Sentei-me à mesa e Natália fez uma careta para mim.
— Por que ele te mandou uma bebida se fosse sair antes de falar com você? Ela perguntou em voz alta, e eu encolhi os ombros.
— Ele não parecia ter exatamente nenhuma intenção de ir embora. Observei. — Parecia urgente.
— Sim, mas isso não é motivo suficiente. Ela bufou, fingindo estar com raiva. Sabia que ela estava feliz por me ter só para ela, embora, na verdade, nunca admitisse. Muitas vezes eu queria flertar com algum cara em vez de focar nela, provavelmente porque eu nunca namorei ninguém em todo o tempo em que fomos amigas, e ela não soubesse como seria ter que me dividir com alguém.
Mas eu não precisava de um namorado. Eu só precisava manter a minha cabeça concentrada e ajudar o meu pai nos negócios, é a melhor coisa que eu poderia fazer.
Eu tinha certeza que acabaria conhecendo alguém e quando chegasse a hora certa, eu me acomodaria e me apaixonaria e faria tudo o que Natalia parecia querer que eu fizesse.
Olhei para a porta, meio que esperando que ele voltasse para o bar.
Eu não tinha certeza do que era, mas havia algo nele que me incomodava.
Algo quase... familiar. Como se eu devesse saber quem ele era, ou talvez logo saberia. Algo do tipo.
— Você ainda está pensando nele? Natalia me perguntou, e eu suspirei e balancei a cabeça.
Eu não poderia negar. Havia algo nele que eu gostava e não queria mais nada do que ir atrás dele e perguntar por que ele havia me mandado aquela bebida. O que teria acontecido se eu tivesse falado com ele? Ele teria me levado para casa? Teríamos ficado juntos?
Será que nós...? Ok, a minha mente estava começando a vagar em direções bastante perigoso. Peguei a taça de vinho que ele me mandou e bebi lentamente.
— Está tudo bem. Eu disse. — Pelo menos ganhei uma bebida grátis.
Embora dentro da minha cabeça eu desejasse ter conseguido muito mais.
Marco
O meu pai entregou-me um copo cheio de vodca. Eu bebi de um só gole e sentei-me na cadeira de couro em frente à sua mesa.
— Então. Eu comentei, levantando as sobrancelhas. — Deve ser algo sério se você está me dando vodca para me relaxar.
O meu pai riu brevemente. — Você me conhece muito bem, filho.
Ele comentou enquanto se sentava à minha frente. Quando penso no meu pai, Andrey Volkov, foi assim que eu o imaginei, com um copo na mão, no seu opulento escritório, as luzes baixas e os papéis espalhados sobre a mesa na frente dele. Administrando o seu império, garantindo que o mundo inteiro estivesse aos seus pés. Como se alguma vez houvesse alguma dúvida sobre isso.
— Então do que se trata? Perguntei.
Ele fez uma pausa. O meu instinto entrou em ação imediatamente. As suas dúvidas naquele momento me fizeram me fez pensar que ele provavelmente não tinha certeza de como falar comigo sobre o que ele queria falar comigo.
O meu pai sempre foi honesto comigo. Era simplesmente a nossa forma de trabalhar. Desde que ele era adolescente, ele tinha sido um feroz defensor do seu reino, eu sabia que um dia tudo dependeria de mim e eu teria que avançar e fazer o que for preciso para fazer os negócios continuarem como estão.
Tínhamos inimigos por toda a cidade. Inimigos que eu tive que lidar apenas algumas noites atrás, e isso significava que sempre tínhamos que estar em alerta máximo, prontos para enfrentar qualquer um que tentasse entrar nos nossos negócios.
— Tenho uma proposta para você, filho. Ele explicou, e inclinou-se para frente e cruzou as mãos na frente dele.
— Qual é?
— Eu só quero que você me escute. Ele avisou, tentando me preparar para o que quer que ele fosse dizer a seguir.
— Estou ouvindo. Assegurei-lhe, levantando as sobrancelhas, indicando para ele continuar.
— Recentemente estive em contato com a família Falcone. Ele admitiu. Respirei profundamente. Esse era um nome que eu não esperava ouvir.
— O que você está fazendo conversando com eles? Eu perguntei. Os Falcões sempre foram uma pedra no sapato do meu pai por quase duas décadas.
