Episódio 1
Alice
Olhei impacientemente pela janela para ver se o carro do meu marido finalmente chegaria à propriedade. Eu estava impaciente, porque David havia prometido que finalmente ficaria mais tempo dessa vez e que tentaríamos fabricar aquele herdeiro que ele tanto desejava e com que eu sonhava todas as noites, que passava quase sempre sozinha.
Pode parecer muito estranho, mas apesar de todo o amor que tínhamos um pelo outro, David e eu nunca havíamos feito amor. Os nossos empregos e as suas diversas viagens impossibilitaram que houvesse uma oportunidade. Uma parte de mim tinha suspeitas horríveis de que eu não significava nada para ele, mas então eu preenchia os detalhes e esquecia.
Para minha decepção, descobri que ele ainda não havia chegado, então afastei-me da janela com um suspiro. Hoje foi nosso segundo aniversário e também um ótimo momento para engravidar, segundo o meu médico. Era só uma questão de ele aparecer, fazer amor, e as coisas provavelmente dariam certo. Não havia 100% de certeza de que conseguiríamos engravidar na primeira tentativa, mas tanto a minha saúde quanto a dele estavam perfeitas, então não seria tão estranho que isso acontecesse neste mês ou no próximo.
Eu só esperava que David não precisasse mais sair, que ele realmente quisesse ficar, agora que o mercado imobiliário estava estabilizado e ele não precisava mais viajar tanto.
Voltei para meu enorme camarim e fui pegar aquele conjunto de renda que eu queria usar hoje à noite, que eu usaria por baixo do vestido. Tudo foi cuidadosamente escolhido para a ocasião, exceto o jantar. Eu estava tão desesperada que nem me preocupei com isso, mas quis ser mais direta. Ano passado fiquei esperando com velas derretidas e um jantar frio, mas esse ano não seria assim.
À medida que o sol se punha, eu arrependia-me cada vez mais de não ter preparado algo para comer, então desci para pedir a Janice, nossa cozinheira, e a Amira, a sua filha, que preparassem algo. Este último sorriu docemente para mim e me ofereceu várias opções. Além de bonita, ela era muito inteligente e gentil. Então, o meu marido e eu decidimos que eu deveria ir para a prestigiosa escola de culinária que ela queria frequentar. Mesmo assim, ela estava muito grata e trabalhava em casa no seu tempo livre.
— Muito obrigado. Eu disse a ambas. — Espero não ter incomodado vocês.
— De modo algum, Sra. Hawthorne. Respondeu Janice. — Estamos ao seu dispor.
— Não sei o que faria sem vocês.
Mãe e filha olharam uma para a outra com um sorriso e depois para mim.
— Não diga isso, você é a melhor chefe que poderíamos desejar.
— E o Sr. Hawthorne também. Amira acrescentou, corando.
Ignorei a pontada de ciúmes que senti e agradeci novamente. Amira era uma mulher linda, mas ainda jovem o suficiente para que o meu marido a notasse. Pelo menos foi nisso que escolhi acreditar para não me preocupar. Além disso, ele nunca olhou para ela de forma estranha, nem eu notei nada de estranho na interação deles.
Voltei para o meu quarto, pronta para me perfumar novamente e retocar a maquiagem. O meu coração batia forte, cheio de emoção, que não diminuía, mesmo com uma vozinha na minha cabeça me pedindo para voltar à realidade, que talvez ele não chegasse.
Para tentar me acalmar, deitei na cama e olhei pela janela. Contra o travesseiro, eu conseguia ouvir o meu próprio batimento cardíaco e a minha respiração, que ficava mais lenta à medida que eu relaxava.
E de repente adormeci.
Quando abri os olhos, percebi que estava escuro e o céu azul estava preto.
— Ah, não. Murmurei, sentindo o meu coração disparar e levantando-me abruptamente.
Corri para a janela e naquele momento um relâmpago iluminou a entrada da casa.
O carro do meu marido estava lá.
— David. Eu suspirei, animado, mas também me sentindo culpada por ter adormecido.
E se ele me visse assim e fosse embora para não me incomodar?
Ainda esperando que não fosse tão tarde da noite, preparei-me. Eu não queria olhar para as horas por nada no mundo, embora tivesse um despertador na minha mesa de cabeceira. Nesse ponto, eu faria de tudo para salvar o meu casamento, ou pelo menos melhorá-lo. Todo o meu ser ansiava por ser sua mulher, e eu me recusei a perdê-lo, não provando a ele que eu poderia ser mais do que apenas uma esposa amorosa e dedicada.
Tremendo de nervosismo e frio, saí do quarto. Inspirei o cheiro do meu marido e sorri. Ele estava perto.
Como um cachorrinho, segui o rastro do seu cheiro viciante e masculino, que não me levou a nenhum cômodo, mas sim descendo as escadas. Talvez ele estivesse na sala de estar lendo, como eu costumava encontrá-lo. Ele me dizia para dormir e abraçava-me até eu dormir, mas dessa vez, se necessário, eu me jogaria em cima dele e veria se era verdade que ele estava morrendo de desejo por mim.
Quando cheguei ao último degrau, respirei fundo e fui para a sala de estar. Ele não estava lá.
— Onde será que ele está? Sussurrei.
Virei-me para olhar na cozinha, mas também não estava lá. Mesmo assim, fui lá.
Foi aí que ouvi barulhos. Ao lado da cozinha havia um corredor que levava aos quartos de hóspedes ou onde os funcionários ficavam quando não podiam ir para casa. Hoje, Amira ficou para fazer algumas tarefas, mas Janice não, então fiquei surpresa ao ouvir barulhos. Não, não são barulhos, e sim gemidos.
Tremendo novamente, caminhei lentamente em direção ao corredor. Mais uma vez, um pensamento horrível atingiu a minha cabeça e pensei em voltar. No entanto, outro gemido me fez mudar de ideia.
Apesar de não querer saber de nada, as minhas pernas moveram-se lentamente pelo corredor, em direção a uma porta entreaberta.
— Eu te amo, eu te amo muito. Amira gemeu.
— Cale a boca. Disse uma voz masculina, ofegante.
Coloquei as mãos sobre a boca para não gritar. Era ele.
Quando olhei para e senti o cheiro do meu marido, pude confirmar.
Em meio à pouca iluminação, os dois corpos se moviam com verdadeiro desejo. Ele passou as mãos nas costas dela, enquanto ela o cavalgava com uma habilidade que me surpreendeu para uma garota estudiosa e meiga.
— Eu quero você. Ele declarou. — Eu te quero tanto. Você me deixa louco.
— E eu você. Eu te amo, David.
Ambos rosnavam como feras selvagens, com fome, suor e devoção, algo que ele nunca me daria.
Não sei se foi choque, mas nenhuma lágrima saiu dos meus olhos, e afastei-me lentamente da porta com os olhos arregalados.
Eu não queria chorar, apesar da dor enorme que me dominava e do fato da minha alma estar se despedaçando.
Tirei os saltos e caminhei lentamente de volta para o meu quarto, que eu ocuparia apenas por um curto período, durante o qual eu encerraria esse romance idílico a qualquer custo.
Naquele momento, descobri o ser ressentido e cr*uel que vivia dentro de mim.
— Você me amará, David. Sussurrei na escuridão. — E quando isso acontecer, eu vou te deixar na miséria.