabelos vermelhos e sorriu para mim... Logo depois eu apaguei.   Acordei na manhã seguinte deitada em minha cama. Sara estava sentada ao meu lado. - Bom dia. – eu disse com dificuldade. Ela balançou a cabeça em negativa. Ela tremia e me olhava com muita insegurança. Eu suava frio quando tentei me ajeitar na cama de forma que ficasse sentada e apoiado no travesseiro. - Você dormiu dois dias, Lilian. - eu arregalei meus olhos para ela. - Eu tentei ligar para o Dante, mas ele não atendeu. Eu te encontrei no banheiro, estirada no chão. Chamei seu irmão para me ajudar a te por na cama, mas você não acordava de jeito nenhum. Nós íamos te levar pro hospital, mas... - Mas o que? – ela me olhou e depois desviou o olhar. - Mas a Kaissa mandou eu me afastar de você. Liguei para o Derek, ele xingou horrores quando eu disse que você estava desacordada, ele teve seus contratempos, mas está a caminho. - eu a olhei com meu olhar de dúvida e levantei uma sobrancelha.  - Sara? - ela me olhou e eu sorri sem jeito. - Quem é Dante, ou Derek? Eu deveria saber?– o olhar de Sara era assustador. Ela se levantou da cama e se afastou de mim. - Você não lembra deles? – a pergunta parecia óbvia. - Eles quem? Não conheço qualquer um desses dois nomes.    Derek quando chegou me fez meditar durante horas. Sara foi pra casa e disse que me ligaria sempre pra saber se eu havia me lembrado de algo. Eu não sabia o que era aquilo, não sabia o que estava acontecendo, nem me lembrava de como a havia conhecido, mas confiava naquela garota como se fosse minha mãe. Ele me instruiu a fazer vários rituais, me deu pedras, "transferiu sua energia" para mim, mas nada deu certo. Pra mim aquilo era bizarro demais. Até que um dia, Sara me ligou e eu também não a reconheci. Ela disse que ia à minha casa e eu respondi que se ela tentasse invadir eu chamaria a polícia, e assim foi. Eu esqueci todos os amigos que eu supostamente tinha. Esqueci sobre a magia, sobre energia. Esqueci minha própria história. Um dia, uma mulher bateu na minha porta e disse que precisava falar comigo. - Me chamo Ágatha e você precisa da minha ajuda. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
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