DANTE NARRANDO
A Maya me tirou do sério. Eu já tinha visto ela brigar antes. Responder. Bater de frente com professor, com diretora, até comigo. Mas daquele jeito ali? Nunca.
Ela desceu com o sangue nos olhos. Corpo tenso, queixo levantado, o cabelo solto voando nos ombros. E aquela v***a da Gabi foi mexer. Provocar. Chamar de pirralha mimada. Aí já era. Quando eu entrei na sala, as duas tavam se engalfinhando feito duas cadelas no cio. Unha, tapa, xingamento. A casa inteira tremendo.
Eu gritei:
— CHEGA!
E as duas pararam, mas o estrago já tava feito. A Gabi descabelada, bufando, apontando o dedo na cara da Maya. A Maya com a boca suja de sangue onde levou um tapa, o olho brilhando de raiva, o peito subindo e descendo como se tivesse vindo de um corre.
E aí ela falou. Olhou pra mim e soltou:
— E tu vai deixar ela falar assim comigo dentro de casa?
Eu mandei ela subir. Porque era o que eu sabia fazer. Cortar a cena. Interromper antes que ficasse pior.
Mas quando ela virou na escada e largou aquele:
— Se ela continuar nessa casa, quem vai embora sou eu…
Eu senti. Foi como um soco. Seco. No meio do estômago.
Fiquei ali, parado, ouvindo a porta bater, o silêncio depois, o som abafado da respiração da Gabi… e nada mais. Aquela menina… não era mais uma menina. Eu sabia. Sempre soube. Mas nunca quis encarar. Passei anos fingindo que ela era só a filha da mulher que eu amei. Que ela tava ali porque a vida largou ela nas minhas mãos. E que meu papel era só pagar as contas, garantir o futuro, e manter distância. Mas o tempo passa. E mulher cresce. E ela… cresceu bonito demais.
O jeito que ela anda. Que fala. Que enfrenta. A postura. A presença. A coragem de me encarar mesmo sabendo quem eu sou.
Aquilo mexe. Fode com a cabeça. Subi depois que a Gabi foi embora. Entrei no quarto da Maya sem bater, como sempre fiz. Ela tava sentada na cama, com o rosto virado, limpando a boca com gelo.
— Vem aqui. — falei.
Ela me ignorou.
— Maya.
Ela levantou o olhar. E tinha uma coisa ali… diferente. Uma dor misturada com orgulho. Um fogo que nem a briga apagou.
— Não gosto que ninguém grite comigo. — ela disse, seca.
— Eu gritei porque cês tavam se matando na sala.
— Ela me chamou de pirralha.
— E tu quase empurrou ela pela janela.
Silêncio. Ela ficou me olhando. Eu fiquei olhando de volta. E pela primeira vez… eu vi. Vi mesmo. O peito dela subindo devagar. A boca um pouco inchada. A pele arrepiada. Ela não era mais uma menina. E eu… não era mais cego.
Foi nesse dia que eu mandei a Gabi embora. Falei que não dava mais. Que eu não queria confusão dentro de casa. Ela chorou, esperneou, tentou me fazer mudar de ideia. Mas eu já tinha decidido.
E desde aquele dia… nunca mais nenhuma mulher que tentou peitar a Maya durou aqui dentro.
Não era proteção. Era outra coisa. Era medo do que eu podia fazer… se ela chorasse por minha culpa.
Tava na cozinha. Café preto, sem açúcar, cigarro do lado, cabeça a mil. O morro tava um caos — polícia rondando mais do que devia, gente sumindo, boato de traíra dentro da tropa. Eu tava ali, tentando resolver com calma, pensando nas próximas movimentações, e a paz daquele momento… foi pro c*****o.
Ela entrou. Descalça. Com um baby-doll branco de alcinha, cheio de beijinho vermelho estampado. Curto. Muito curto. Aquela p***a m*l cobria a b***a dela. Eu travei a mão no copo. Dei uma olhada de canto, tentando fingir que não vi. Mas vi. O cabelo solto. O peitinho pequeno e o bico marcando fino no tecido leve. O quadril balançando quando ela abriu a porta da geladeira.
Ela nem falou nada no começo. Só ficou ali, como se fosse normal. Como se a presença dela daquele jeito não fosse suficiente pra virar meu mundo de ponta-cabeça.
E aí eu falei:
— Vai botar uma roupa, Maya.
Ela virou o rosto devagar, com aquele sorrisinho que me dava nos nervo.
— Agora não. Agora eu tô com fome. Agora eu vou tomar café.
— Maya…
— Você nunca reclamou disso antes.
Ela rebateu enquanto tirava o copo do armário.
— Porque eu não sou acostumado a te ver dentro de casa de manhã cedo.
Ela completou, sentando do meu lado como se não tivesse uma gota de noção no corpo. Eu tava sem reação. Sem saber onde enfiar a cara. Mas ela… tava no controle. Serviu o café. Passou manteiga no pão. Como se nada ali fosse errado. Como se a blusa transparente e a calcinha aparecendo pelas laterais fossem parte da mobília.
— Meu aniversário tá chegando. — ela disse, com a voz doce.
— Uhum.
— Posso escolher um presente?
— Uhum. Se tiver ao alcance do meu dinheiro.
— Eu quero um silicone.
Eu virei o rosto devagar.
— Quê?
— Um silicone. Quero botar boca. E por enquanto… acho que é só. Mas depois eu vou vendo.
Ela falou com a maior naturalidade do mundo. Como se tivesse pedindo um perfume, um salto, qualquer coisa. Mas não era qualquer coisa.
Era ela me avisando que tava crescendo. Que tava indo.
— Festa? — perguntei, tentando mudar de assunto.
— Não. Vou sair com os meus amigos. Pra noitada. Curtir como nunca os meus 18 anos.
A colher que eu mexia no café parou. O barulho do metal batendo na xícara morreu ali.
— Como é que é?
Ela me olhou direto. Sem desviar. Sem abaixar os olhos. E foi ali que eu vi. Vi mesmo. A Maya que eu conhecia… não tava mais ali.
No lugar dela, tinha uma mulher. Com corpo de mulher. Com atitude de mulher. Com provocação no olhar e malícia na língua.
Comecei a olhar ela de cima a baixo. O peito pequeno, que ela queria turbinar. A boca, que já era carnuda, mas que agora queria mexer. A cintura fina, a coxa marcada, a b***a empinada sob o tecido que nem roupa era. Ela tava se mandando. E o pior… tava me mandando sinais. Sinais que eu tava cada vez mais perto de parar de ignorar.