O Espelho Escondido
Caio suspirou pela décima vez naquele dia. A escola estava mais chata do que nunca, e ele sentia o peso da monotonia pairando sobre ele. A vida não era exatamente difícil, mas também não era empolgante. As aulas, os professores, os trabalhos... parecia que tudo o levava ao mesmo lugar. E, para piorar, ele não conseguia parar de olhar para Isadora, sua amiga desde a infância, e se perguntar como tudo havia mudado entre eles. Agora, com 16 anos, o que antes era uma amizade descomplicada tinha se tornado algo diferente. Cada olhar, cada sorriso dela o deixava nervoso.
“Ei, Caio!” Tomás, seu melhor amigo, deu um leve t**a em suas costas, tirando-o dos pensamentos. “Você tá perdido no mundo de novo, cara? Tá apaixonado, é isso?”
Caio deu um sorriso f*****o. “Ah, para com isso. Tô só... pensando na excursão de amanhã.”
Tomás ergueu uma sobrancelha e soltou uma risada. “Sério? Pensando na excursão pra uma caverna velha e empoeirada? Você não consegue nem esconder direito, tá na cara que é outra coisa.”
Ele estava certo, é claro, mas Caio preferiu mudar de assunto. “Tá, tá. E você? Animado?”
Tomás deu de ombros, casual como sempre. “Vai ser legal sair da rotina, né? Sem contar que a Letícia vai estar lá.”
Caio riu. “A garota nova? Achei que ela não era seu tipo.”
“Ela é misteriosa, cara. E eu gosto de um mistério.”
Os dois amigos continuaram caminhando pelos corredores, discutindo sobre a excursão e as últimas fofocas da escola. Caio tentou não olhar muito para Isadora, que conversava com as amigas perto do armário, mas seu coração teimava em bater mais forte toda vez que seus olhos a encontravam.
Na manhã seguinte, o g***o da escola se reuniu nos ônibus para a excursão à caverna de Cristálion. O lugar era famoso por suas formações cristalinas e por ser um ponto turístico, mas, para os alunos, a maior empolgação era fugir da rotina escolar.
Caio, Tomás, Isadora e Letícia se sentaram juntos no fundo do ônibus. O clima entre eles era descontraído, mas havia algo no ar que Caio não conseguia definir. Talvez fosse a forma como Letícia parecia sempre observadora, quieta, como se soubesse mais do que falava.
Quando chegaram à caverna, os professores explicaram as regras e começaram a guiar os alunos pelas passagens estreitas e escuras. Os cristais brilhavam fracamente nas paredes, e Caio admitiu para si mesmo que o lugar era, de fato, fascinante.
Foi então que aconteceu.
Enquanto o g***o caminhava por uma passagem mais estreita, Caio ouviu um som metálico e o chão sob seus pés cedeu levemente. Antes que pudesse reagir, ele, Isadora, Tomás e Letícia despencaram por uma pequena f***a escondida na lateral da caverna, caindo em um túnel que parecia não ter fim.
O impacto não foi tão forte, mas a escuridão ao redor deles era quase total.
“Todo mundo bem?” Caio perguntou, sentindo o coração disparar.
“Eu tô”, respondeu Isadora, a voz um pouco trêmula.
“Que d***a, o que aconteceu?” Tomás resmungou, se levantando.
Letícia, estranhamente calma, apenas olhava ao redor. “Isso... não é parte da excursão.”
Quando Caio finalmente se levantou e seus olhos se ajustaram à escuridão, ele viu algo brilhando ao longe. Era um brilho suave, prateado, quase hipnotizante.
“O que é aquilo?” Isadora perguntou, apontando para o brilho.
Sem pensar muito, o g***o seguiu na direção do estranho brilho. Quando chegaram mais perto, eles perceberam que o que tinham visto era um espelho – mas não um espelho comum. O objeto era enorme, com mais de dois metros de altura, envolto por uma moldura de pedra incrustada de runas antigas. A superfície brilhava com uma luz que parecia pulsar suavemente, como se estivesse... vivo.
“Isso não deveria estar aqui”, Letícia murmurou, sua voz carregada de uma seriedade que Caio nunca havia ouvido nela antes.
“É só um espelho... certo?” Tomás aproximou-se, hesitante.
“Eu não colocaria a mão nisso”, advertiu Letícia, com um tom mais sombrio.
Caio, no entanto, sentiu uma força irresistível. Antes que alguém pudesse detê-lo, ele estendeu a mão e tocou o vidro.
E então, o mundo ao seu redor mudou.
O ar ao seu redor ficou denso, e ele sentiu como se fosse puxado para dentro do espelho. Em um instante, ele e seus amigos foram tragados por uma onda de luz. Caio sentiu como se estivesse flutuando, e então... silêncio.
Quando abriram os olhos novamente, não estavam mais na caverna.
O lugar em que estavam agora era como nada que eles já tinham visto. Um céu estrelado se estendia acima deles, com cores que dançavam em tons de roxo e azul. Ao longe, castelos flutuavam entre nuvens douradas, e uma floresta escura e densa cercava o local onde estavam. Criaturas brilhantes voavam ao redor das árvores, e o ar estava impregnado com uma magia palpável.
“Onde... estamos?” Isadora perguntou, a voz cheia de espanto.
Letícia olhou ao redor com uma expressão estranha, como se finalmente entendesse algo. “Bem-vindos a Aelmor.”
Caio sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas uma coisa era certa: a vida que ele conhecia nunca mais seria a mesma.