Fiquei um tempo deitada, tentando me convencer de que não era real, que tudo tinha sido apenas um delírio febril. Mas bastava um leve movimento para o corpo lembrar, para a ferida dentro de mim arder, para o peito se encher de ódio e de vazio.
A casa estava em silêncio, um silêncio de gente que esconde cadáveres, um silêncio de quem não quer encarar o luto alheio. Ouvi vozes abafadas no corredor, passos apressados, o tilintar de louças distantes. O cheiro de café e pão fresco chegou até meu quarto, mas não senti fome, nem desejo de levantar.
Demorei para sair da cama. Só o fiz quando ouvi batidas secas na porta. Não era minha mãe. Era o mesmo segurança de sempre, o rosto impassível.
— Seu pai pediu que desça para o café. Tem visita marcada com os Ricci às nove.
A notícia caiu como uma
