————-Por Luana Tavares ————
Em circunstâncias normais, não sairia do lugar onde ele deixou-me na noite passada. Teria ficado em prantos me condenando e culpando-me por tudo o quanto permiti que ele fizesse comigo! Eu não sou uma leviana, preciso continuar repetindo isso para mim própria para que não me perca.
Suportei inúmeras tormentas em nome das aparências antes de ter a Ayanna, e depois que ela nasceu, deixei de me importar com o resto do mundo porque eu tinha deixado de estar sozinha no mundo, eu era mãe e eles arrancaram-me da minha filha, ela é a minha minha bússola.
Tudo que fizer nesse lugar de hoje em diante será porque eu sou a única responsável por um ser que trouxe ao mundo. Eu vou com os meus planos até ao fim.
(…)
Vejo a Sara entrar afobada pelo quarto, encontrou-me deitada na cama, olhei atentamente pra ela, afastei-me um pouco do lado da cama onde estava deitada ficando sentada e bati com a mão no lugar vago para que ela se sentasse.
O seu rosto é perfeito, tem a forma de coração, e a sua pele tão morena como se fizesse bronzeamento artificial, ela é linda (as Kardashians morreriam por um bronzeado natural como o dela)
Senti-me de algum modo reconfortada pela sua doçura, pela suavidade das suas faces, pelo contorno do seu seu lábio que estava quase a todo momento com um meio sorriso, o cabelo escuro tão brilhante hoje trazia duas tranças por baixo do lenço. Parecia uma menina.
— Querida, lamento não ter vindo mais cedo, imagino que estejas com muita fome. Tive de organizar tudo, iremos levá-la daqui.
Levanto-me e ponho-me a andar de um lado para o outro. — Prontos, ele vai me matar. — Já suava. Comecei a suar, esfregando as mãos nas minhas pernas.
— Eu vou morrer Sara? Ele vai me matar?
Ela vira pra mim com uma cara interrogada.
— De onde tiras esses disparates? Vais para uma das casas do Xeique.
— Porquê?
— Porque sim. A Luana faz muitas perguntas, vamos por favor. Quando chegarmos lá, vai poder comer.
Saí daquele quarto pela primeira vez depois de tanto tempo com a roupa que tinha vestida. — calça jeans, uma blusa branca e tênis branco.
Enquanto ia seguindo a Sara no meio do corredor encontramos dois homens, diferentes do que vi no dia que fui sequestrada.
Um deles segurou-me pelo braço — Como se eu fosse suficientemente burra para fugir de um lugar que nem sequer sei onde ou que país é.
Quando chegamos no lado de fora, por alguns segundos fiquei aflita com a luz do Sol, levantei a cabeça com os olhos fechados. Sentir os raios solares na minha pele foi como renascer.
O homem percebe que parei e puxa-me para dentro do carro, um sedan preto com vidros fumê. A Sara também entra do outro lado do carro. Já dentro do carro olhando para as ruas dessa cidade (noutra altura teria achado maravilhosa).
— Sara, irei para onde estão as outras meninas? — Lembrei que haviam duas garotas, mais novas que eu.
— Não menina. O Xeique pode ter várias mulheres. Inclusive, ele é casado mas essas mulheres não habitam no mesmo lugar, cada esposa de Xeique Rashad tem a sua casa. A primeira, Aisha fica no Palácio e a segunda Tamara vive numa pequena mansão. Quanto as meninas que vieram naquele dia com a Luana, elas foram mandadas de volta às suas casas.
— Como é que é? O que eu ainda faço aqui? Porque não me deixam ir também? — Quero gritar com ela mas sei que nada disso é sua culpa ainda que trate o i*****l do seu chefe como se fosse um filho ou sei lá o quê!
— Eu só cumpro com ordens. Vais compreender mais tarde.
— Oh Sara acorde para cuspir! Não quero compreender nada! Eu quero ir embora, eu quero a minha filha… Será que você não compreende?
— Sinto muito querida, eu lamento por tudo isso. Tenho noção de que um dia também pagarei por ser tão omissa com as coisas que o menino Rashid faz. Mas agora eu peço-te por favor se acalme sim! — Ela diz me abraçando. Aceito o seu abraço, e lembro-me da noite passada.
Não me conformo que o meu corpo me tenha traído daquela maneira. Era pra ser tudo a fingir, eu estava a fingir mas... Eu não percebo, ele me feriu, me humilhou, riu da minha dor e ainda assim eu perdi o controlo do meu próprio corpo (traidor) e gemi daquela forma, eu queria que ele parasse, mas porque raios parecia gostar de o ter dentro de mim? Porquê o meu corpo reagiu quando ele beijou-me?
