A fortaleza
Justine sentia sua ansiedade aumentar conforme se aproximava de seu destino, foram dias de viagem cheios de medo e angústia, mas conseguiu chegar até ali sem grandes problemas, apesar de sua jornada ter incluído andar de carroça, pegar diversos trens e até carona com um sobrenatural num automóvel, tudo isso carregando uma bebê recém-nascida mas foi preciso ser assim para chegar a Múrcia, quando chegou ao vilarejo que já conhecia naquela manhã, notou o quanto aquele lugar havia crescido e se desenvolvido, sabia que a viagem estava acabando, agora subia o morro que a levaria ao encontro de suas irmãs.
O tempo frio e seco fazia o pequeno pacote, preso a seu corpo por uma manta, gemer, seu chorinho como um pedido para Justine não desistir, ainda não sabia qual seria o nome da pequena menina recém-nascida, ela tinha uma pelugem escura na cabeça que já dizia que teria cabelos escuros, a pele muito branca como o leite, ela era linda e despertava um sentimento em Justine que nem ela sabia que existia, esperava que com a ajuda de suas irmãs pudesse não só definir o nome, mas também proteger e decidir o melhor destino pra pequena.
Chegou então a trilha que a levaria a Fortaleza da Fé, era um caminho mais longo, pouco conhecido, porém mais seguro do que a estrada principal. A fortaleza conhecida pelos humanos comuns como o monasterio das freiras que vivem enclausuradas, sem comunicação com o mundo externo, vivendo apenas em orações e penitências, numa vida voltada apenas a adorar Jesus Cristo. Depois da época da Inquisição a igreja católica viu que ter as bruxas como aliadas era melhor do que tê-las como inimigas, então surgiram as irmandades das bruxas disfarçadas de freiras, vivendo numa fortaleza, assim como tantas outras espalhadas pelo mundo para que bruxos e bruxas pudessem viver sua natureza tranquilamente, também tinham irmandades somente de bruxos, a maioria eram de convivência mista, ou seja, bruxas e bruxos vivendo juntos, esses últimos não tinham dons especiais, mas os bruxos eram feiticeiros natos, sabiam comandar espíritos, elementais e até outros sobrenaturais.
Seguindo a trilha estreita de terra seus pés doíam, suas pernas já sem forças, quando a recém nascida em seu peito começou a chorar de fome, sua fralda também deveria estar cheia, resolveu parar embaixo de uma árvore a beira da trilha para dar atenção a pequena, ainda restava um pouco do leite pasteurizado que comprou em Albacete e graças ao universo ele não havia estragado, provavelmente por conta do tempo frio, Justine trocou a bebê e deu lhe o leite antes de continuarem a caminhada, não demorou mais de duas horas até visualizar o muro alto de pedra que circundava toda a propriedade, era um lugar antigo, com muitas estórias, um antigo castelo da época medieval, sentiu um alívio pois sabia que estava chegando em casa.
Foi quase correndo que chegou ao portão de entrada feito de madeira maciça, abraçando o pequeno tesouro com uma das mãos e com a outra mão deu sete batidas leves, mas firmes num código que anunciava um m****o que estava a porta, antes de esperar qualquer resposta olhou para a bebê que adormeceu e então depois de um silêncio que parecia sem fim ouviu o barulho de alguém destravando o portão e o puxando, uma jovem na idade de talvez uns vinte anos, pele morena, cabelos lisos, ralos e olhar curioso colocou o rosto pra fora com a expressão de susto, Justine espremeu os lábios, pois nao conhecia essa irmã, não sentiu magia vindo de sua energia, não era bruxa, mas a cumprimentou e pediu que a anunciasse para ser acolhida, a jovem pediu pra aguardar e foi pra dentro, ja havia alguns intantes que a menina entrará sem nenhum sinal de voltar e começou a ter duvidas, e se não quisessem acolhê-la? O que faria? Quando foi embora daquele lugar o oráculo não a proibiu de voltar, mas então apareceram três mulheres correndo afoitas e de olhos arregalados olhando pra Justine e puxando a para dentro, nesse momento ela sabia que tanto ela quanto a pequena estavam a salvo.
Das três mulheres, apenas uma delas Justine não conhecia e não foi com surpresa que se deixou abraçar pelas duas enquanto a terceira mulher observava sem nenhuma expressão no rosto. Logo que se soltaram do abraço a mais velha que usava um coque alto prendendo seus longos cabelos grisalhos, falou:
_Irmã Justine, vamos entrar! Já sabíamos que viria e que estaria acompanhada de alguém muito importante, estávamos muito preocupadas por sua demora, mas o oráculo nos pediu para não irmos atrás de você.
_ Mas veio só irmã?.- falou a outra mulher com lindos olhos azuis procurando alguém atrás dela.
Então, Justine abriu um pouco o manto que a cobria e deixou as mulheres verem o pequeno pacote agarrado a ela e disse:
_ Não estou só, vim para pedir ajuda, mas acho que já sabiam disso.