(Maranhão – Janeiro de 2017)
- Deu negativo, graças a Deus! _ A loira fala ao suspirar aliviada.
- Você tem muita sorte, garota. _ André fala aliviado também.
- Certo, já sabemos que não tenho nenhuma doença, isso nos leva a dois problemas.
- Quais?
- Nossa mãe e Patrícia.
- Você ainda está nessa? Namoro de internet não dá certo, Andressa.
- Não fale por mim, eu não sou você.
- Ok, ok, mas o que me preocupa é nossa mãe, você está ferrada.
- É, mas não tem jeito, tenho que falar com ela.
- Sim, se fosse você fazia isso logo.
Eles se encaram e a garota respira fundo. Não tinha para onde correr, era uma realidade. Estava no terceiro semestre de Letras e grávida, se sua mãe não enfartasse chegaria bem perto disso.
- Vou fazer agora! _ A loira diz decidida ao se levantar da cama. O irmão a encara, surpreso.
- Você pirou?
- André, eu tenho que dizer, tenho dezenove anos, grávida de sabe-se lá quem e pronta para morrer se for preciso pelo meu filho.
- Quem ver você falando até acredita que tem neurônios aí.
- Não me subestime, eu que passei no vestibular da UFMA, não você, seu cabeça de vento.
- Você sabe que direito é muito mais difícil que Letras.
- Se é tão difícil, então faça algo que você saiba, que sua mente saiba, não tente algo extravagante e depois passe vergonha.
- Sem sermão agora, eu já disse que farei de novo em outra área, vou pensar, mas você estava falando sério?
- Sim, vou dizer a ela agora.
- Vou começar a rezar por você desde já.
O rapaz diz sorrindo ao se jogar na cama. A loira respira fundo e sai do quarto indo em direção a sala de livros que tinha na casa, sabia que aos sábados e domingos a mãe se trancava ali e nesse sábado não era diferente.
- Mãe.
- Entre, Andressa!
Maria Ferraz, uma mulher dedicada e aplicada que sempre pregou a responsabilidade para os filhos. Formou-se em magistério com vinte anos, depois foi só ingressando e progredindo nos estudos, hoje tem doutorado em Língua Portuguesa e é o mesmo caminho que sonha para a filha. A mulher fazia parte da academia Maranhense de Letras e já recebera muitos prêmios por honra e capacidade dentro e fora do Estado. Com seus cinquenta e dois anos, dona de lindos cachos loiros iguais aos da filha, ainda era considerada muito bonita, principalmente por sua pose de mulher séria.
- Quero falar com a senhora. _ Medo já era presente na voz da garota e isso não passou despercebido pela mãe. A mulher tira seus óculos e os coloca em cima do trabalho de mestrado de uma aluna que ela analisava sob a mesa.
- Da última vez que me disse isso, foi para me informar que gostava de mulheres.
- Eu...
- Não enrola, Andressa, qual é a besteira da vez? _ Ela olha dura para a filha.
- Eu sei que vai querer me m***r depois que eu falar, mas não tem jeito simples ou agradável de dizer isso... _ Andressa puxa o ar e solta de uma vez. – Eu estou grávida.
A mulher não se move, não diz nada, não desvia o olhar, não grita, até porque Maria Ferraz não é disso, apenas encarava a filha muito intensamente.
- Mãe, você me escutou?
- Claro que sim, Andressa, eu não sou s***a!
- Eu merecia essa. Então...
- Vamos lá, deixa ver se eu entendi. Um dia você chega em minha sala toda decidida, dizendo que gosta de mulheres, o que me deu um baita susto, agora, você me diz que está grávida. Devo ser muito vulgar ao dizer que dedos não fazem filhos? Ou esse tipo de ironia não será necessária porque você tem uma boa explicação para essa situação deplorável?
- Eu... claro que não foi uma garota que me engravidou!
- Isso é óbvio, Andressa! E pelo que conheço de você, posso estar me precipitando, mas arrisco a dizer que você não sabe quem é o pai. Acertei? _ A menor abaixa a cabeça e assente, por um momento sentiu vergonha. – Então me fale o que aconteceu. _ Ela levanta da cadeira e se vira para a janela, encarando as pessoas passando com seus carros apressadas.
- Foi... uma festa, eu saí, bebi demais e conheci um casal, aí nós... eu não vou falar disso com você, mãe, nós saímos e aconteceu. Não sei quem são, acho que eram turistas, pois estavam no hotel que foi onde acordei no dia seguinte.
- Eu sei como se faz um filho, Andressa, mas o que não consigo entender é, se você é gay, não gosta de homens, como foi parar em uma cama com um? _ Ela fala ainda sem se virar.
- Não fui por ele, eu fui pela garota, mas como estávamos muito bêbados, aconteceu.
- Oh, então você transou com um desconhecido para agradar uma desconhecida? _ É, falando dessa forma soou bem ridículo. Odiava o senso se razão da mãe.
- É, basicamente isso. _ Então a mulher se vira e fica bem de frente à filha, a estudante já esperava pelo pior.
- Isso já é uma certeza?
- Sim, e também já até fiz exames de DST e não tenho nada.
- Pelo menos isso. E o que quer eu faça, garota?
- Eu não sei mãe, eu...
- Saia daqui, Andressa, eu preciso pensar. _ A professora universitária suspira.
- Você não vai me expulsar?
- Claro que não, menina, de onde tirou isso?
- Ah, meu Deus! _ Ela suspira forte. – Obrigada, mãe.
Andressa dá um beijo da bochecha da mulher e sai da sala. Maria sorri quando ver a filha saindo, no fundo era durona, mas amava aqueles dois, os únicos presentes que seu falecido deixou, além de uma boa poupança, mas agora era real, sua filha de dezenove anos estava grávida.
- Você tinha que puxar ao seu pai, garota, tinha que ser inconsequente e cheia de energia.
Diz ao se sentar na cadeira novamente e respirar fundo, o jeito agora era dar apoio, pois não deixaria a filha perder a vaga na faculdade que tanto lutou para conseguir. Andressa corre para seu quarto e desaba na cama ao lado do irmão.
- Olha só, você ainda está vida! _ Ele debocha.
- Por enquanto, querido irmão, por enquanto!