Vera apareceu sem avisar. Era quarta-feira, fim da manhã. O núcleo estava um caos: crianças correndo de um lado pro outro, mulheres discutindo por ordem de atendimento, caixas de doações abertas no canto, gente pedindo informação ao mesmo tempo. E ainda assim, quando ela entrou pela porta de vidro, o mundo pareceu silenciar só pra mim. Ela estava diferente. O cabelo preso num coque firme, sem brinco, sem pulseira, sem a leveza habitual. Trocara as camisas estampadas por uma social clara, sem graça, mas que lhe dava uma seriedade nova. O sorriso largo, que sempre vinha antes da voz, dessa vez não apareceu. — Oi, minha filha — disse, como sempre. Mas o som saiu menor. Medido. — Oi, Vera. Não sabia que vinha hoje. — forcei um sorriso, mesmo com o coração acelerado. — Nem eu. Mas tive uma

