O sol já não era sol. Era cor líquida escorrendo pelo céu. Rosa queimado, laranja tímido, e um azul que ainda insistia em permanecer. Sentada na varanda da pousada, com os pés descalços sobre a madeira morna, sentia que o dia se despedia com gentileza. Do meu lado, uma xícara de chá de hibisco que esfriava aos poucos. De frente, Eda no jardim, brincando com pedrinhas como se criasse constelações no chão. Havia uma música baixinha vindo da casa vizinha. Alguma canção antiga, com um violão que parecia ter poeira na alma. Eu respirava fundo, sentindo o cheiro do final do dia: mistura de terra, folha, sol e descanso. Aqueles minutos entre o fim da luz e o começo da noite são os meus favoritos. Nem tudo terminou. Nem tudo começou. Ouvi passos leves vindo pelo corredor lateral da pousada. Reco