Ele confrontou Oliver Falcone por um território que ambos acreditavam ter direito. Houve muitas escaramuças desde então, e eu não conseguia imaginar que o meu pai não tivesse nada para conversar com aquele homem.
— Esta guerra entre nos já dura muito tempo. Ele continuou.
— Somos ambos veteranos no jogo. Há vários anos, e não queremos passar isso frente a frente. Não se pudermos evitar isso.
— Você nunca teve problemas com isso antes. Eu murmurei me servindo de outra bebida enquanto tentava ter uma ideia do que o meu pai estava falando. Os Falcones? De verdade? Depois de tudo o que aconteceu, tudo o que tínhamos passado com eles? Depois de todo o derramamento de sangue? Ambos os lados procuravam agora uma forma de chegar a um acordo?
Não fazia sentido para mim e eu não conseguia entender o que o meu pai estava pensando quando ele decidiu isso.
— Como você sabe que pode confiar neles? Eu perguntei, levantando o meu olhar para encontrar o do meu pai. — Não me diga que agora você está suavizando, deixando as pessoas entrarem quando elas não nos causaram mais que problemas.
— Porque eles nos ofereceram algo ótimo. Explicou ele, o seu rosto crescendo mais sério. — Algo que eu sei que eles não estariam dispostos a colocar em jogo a menos que eles realmente quisessem que isso acabasse.
— O que é?
Ele não respondeu imediatamente e então pareceu mudar de assunto para algo completamente diferente.
— Temos que pensar no futuro deste negócio. Ele explicou.
— Estou sempre pensando nisso. Lembrei-lhe bruscamente. — Eu nunca esqueci. Por que você acha que trabalho tanto para você? Para esta família.
— Eu sei que sim, filho, e agradeço tudo. Ele responde. — Mas o futuro que estamos construindo é muito mais do que apenas você.
— O que quer dizer? Eu perguntei confuso. Eu era filho único. Ninguém tinha direito ao trono de meu pai, exceto eu. E eu não ia
deixar alguém atrapalhar o que eu trabalhei toda a minha vida para alcançar.
— Quero dizer. Ele começou, passando a mão pelo cabelo. — Você tem que pensar em ter a sua própria família.
Eu gemi e sentei no meu lugar. Isso de novo. Quantas vezes teríamos que passar por isso? Eu não estava interessado no momento em me estabelecer com alguém. Eu estava perfeitamente feliz com a minha vida atual. Apenas porque ele se casou jovem e me teve com vinte e poucos anos, não significava que eu tenha que fazer isto. Eu tinha quarenta anos agora e nunca havia sentido a necessidade de parar e focar a minha atenção em encontrar alguma mulher com o qual passarei o resto da minha vida. Talvez teria sido mais fácil para ele se eu tivesse feito isso, mas não encontrei a mulher com quem queria estar.
Não por mais de uma noite, pelo menos. Eu nunca tive problemas em arrumar garotas para isso, apenas uma noite divertida juntos.
Nisso eu sempre me sai bem: sabia o que estava fazendo quando se tratava de ver uma mulher num bar, flertar com ela, pagar uma bebida para ela e depois conversar com ela de forma sedutora a noite toda, até que ela caia na cama comigo, incapaz de resistir por
mais tempo. Na verdade, era um dos meus passatempos favoritos, a melhor maneira de desabafar depois de uma longa semana de trabalho nos negócios do meu pai.
Eu não tinha tempo para uma esposa ou um filho e não mudaria a minha opinião sobre o assunto apenas porque o meu pai parecia ter decidido que era hora de eu fazer isso. Claro que teria tornado a vida dele mais fácil saber que eu estava garantindo o futuro da nossa família com um filho meu, mas, tive que aceitar que o meu estilo de vida simplesmente não funcionava assim.
— Já conversamos sobre isso. Eu disse a ele. — Não estou interessado em me estabelecer. Com ninguém. Estou feliz do jeito que as coisas estão.
Ele não responde.
— Então, o que isso tem a ver com a família Falcone? Eu pressionei. — O que eles ofereceram a você que fez você ter tanta certeza de que queria trabalhar com eles, depois de todo esse tempo?