Capítulo 6 - Sincronia
985 Words
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Passei horas conversando com Ágatha, a mulher misteriosa. As duas sabiam medir mudanças saudáveis que não afetavam no humor e nem a si mesmas, era uma sincronia perfeita. Ninguém saberia dizer quem é quem sem que elas dissessem. Já comigo e com Kaissa era bem mais difícil. O descontrole. Parecia que o tempo todo ela queria estar presente, o tempo todo queria meu corpo só para ela. Mas certo dia, nós paramos para conversar.
- Por que você me fez esquecer dos meus amigos e me fez ficar lembrando o seu passado? – perguntei durante uma meditação. Nós duas estávamos sentadas, uma de frente para a outra dentro da minha cabeça. Kaissa tinha um olhar afiado, como se não quisesse que eu estivesse ali, olhando para ela com seriedade.
- Eu precisava que você soubesse o que eu era, que eu estava aqui e que precisava da sua ajuda. Seus amigos estavam querendo apenas te ajudar e se livrar de mim. É sobrevivência. Eu fiz o que era necessário.
Eu semicerrei meus olhos para ela e ela sorriu. Eu também acabei sorrindo no final de tudo. Eu me sentia bem, eu estava tentando o equilíbrio e em primeiro lugar eu devia aprender a amar cada pedaço de mim e – querendo ou não – Kaissa agora era uma parte de mim. Ela não era uma pessoa r**m, era seu próprio extinto dizendo o que fazer. Mas seu extinto era o de uma lutadora, predadora e além de tudo passou anos fugindo, sendo assim possuía um extinto de fugitiva. Parecia mais fácil pra ela fugir do que ficar e ver o que acontece.
- No início, é verdade, eu queria me livrar de você. Passei vida após vida procurando meios de ter um corpo só para mim para que eu pudesse encontrar as pessoas certas e sair daqui. – dizia ela. – Mas acabou que eu encontrei você e você me encontrou. Somos como irmãs, Lilian. Uma é o reflexo da outra só que em mundos diferentes.
Ela tentava me explicar de maneiras bem fáceis para a minha compreensão e eu tentei ao máximo me esforçar para entender cada detalhe. Nós tínhamos a ligação que ela nunca se permitiu sentir, pois estava cega demais procurando meios de me destruir.
- Na teoria uma mente que não tem lembranças acaba não tendo consciência, nem sentimentos. Você seria apenas um frio na minha barriga e eu poderia usar seu corpo como se fosse meu e você pensaria que eu sou você, pois você só possuiria as minhas lembranças.
De certo modo aquilo tudo me deixava extremamente apavorada. Se eu tivesse parado de lutar, ou se Celene não tivesse batido em minha porta, eu poderia agora estar praticamente morta, por que eu não existiria mais, basicamente. Eu a observava enquanto me contava tudo, mas eu sentia que ainda faltava alguma coisa.
Um frio em minha barriga me fez notar uma coisa...
Me levantei e sai de minha meditação. Eu ainda a podia ouvir dentro de minha cabeça, se fechasse meus olhos eu a podia enxergar. Estava ficando muito forte aquela ligação, pois nós duas estávamos nos permitindo conhecer e confiar. Peguei meu celular e disquei o número de Sara, uma voz na minha cabeça perguntou "Tem certeza?" e eu apenas cliquei na tecla do call.
- Lilian? – perguntou a voz do outro lado da linha. – É você?
- Sara... – sussurrei. – Preciso da sua ajuda.
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