Prólogo
POV Aurora
O silêncio na sala de estar era sufocante.
Eu, Aurora, estava de pé, com as mãos suadas e o coração batendo tão alto que parecia ecoar pelo chão frio.
No sofá, Helena, minha irmã perfeita, chorava teatralmente, o rosto enterrado nas mãos.
A cada soluço, minha mãe me lançava aquele olhar de desprezo costumeiro — como se eu tivesse nascido só pra carregar culpas que não eram minhas.
— Ela não pode ir! — meu pai gritou, a voz trêmula e quase desesperada. — É a mais velha, minha primogênita! Ainda pode nos dar orgulho… com toda a sua beleza e inteligência!
Pisquei, sem entender.
— E eu? — a pergunta escapou antes que eu pudesse me segurar. — Não posso dar orgulho também? Eu posso fazer qualquer coisa que o senhor mandar, vou te dar orgulho também, eu prometo.
Minha mãe riu — um som curto, sem humor.
— Você sabe muito bem que nunca foi realmente uma de nós. Não precisa fingir, Aurora. Eu sei que você sabe de tudo.
Do outro lado da sala, dois homens de terno escuro esperavam, impacientes.
Um deles mexia no relógio de pulso. O outro estava de braços cruzados e me observava como quem avalia uma mercadoria.
O ar parecia pesar.
Meu pai respirou fundo, o olhar vazio, como quem assina a própria sentença.
— Levem a mais nova.
Por um instante, tudo pareceu parar.
Entre lágrimas falsas e olhares frios, descobri qual era o meu verdadeiro valor: nada.
E, de canto de olho, juro que vi o sorriso de Helena — discreto, c***l, satisfeito.
Até que ele entrou.
O homem da máfia. Leonardo, conhecido apenas como Leo.
Frio, perigoso, com um olhar tão cortante que o ar rarefez.
Ele me encarou por alguns segundos — e tive a estranha sensação de que conseguia ver todas as minhas rachaduras por dentro.
— Essa vai ser minha — disse ele, a voz baixa, firme, com um sorriso de canto que não chegava aos olhos.
Naquele instante, sem saber, minha vida deixou de ser minha.
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Meses depois...
O quarto estava mergulhado na penumbra.
O som da chuva batendo na janela era o único barulho que quebrava o silêncio.
Meu corpo tremia — e eu não sabia se era de medo ou de algo muito mais confuso.
Leo estava próximo demais. O cheiro dele — fumaça, couro e perigo — tomava o ar, me cercando.
A mão dele roçou de leve minha cintura, firme, possessiva, como se marcasse território.
— Você não faz ideia do jogo em que acabou de entrar, Aurora... — murmurou contra minha pele, e sua voz grave me arrepiou por inteiro.
Eu devia recuar. Devia odiá-lo.
Mas quando seus olhos encontraram os meus, tão próximos, algo em mim vacilou.
Meu coração batia rápido demais — medo e fascínio misturados.
— Por favor... — minha voz saiu fraca, traída por mim mesma.
Ele sorriu de canto.
— Está implorando? Tem certeza do que quer?
O silêncio que se seguiu foi quase palpável.
Entre nós, o ar parecia vibrar, pesado demais pra ser só medo.
Então Leo se inclinou, a respiração quente roçando minha pele.
— Um ano... — sussurrou, com um tom que soava como promessa e ameaça ao mesmo tempo. — Eu aposto que não vou te tocar… a menos que você me peça de novo.
Meu coração quase parou.
Não sabia se era provocação ou promessa.
Só sabia que, por algum motivo que eu não entendia, eu acreditei.
E foi nesse instante que percebi:
posso até odiar minha família por me vender…
mas o verdadeiro perigo sempre esteve bem diante de mim.
Em breve...
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Espero que vocês possam mergulhar nessa nova jornada comigo, a história de Aurora e Leo.
A infância de Aurora até a adolescência e a venda...
Curiosidades: o nome Aurora, era o nome da minha avó materna, alguém por quem sinto muita saudade.