Capítulo 05

984 Words
Sil: Esteh Logli: Negão narrando Salve mulherada, sou o Gustavo e sou conhecido como n***o. Tenho 32 anos e 1,83 de altura. As paradas pra mim nunca foram fáceis. Desde moleque, tudo que eu consegui foi na marra, e quase sempre na bala. Mas depois de perder minha filha por causa do filho da p**a do tenente, eu jurei pra mim mesmo: no dia que eu conseguir sair dessa desgraça, vai ser o último dia de vida dele. Já faz dois anos que eu tô preso. O pior de tudo nem foi eles terem conseguido me pegar… foi terem me pegado na covardia, e ainda por cima matarem a minha menina no processo. Minha filha era inocente. Não merecia nada disso. Eu sei que o maior pecado de tudo é meu, pela vida que eu escolhi, mas isso não muda o fato: ela era minha filha… e eu amava ela mais do que qualquer coisa. Eu sou o Chefe do comando e moro na Vidigal. Quer dizer… morava. Hoje quem tá no comando das ruas por mim é meu braço direito, que segura a responsa e resolve todas as paradas no meu lugar enquanto eu tô aqui. Desde que me jogaram nesse buraco, eu tô tentando de tudo: advogado, juiz, qualquer um que me dê uma brecha pra sair. Mas tá f**a. Ninguém aceita ser comprado, e olha que eu já ofereci uma grana que daria pra mudar a vida de qualquer um. Minha única sorte é que, pelo menos, minha fiel não me abandonou. Só que eu venho reparando que ela anda estranha nos últimos dias. Já passei a visão pro Red ficar de olho nela, porque tem alguma coisa errada. E eu não vou ser igual corno, o último a descobrir. Hoje é dia de visita, e o Red já me confirmou que ela está vindo me ver. Espero que ela traga boas notícias, porque sinceramente… tá f**a. Se eu passar mais um ano aqui, acho que vou enlouquecer… ou pior, vou acabar fazendo merda e matando geral. Eu estava pedalando no pátio, tentando matar o tempo até a visita, quando o Gaguinho encostou na minha direção. — Tua fiel tá na gaiola esperando por você, Chefe. — avisou, e já senti que tinha alguma coisa estranha só pelo jeito dele falar. Fui andando até lá, e assim que vi a Paloma, percebi. A cara dela não era de quem estava feliz por estar ali. Tava fria, distante… como se tivesse vindo só por obrigação. Peguei a sacola da mão dela e, quando tentei beijar, ela desviou o rosto. — Bora lá pra cela pra gente trocar um papo. — falei seco. Entramos, e antes de eu puxar assunto, ela foi logo falando: — O Red pediu pra avisar que conseguiu uma advogada pra você. Ela é recém-formada… eu acho que vai acabar fazendo merda, mas ele disse que como tá começando e a carreira dela depende disso, ela vai dar a vida se precisar pra te tirar daqui. — Fala pra ele já deixar avisado que, se ela não acelerar o processo e me tirar logo daqui, vou começar a matar geral da família dela… começando pelos que ela mais ama. — respondi, olhando firme. — Pode deixar. — ela disse, passando a mão no rosto suado. Peguei um copo e coloquei água pra ela, usando a que ela tinha trazido. Foi aí que ela soltou: — Sinceramente, eu não tô mais aguentando essa vida. Não quero mais passar por essa humilhação de ter que ficar vindo aqui. Agora que a Ketlin morreu, eu só quero seguir a minha vida longe de tudo isso. Eu fiquei olhando pra ela, sem acreditar. Eu… trancado aqui dentro, parecendo um animal, e ela me solta uma dessas? — Eu vou sair daqui, Paloma. Só tenha um pouco mais de paciência, que logo eu vou estar na rua. — Dois anos, Gustavo! — ela se exaltou. — Você sabe o que é ficar sozinha durante dois anos? Sentindo falta das pessoas que você ama… e toda vez que olha pros lados, só vê vazio? A minha filha se foi, e se eu não largar toda essa vida pra trás, eu nunca vou conseguir superar. — falou, levantando e saindo da cela sem nem olhar pra trás. Saí atrás dela, mas ela correu até a gaiola e pediu pra ir embora. Nem tive chance de chegar perto pra gente conversar direito sobre isso. Fiquei parado, sentindo aquela mistura de raiva e vazio. No fundo, eu sabia… essa conversa ainda não tinha acabado. Entrei na minha cela de volta, ainda com o sangue fervendo. Peguei o celular que eu tinha escondido no fundo do colchão, minha linha direta com o mundo lá fora e disquei pro Red. Ele atendeu rápido, como sempre. Ligação on — Fala, chefe. Achei que tu tava na sua visita só 32 minutos. — Quero saber qual é a dessa advogada. Nome, cara, histórico… tudo. — falei sem enrolar. — Já tô levantando as paradas. Ela é novinha, tá começando agora, mas pelo que falaram é sangue no olho. Vai querer se provar. — Pois então ela vai se provar comigo. Fala pra ela que agora é questão de honra eu sair dessa p***a. Quanto mais rápido ela correr, mais rápido eu volto pra minha vida… e mais rápido eu vou atrás do arrombad.o que tirou a minha filha de mim. O Red ficou em silêncio por um segundo, e eu senti que ele entendeu o recado. — Pode deixar, Chefe. Já vou marcar com ela e te passo a visão. Desliguei e fiquei sentado no canto da cela, com a cabeça a mil por hora. Cada dia que eu passo aqui é um dia a mais que aquele filho da put.a respira. E eu juro… quando eu botar o pé lá fora, não vai ter lei, polícia, nem Deus que me segure.
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