Kayla
— Ei, me passe o café, sim? Lara me disse enquanto ia para a cozinha, bocejando.
— Como você pode precisar de cafeína depois de dormir tanto? Eu brinquei. — Você não deveria precisar de nada!
— Ei, você sabe que não funciona assim. Ela protestou. — Eu preciso dormir mais do que pessoas normais. Isso é quem eu sou.
— Ah, sim, entendi. Eu ri e servi-lhe uma xícara de café, dando a ela. Ela tomou um longo gole, agradecida, e sentou-se ao meu lado na mesa.
As manhãs eram minha parte favorita do dia. Eu poderia passar um tempo com a minha família, relaxar e me recuperar antes de todo o trabalho do dia. Normalmente eu me sentia calma, preparada para enfrentar qualquer circunstância que poderia vir. O trabalho nem sempre era fácil, mas, contanto que eu tivesse a minha irmã e o meu pai por perto, estava tudo bem.
— Você fez alguma coisa interessante ontem à noite? Ela perguntou enquanto se espreguiçava para pegar um pão fresco no balcão.
— Eu fiquei em casa. Respondi, e ela balançou a cabeça.
— Você deveria sair e se divertir mais. Ela me disse e revirei os olhos.
— Ei, eu saí há apenas alguns dias. Protestei.
— Ah, sim, e você voltou meia-noite, certo? Ela me lembrou. — Me desculpe se não estou totalmente impressionada com isso.
— É alguma coisa. Eu ri pegando o meu café. Claro, eu não mencionei o cara que deu em cima de mim no bar, embora ele estivesse na minha mente desde então. Havia algo nele que simplesmente... Eu estava atraído por não tendo sido capaz conversar com ele depois que ele se atreveu a me mandar uma bebida estava me deixando afetada. Eu gostei do jeito que ele olhou para mim, embora tenho certeza que ele só queria uma coisa. Mais, algo na maneira como ele se comporta, deixou claro que geralmente ele conseguia o que queria.
Mas isso foi há alguns dias e ele provavelmente já havia esquecido de mim. Eu não queria ficar obcecada pela memória de um homem que m*al vi. Teria sido uma loucura continuar pensando naquela pessoa que eu nem tinha falado. Mas ainda assim. Foi bom saber que alguém gostou do que viu, embora não fosse exatamente boa em fazer nada sobre isso quando outros fizeram isso.
Além disso, Lara também não teve muitos encontros. Ela teve um namorado com quem ela durou muito tempo, mas que terminou em um bagunça há alguns meses, e ela ainda estava lambendo as feridas. Não a culpo Algo assim pode realmente afetar você.
Ou pelo menos foi o que presumi, pela forma como ela reagiu. Eu nunca estive em um relacionamento. Talvez por alguns
semanas no ensino médio, mas isso m*al contava. Sempre fui muito ocupada com o trabalho, ajudando o meu pai a garantir o
negócio, pensando em coisas assim. E, além disso, como você pode saber em quem confiar? Havia caras lá fora que estavam mais do que dispostos a prosseguir com um casamento só porque pensaram que isso lhes daria uma chance de garantir um lugar em uma família criminosa como a do meu pai.
Falando no meu pai, ele ainda não tinha veio tomar café da manhã. Eu decidi ir procurá-lo no seu escritório para ver o que havia de errado. Normalmente ele nunca pula o café da manhã, e se tivesse alguma coisa a ver com a reunião de algumas noites atrás, eu queria estar consciente e pronta para ajudá-lo.
Caminhei pelo corredor, olhando as fotos na parede, todas elas são da nossa família, é claro, e especialmente da nossa falecida mãe.
Toquei uma das fotos dela, tirada pouco antes de morrer, quando eu tinha apenas sete anos.
Eu tinha mais lembranças dela do que a Lara, e ás vezes eu sentia tanta falta dela que doía.
— Estou com saudades de você, mãe. Sussurrei para a pintura antes de continuar ao longo do caminho do corredor do escritório do meu pai.
E então, ouvi algo.
O meu próprio nome.
Parei por um momento, me perguntando se eu tinha ouvido m*al. Não, lá estava o meu pai novamente dizendo o meu nome.
— Claro, teremos que ter certeza de que Kayla está bem com isso. Disse ele a quem estava do outro lado da linha, com a voz baixa e conspiratória. Dei um passo à frente, espiando pela porta, e encontrei ele de costas, conversando com alguém ao telefone.
— Sim, sim, tenho certeza que sim. Ele concordou com quem quer que fosse que ele estava falando.
Com quem ele estava falando? Ele não soava como sempre, estava quase como se ele estivesse tentando esconder alguma coisa. Por que ele estava falando daquele jeito?
— Eu sei, será para os livros de história. Ele riu. — Os Falcones e os Volkovs, unidos pelo sagrado matrimônio...
Senti um buraco no estômago, os meus joelhos começaram a tremer e querer dobrar. O que ele estava tentando dizer? Sobre mim, casamento e Família Falcone? Cobri a boca com uma mão para não fazer barulho, o choque quase me dominou naquele momento.
Engoli em seco e ouvi o resto da conversa. Eu não consegui pegar grande coisa, mas provavelmente foi porque o meu cérebro estava tão confuso que eu não conseguia pensar com clareza. O meu estômago revirou como se fosse vomitar. O meu pai não poderia estar falando em me casar, certo? Era impossível para ele fazer algo assim. Claro, ele não teria concordado sem falar comigo, pelo menos um pouco antes.
Não, nem teria ocorrido a ele me usar dessa maneira. Eu era preciosa para ele, as suas duas filhas eram, e ele fez todo o possível para
certifique-se de que sempre soubéssemos. Ele não nos teria me usado como propriedade, me casando por conveniência.
E tinha outro problema. Os Volkov eram os nossos inimigos. Isto existia desde que me lembro. A máfia russa e italiana não se davam bem e nós não éramos exceção. A inimizade deles existia desde que mamãe morreu, e às vezes eu me perguntava se o meu pai teria se vingado deles tão rapidamente por sua interferência no nosso território se ele não tivesse perdido apenas o amor da sua vida.
Mas isso foi... Isso era demais para ele me pedir. Não tinha dúvidas. Ele não podia esperar que eu esquecesse tudo o que tinha acontecido ao longo da minha vida, como fui criada para vê-los também como os meus inimigos para agora tratar eles como amigos, ou pior ainda, case-me com um deles. Estremeci com o pensamento. Deus, só de imaginar isso me deixou um pouco enjoada.
Logo, o meu pai encerrou a ligação e eu corri pela porta no momento em que o ouvi desligar o telefone.
— Com quem diab*os você estava falando?
As palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse impedi-las.
O meu pai virou-se, surpreso, com as sobrancelhas levantadas. A expressão no rosto dele me disse que ele não queria ser descoberto.
— Kayla, o que você está fazendo aqui… Ele começou, mas levantei a minha mão antes que ele pudesse dizer outra palavra.
— Responda a minha pergunta.
Ele fez uma pausa, claramente procurando uma saída para a situação em questão.
— Andrei Volkov.
Fechei os olhos. Eu esperava contra a esperança que não fosse ele, que não fossem eles, pelo menos, mas eu não iria escapar tão facilmente.
— E por que você estava falando sobre casamento com ele?
O meu pai suspirou e fez um gesto para que eu me sentasse.
— Acho que precisamos conversar.
Fechei a porta atrás de mim para ter certeza de que Lara não pudesse escutar isso. Eu não queria envolvê-la. Ela sempre foi um pouco distante dos negócios, e fosse o que fosse, eu sabia que ela não seria capaz de lidar com isso.