CAPÍTULO 3

747 Words
Silêncio. Era isso que tomava conta da sala quando entrei. Ailin estava em pé, diante da janela que dava vista para o caos iluminado da cidade. Sua silhueta era recortada pela luz das lâmpadas dos postes e pelos faróis dos carros. Braços cruzados, o corpo imóvel, como uma deusa em fúria contida. Alex estava encostada na parede ao lado da lareira, com uma taça de vinho entre os dedos — girava o líquido como se estivesse prestes a jogá-lo no rosto de alguém. Jack me fitava com um cansaço antigo nos olhos. — Espero que tenha boas notícias — disse Ailin, sem se virar. Fechei a porta atrás de mim. O clique da madeira ecoou como um tiro. — Depende do que você considera “boa”, Mistress. Ela girou suavemente o corpo, como uma cobra se preparando para o bote. — Fale. Cruzei os braços. — Meyer e eu fomos até a Affection. Encontramos um entregador. Disse que foi mandado por alguém chamado Corvo. Um nome que não ouço faz tempo. Alex ergueu uma sobrancelha. — Corvo? O mesmo que trabalhava com os Serpentes? — Ele mesmo. E agora parece estar operando por conta própria… ou a mando de alguém. A taça parou de girar. Jack expirou alto, como se confirmasse um pensamento antigo. — Isso significa duas coisas — disse ele. — Ou os Serpentes estão nos desafiando, ou perderam o controle dos ratos que alimentaram. Ailin caminhou lentamente até a cabeceira da sala. Sentou-se no trono com a elegância de quem nasceu para mandar. — Os Laurent também estão com problemas. — disse, como quem solta uma bomba casual. — Tiveram que fechar dois clubes por causa de overdoses de “DreamFire”. Meu coração gelou. DreamFire. Essa droga era nova. Mortal. Um pó brilhante, que explodia os sentidos e destruía o cérebro em semanas. Extremamente viciante. Um lixo químico saído do inferno. E agora estava circulando nos quatro territórios. — Os Laurent não permitiriam algo assim — falei, e logo odiei a certeza na minha própria voz. Alex me olhou com curiosidade. — Desde quando você confia em alguém que cheira mais do que respira? Me calei. A verdade é que os Laurent sempre foram conhecidos pelos excessos. Mas DreamFire… era diferente. Era descontrole total. Caos. Isso não combinava com o modo como eles operavam. Pelo menos, não com o modo como ele operava. — O nome dele foi mencionado? — perguntei antes que pudesse me impedir. — Quem? — Ailin indagou, embora seus olhos negros já soubessem a resposta. — Ian. O silêncio caiu como uma navalha. Jack apertou os lábios, como se mordesse uma lembrança r**m. — Ainda é o principal contato dos Laurent. E está investigando por conta própria. — disse ele por fim. — Ótimo — falei, o sarcasmo escorrendo da voz. — Um viciado metido a artista. Que reconfortante. — Ele é eficaz, Ray. — disse Alex, com um sorrisinho irritante nos lábios. — Pelo menos mais eficaz do que assassinar entregadores na primeira visita. Sorri de volta. — Você devia tentar. É terapêutico. — Chega — rosnou Ailin. Ela se inclinou levemente, os cotovelos sobre os joelhos. — Isso é maior do que pensávamos. Três territórios afetados. E os Lycans…? Jack balançou a cabeça. — Ainda silenciosos. Mas segundo nossos informantes, Cam — o filhinho querido do chefe — já está investigando algo na fronteira norte. Deve ser apenas uma questão de tempo até tudo explodir. Ailin sorriu, e o sorriso dela nunca significava coisa boa. — Então vamos acelerar a explosão. Eu conhecia aquele tom. Frio, c***l e inteligente. — Quero uma reunião entre representantes. Um de cada facção. Aqui. Em três dias. Fitei os olhos dela, tentando entender se tinha ouvido certo. — Você quer juntar representantes das quatro facções numa mesma sala? Aqui? — Exatamente. — Ela se levantou, cada movimento calculado como uma coreografia de morte. — Se não conseguimos proteger nosso território sozinhos, vamos ver se conseguimos fazer isso... juntos. — Isso não vai acabar bem. — murmurei. — Não vai — ela respondeu, e sorriu como se isso fosse parte do plano. Mais tarde, deitada na minha cama, fitei o teto escuro e me perguntei o que Jack havia dito antes. “Você é melhor do que isso.” Talvez eu fosse. Ou talvez estivesse tão ferrada quanto todo mundo ali. E se fosse o caso... talvez fosse hora de encontrar os outros dois coringas desse baralho sujo.
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