— E se a gente pintasse amanhã? — perguntei, com a cabeça encostada na perna do Kauan, ainda sentados no chão da sala. Ele girou o rolo de fita crepe entre os dedos, me olhando de canto, os olhos semicerrados naquela preguiça boa que só vinha quando ele se sentia em casa. — Bora. Só cê não pode fazer esforço. Mas pintar a parede contigo, sentadinha num banquinho, dá. — Só se eu conseguir tirar folga. Peguei o celular do bolso. A tela estava embaçada de poeira do chão. Passei a ponta da blusa por cima para limpar e procurei o número da Dona Vera. Enquanto isso, ele ficou quieto, só observando, mas eu sabia que ligar para ela era sempre um teste: paciência, respeito e hierarquia em um só gesto. Coloquei o celular no ouvido, o coração acelerado. — Alô? — ela atendeu com a firmeza de sem

