_ Pai você achou ela?
Como se não bastasse o papai me ver nessa situação o i****a do Biel tinha que ver também, desgraça. Percebi então que ainda me encontrava somente com o biquíni de frente para ambos, me abaixei pegando a peça de roupa que estava jogada no canto do banheiro próximo à porta, na verdade, o meu vestido estava aos pés do meu pai, vendo como exitei em pegar a peça largada no chão papai pegou para mim. Lorenzo estava de cabeça baixa ao meu lado enquanto recebia olhares de morte tanto do Biel quanto do Ryan, era mesmo uma merda.
_ Não quero saber de nada agora, vazem, os dois _ A voz grave do Ryan mostrava como ele estava stressado, nos olhamos e quando iríamos sair fomos parados pelo braço dele na porta _ Só você vai sair Bruna, o Lorenzo fica.
_ Mas....
_ Tá tudo bem Bruna, eu esqueci de trancar a porta então eu fico, só vamos conversar _ A sua voz era calmante, mas ainda assim não conseguir ficar tranquila, sei muito bem como o papai e o Biel resolvem as coisas. _ Vou ficar bem, vai la e guarda um lugar para mim.
Olhei entre os três presentes e passei o vestido pelo pescoço e braços antes de sair definitivamente da área, não queria deixar o Enzo sozinho, mas não posso fazer nada, não agora. Bufo frustrada com a situação e volto para a cozinha, porque diabos o Lorenzo não trancou a porta.
Idiota.
Me sentei ao lado da tia Nathalia e o Gustavo logo se sentou ao meu lado, não tem nem como guardar um lugar para o Lorenzo, não sei se vão demorar la dentro, então fiz um prato simples com bastante salada e pouca carne, não estava com uma gota de fome hoje. Vai ver porque ta chegando a data do meu término, ou melhor, a data de quando fui resgatada do meu cativeiro. Engoli o bolo que se formou na minha garganta e me pus a comer, mesmo que forçada, eu ainda comi. Comi porque lembrei de quando me foi negado, de quando sofri por dores estomacais tão fortes ao ponto de querer morrer, comi porque a única forma do meu corpo saber que não estou mais naquele lugar terrível é a comida, não me deixaria cair num buraco sem fim e sem cordas para me resgatar, minha alma imunda e meu corpo amargo não me levariam para aquela época de novo. Não iria permitir.
Não sei o momento exato em que todos saíram da mesa, também não me importei em quem entrava e saia da mesma, eu ainda nem cheguei a metade da salada e nem comi a carne que dispus ao lado, o embrulho no meu estômago cresceu em níveis drásticos enquanto forçava a comida para dentro, a minha garganta parecia estar tapada, não havia passagem para o alimento que estava na minha boca. Lágrimas brotaram nos meus olhos, mas não me permitir chorar, não agora, não quando eu cheguei tão longe para esconder o quão quebrada eu estou, não quando eu ja sacrifiquei tudo o que sobrou de mim para voltar a ser a garota leve e descontraída que a minha família ama. Enchi um copo com suco e comecei a engolir a pulso a comida na minha boca, a cada vez que eu tomava um gole de suco para poder engolir em seguida vinha uma colher cheia de salada, e quando o prato restava apenas duas colheradas eu não aguentei mais, o meu estômago rejeitava tudo o que despejei nele de uma vez, a bile estava tomando conta do meu corpo e eu não sabia se poderia aguentar até chegar em casa, levantei-me o mais devagar que conseguir e me pus a caminhar até a área da piscina, todos estavam bebendo e comendo uns doces na mesa de fora, quis garantir que estavam todos aqui antes de partir para o banheiro do andar de cima.