Desgraçado, mil vezes desgraçado.
Estás avariada Luana, perdeste a noção do certo e do errado. Esse homem avariou você! Só falta agora me apaixonar por ele e completar o cúmulo do ridículo!
Não, não, não!
Será que de repente eu tenha contraído síndrome de Estocolmo?
Pelo amor de Deus mulher! Recomponha-se, esse não é o melhor momento para dares em doida.
Tu só precisas ser paciente, e não permitir que o teu corpo volte a trair-te, tu tens o controle.
A Sara vira pra mim e anuncia que chegamos ao nosso destino. Uma casa, uma casa não! Uma mansão enorme.
A mansão é bonita, extravagante com muitos detalhes em ouro. Eles parecem nadar em dinheiro. — Que desperdício, uma pessoa tem tudo isso e dedica o seu tempo fazendo maldade, que injusto!
Andamos mais um pouco e havia uma área dos funcionários (motoristas, empregados e cozinheiros). Possui duas cozinhas, antes mesmo de perguntar para quê tudo isso, a Sara me responde.
— Uma cozinha é para o preparo das refeições, e a outra apenas para servir. Não gostamos, nem aceitamos que a casa esteja impregnada com cheiro de comida.
— Que exagero… — murmurei. — Para isso existem os exaustores, ou nunca ouviram falar?
Ela põe-se a rir.
— Todas as casas de pessoas importantes também possuem um cômodo diferente, o qual chamamos de Májelis que geralmente os Xeiques usam para encontros diários entre homens como se fosse uma espécie de sala de reuniões, clube e até mesmo para refeições. Um detalhe importantíssimo Luana, as mulheres não entram. Então fique consciente que nessa casa vais poder circular apenas por dentro mas não poderas nunca entrar no Májelis, e o Xeique terá visitas, sua mãe não gosta do amigo do menino então ele ficará nessa casa. O quarto dessa visita também está proibido pra menina.
Revirei os meus olhos e continuei a seguindo e ouvindo todas as orientações que passava. Eu não parava de ficar boquiaberta com o exagero de luxo nessa casa.
— Venha querida, o seu quarto será este temporariamente até que o Xeique resolva alguns assuntos com o amigo que vem. Vai ficar por pouco tempo e nesse tempo estarás mais confortável.
Não sei como ela tem coragem de mencionar "confortavel" no meio dessa frase depois do que passei.
— Eu nunca estarei confortável aqui Sara.
— Eu sei que não querida, mas aqui poderas sair um pouco do quarto e circular livremente com exceção dos cômodos que falei.
— Qual é a necessidade disso tudo Sara? Não que esteja reclamando, é que tudo isso me parece muito estranho. — estava confusa e furiosa também, com medo que ele tivesse descoberto ou percebido que estava a fingir na noite passada, e tenha se antecipado para poder controlar-me de perto fazendo-me sentir falsamente segura. — Me sinto frustrada.
— Não vejo porquê! Até onde sei a menina e o Xeique ontem deram-se bem.
Abro e fecho a boca incrédula. Não acredito que ela tenha dito isso, ela seria confidente do Abul? Viro-me transtornada.
— Que historia é essa? Tu és tão íntima do Xeique que ele conta-te sobre os estrupos que faz?
— Não querida, não é como a menina pensa. Eu o vi sorrir o que é muito raro tratando-se de Xeique Abul, perguntei qual era o motivo de tanta alegria e ele simplesmente disse que a menina Luana tinha gostado de estar com ele. O que duvidei de início, mas pela cara que a menina tinha mais cedo achei que afinal ele sempre falou a verdade.
Fiquei sem saber como refutar, estalei os meus dedos.
— A senhora está errada. E o seu querido Xeique também! A senhora esqueceu de tudo? Os curativos que teve de fazer em mim? Esqueceu das surras que levei? Esqueceu de quantas vezes me apanhou a andar de lado sem conseguir fechar as pernas por ter sido violentada? — gritei tão alto pra ela, mas no fundo eu sabia que o fazia para pôr-me consciente das atrocidades daquele homem, e o fazia por mim. Eu vivi eu senti, e nada nem ninguém irá fazer-me esquecer.
Não tinha percebido que estava a chorar, ela nada disse e saiu fechando a porta.
Eu vou matar esse homem.