Fogo sob pressão

843 Words
A manhã chegou com um peso diferente. Não havia mais espaço para hesitações ou dúvidas. O telefone de Dom Carlo não parava de tocar, as vozes do outro lado carregavam notícias que nenhum dos dois poderia ignorar. Um escândalo estourara — algo grave o suficiente para ameaçar não só seu império, mas também sua recém-começada aliança com Eleonora. No escritório, cercado por homens que buscavam soluções rápidas, Dom Carlo manteve a expressão impenetrável, mas seus olhos revelavam a urgência. — O casamento tem que acontecer agora — ordenou, a voz firme, cortando qualquer resistência. Eleonora, ao receber a notícia, sentiu o mundo girar mais rápido do que podia acompanhar. Tudo o que estava acontecendo parecia um jogo c***l, uma trama onde ela não passava de uma peça. — Agora? — sussurrou, a incredulidade misturada com medo e uma ponta de revolta. — Não temos escolha — ele respondeu, aproximando-se —. Se esse escândalo vier à tona antes da cerimônia, será o fim de tudo. Ela sabia que ceder seria perder um pouco mais de si mesma, mas também entendeu que aquele era o preço da sobrevivência naquele universo impiedoso. Enquanto os preparativos aceleravam, o clima entre eles se tornava ainda mais intenso — uma mistura de tensão, medo e uma química que queimava por baixo da pele. Eleonora olhou para Dom Carlo e, pela primeira vez, não viu apenas o homem frio e calculista. Viu alguém que também estava preso no fogo da pressão, tentando manter o controle a qualquer custo. O relógio não parava, e o casamento, antes distante, agora era uma necessidade urgente — um véu de p******o contra tempestades que se aproximavam. A notícia do casamento antecipado correu como fogo seco pelos corredores da mansão. Dois dias. Era tudo o que tinham para transformar Eleonora numa esposa oficial — e Dom Carlo num homem aparentemente estável diante do escândalo que ameaçava tudo. Entre as reuniões apressadas, os ajustes do vestido e os seguranças dobrando o cuidado, ela não esperava vê-los. Mas lá estavam eles. Sua mãe entrou primeiro, os olhos marejados. Havia um silêncio pesado entre as duas, como se nenhuma soubesse por onde começar. O pai veio logo atrás, e o abraço dele foi como uma âncora no meio daquela tempestade. — Minha filha… — disse ele, a voz falhando. — Eu daria tudo para poder tirar você daqui. Mas você… você está salvando a todos nós. Eleonora segurou as lágrimas, o peito apertado. — Eu sei, pai. A mãe se aproximou devagar, e dessa vez não era a mulher fria que deu o adeus no portão. Era uma mulher destruída por dentro, tentando ser forte por fora. — Eleonora… — ela tocou a mão da filha. — Você ainda pode ter alguma escolha nesse lugar. Sei que ainda é virgem, mas… se puder, engravide logo. Um filho vai te dar segurança. Um filho dele. — Mãe… — Não estou dizendo isso para te prender mais. Estou dizendo para você ter algo que só ele possa te dar. Isso pode te proteger… se ele cair, se algo pior acontecer. Eleonora respirou fundo. Aquilo doía. Mas vinha de um lugar de amor. Amor em meio ao desespero. — Eu não queria isso pra você — disse a mãe, com a voz embargada. — Mas agora que aconteceu… lute. Lute como puder. Por você. O pai a beijou na testa. — Você é nossa filha. E é mais forte do que pensa. Quando os pais de Eleonora partiram, deixando a mansão cercada por flores, costureiras e tensão política, ela ficou parada no centro do quarto, com o coração latejando. Dom Carlo a observava da porta. Não disse nada no início. Apenas esperou. — Minha irmã… — disse Eleonora, com a voz baixa. — O tratamento dela parou duas vezes. Vocês sabem o quanto custa cada ciclo de quimioterapia? Porque eu sei. Eu contei os centavos antes de assinar esse destino. Ele entrou, os passos lentos e silenciosos como um predador. — Isso não é chantagem emocional. Nem drama. Eu só quero que você entenda… eu não sou sua prisioneira por fraqueza. Eu estou aqui por amor. Por ela. Pela minha família. Ele se aproximou, parando à frente dela, como sempre fazia. Mas havia algo diferente agora. Nos olhos. No silêncio. — Você quer que eu te respeite por isso? — ele perguntou, com a voz fria, mas mais baixa que o habitual. Ela o encarou, firme. — Não. Quero que saiba que eu não sou uma boneca vazia. E que se você me quiser ao seu lado, vai ter que me engolir inteira. Com minha dor, minha raiva, minha história. Dom Carlo tocou seu rosto com um dedo só. Um gesto quase gentil, se não fosse a tensão que ainda pairava entre os dois. — Você me dá ainda mais motivos para te querer, Eleonora. Ela não soube o que dizer. Nem como reagir ao arrepio que percorreu sua pele. Tudo em Dom Carlo ainda era ameaça. Mas agora… também era algo mais. Algo que ela não sabia nomear. Ainda.
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