Não havia ninguém no corredor e nem nos quartos, abri a porta o mais silenciosa que pude e em seguida ajoelhei-me, conferi que a porta estava trancada antes e então fiz. O que eu queria largar, um vício que não conseguia mais parar de fazer, era como limpar a minha alma. Os meus dedos correram na minha garganta mais uma vez antes da bile subir com força, me arrancando o ar enquanto colocava para fora as duas únicas refeições do dia, e quando acabava uma sessão o meu corpo ficava leve, então eu fazia de novo e de novo e de novo, até as minhas pernas tremerem tanto que sabia que não conseguiria ficar em pé. E só aí eu me sentia viva e limpa, sentia paz de me fazer m*l para me sentir bem, o prazer de me machucar tanto fisicamente quanto psicologicamente me deixava entre a paz e o desgosto, desgosto por me auto infligir tanto sofrimento por acha que mereço e paz por me sentir bem após fazer atrocidades com o meu corpo.
Dou descarga e lavo o meu rosto, como não tenho uma escova de dentes aqui eu passei enxaguam-te bucal para tirar o gosto r**m e amargo da boca, puxei a respiração algumas vezes antes de ter certeza que estava calma o suficiente para descer e ninguém notar o que eu havia feito. Talvez mamãe saiba, ela é a enfermeira legal da gangue e também ajuda o vovô quando tem muitos feridos, mas se ela notou algo, não quis me falar ou talvez esteja esperando eu falar para ela a merda que esta acontecendo comigo, bom, se depender de mim ela não vai saber. Ja basta o que aconteceu no ano retrasado. Estava tão distraída com os meus pensamentos que não me dei conta do momento em que cheguei até a área da piscina, também não me atentei ao meu redor até porque todos estavam bebendo ou jogando algo.
_ Cuidado com essa bola _ Vovô reclamou pois quase bateram na churrasqueira ao lado.
Seguir até chegar próximo a minha mãe e quando ia me sentar a bola bateu na minha cabeça, ainda estava tonta do esforço qu fiz a pouco tempo então foi fácil cair para o lado, ainda bem que foi dentro da piscina e não na quina da mesa. A água estava tão gelada que fui obrigada a clarear a mente e tentar subir para a superfície, a tontura e a fraqueza que vem depois de por duas refeições para fora me assolou naquele momento, me em golfando pelo terror de não conseguir sair da água, o medo e a fraqueza nos meus membros fizeram-me temer pela minha vida, é a segunda vez que sinto tanto medo, o medo de morrer. Mesmo em baixo d´agua eu podia ouvir a cacofonia dos gritos e xingamentos da minha família, mas o que ouvi com mais clareza foi o Enzo gritando por mim.
Quando achei que ia realmente morrer, sentir braços puxarem-me para cima, e quando a superfície apareceu diante de mim eu puxei o ar com toda a força restante no meu corpo. O meu peito ardia e o ar não parecia o suficiente, sentir o meu corpo pesar no momento que me colocaram deitada no piso aos pés da minha mãe, tudo em mim doía era como se a água ainda me puxasse, me arrastando para o fundo assim como a minha mente se esvaia, eu ia apagar em algum momento. Tinha certeza que estava quase desmaiada quando sentir mãos no meu corpo procurando e sentindo onde estava errado, até que uma pressa entre os meus s***s surgiu, junto as quatro sequencias o jorro de água foi expelido de mim, aliviando o peso que sentia ao respirar.
_ Ela esta bem, engoliu pouca água _ Mamãe respondeu aliviada, mas eu sentia a suas mãos tremendo em baixo de mim, apertando as minhas costelas como se para precaver que ainda estava aqui. _ Chega de piscina por hoje, e nada de chutar bola por aí enquanto alguém anda na beirada.
Passo a mão para tirar o cabelo do meu rosto e olho para o Alex saindo da piscina com o Lorenzo do lado, ambos estavam sérios e eu não sabia o qe tinha rolado entre eles para ficarem de cara fechada um para o outro, deixo isso de lado por um momento e levanto-me com a ajuda da mamãe, os seus braços apertam-me com força, tendo certeza de que não vou cair de novo. É reconfortante, ter os seus braços em mim assim, como se eu fosse quebrar a qualquer minuto se ela desse um passo errado, mas é uma pena, porque eu ja estou mais do que quebrada e acho que é impossível consertar algo tão quebrado quanto a minha alma, os fragmentos dela são pequenos e quase não da para ver nada dela, daquela menina viva e feliz, daquela alma livre que me mantinha sã, o que sobrou não serve para se colar e nunca será o mesmo.