"Agarro-me ao diazepam que me favorece, mas sei que não há pílula que possa silenciar a tempestade que ruge dentro de mim."
Helena
Meu celular toca no meio da manhã, sentimento de que algo está errado. Eu olho para a tela iluminada por alguns segundos antes de colocar coragem e agarrá-lo. O nome do meu irmão arrepia, e com um suspiro, deslizo o botão verde com o dedo.
— Por todas as coisas sagradas, Helena! — Fala quando eu respondo — Não pode ignorar assim.
— O que se passa, Carlos?
— É mãe, ela... — A frase — não termina. Estamos no hospital.
— Vou para ia daqui pouco eu chego.
Tropeço, e troco de pijama por roupas para sair, coloco tudo o que preciso na bolsa e saio de casa com tanta pressa que minhas chaves caem no chão, fazendo barulho no corredor silencioso. Minhas mãos estão tremendo demais, e depois de várias tentativas de colocar a chave na fechadura, tenho que me sentar na porta para levar alguns segundos e me acalmar.
— O que se passa? — Identifico a voz de Bruno atrás de mim.
— Nada, lamento o barulho —Eu viro e sorrio para ele — Te acordei? Que pena, eu vou embora.
Volto minha atenção para a maldita porta que se recusa a fechar quando de repente sinto a presença Bruno atrás de mim.
— Não fechará se não se acalmar, indicando que há algo está errado. — Tire as chaves das minhas mãos e fecha para mim — Onde quer que você vá, você não pode ir neste estado.
— Vou para o hospital, vou ficar bem —dou um passo em direção ao elevador, mas paro.
— Deixa eu pegar nas minhas chaves, eu te levo.
— Não, vou pedir um táxi.
— Não foi uma pergunta —diz em tom osco.
Eu fico no meio do corredor enquanto ele entra em seu apartamento e calças com os sapatos e as chaves na mão. Feche a porta e então entramos no elevador. Descemos em silêncio, e continua até que ele abra a porta do passageiro de seu carro e, em seguida, fica do lado do motorista.
— Para o hospital central?
— Sim, por favor.
Aceno. Ligou o veículo, deixamos estacionamento e fomos para o endereço que indiquei. Estou completamente imóvel no meu lugar, temo que, se me mover, causarei desconforto ao homem ao meu lado. Isso e também e o fato que eu não sei o que aconteceu. A mãe está morta? Acho que Carlos não teria.
"Ela está bem, ela não vai morrer. Não vou perder mais ninguém, repito-me durante toda a viagem."
— Chegamos —anuncia Bruno.
— Já, me distrai —Desabotoei o cinto e abri a porta para sair — Obrigado por me trazer e mais uma vez peço desculpas por acordá-lo.
— Já disse que não me acordou, trabalho como programador de software e tenho tendência para ser mais produtivo à noite.
— Sim, eu entendo. Da mesma forma, obrigado.
Eu saio do veículo e caminho até a entrada, no entanto, paro quando as lembranças de cinco anos atrás me invadem; foi nesse mesmo hospital que meu irmão morreu. Como posso entrar sem ficar paralisado pela dor? Eu não sei quantos minutos eu fico lá, mas de repente eu sinto uma mão no meu ombro e quando eu olho para cima eu o vejo.
— Eu pensei que você tinha ido embora.
— Te vi e estava ficando aqui sem fazer nada, eu não podia sair como se não tivesse visto nada.
— Entrarei, em algum momento. É só que... — Os meus olhos estão inundados de lágrimas e um soluço está preso na minha garganta — O meu irmão morreu aqui.
— Sinto muito — Posso entrar contigo se quiser tudo bem contigo.
Eu peso a sugestão dele por alguns segundos e acabo balançando a cabeça. Ele coloca a mão no meu cotovelo e me guia para o hospital. Nós nos aproximamos do balcão na área de emergência e, após dar o nome da minha mãe, a enfermeira me diz que ela foi internada e está no terceiro andar.
Subimos as escadas e, olhando para a direita, vejo meu pai e meu irmão sentados na sala de espera. Eu me afasto de Bruno para ir até eles, embora eu sinta a presença do gigante atrás de mim.
— Helena —sussurra pai quando ele me vê.
Ele se levanta e me dá um grande abraço ao qual eu me correspondo; eu a perdi. Como nos separamos, é o meu irmão que me rodeia com os braços.
— O que aconteceu à mãe? — Pergunto após nos cumprimentar.
— Desde que saiu, as coisas não têm sido fáceis. Papai e eu não estamos com ela o tempo que gostaríamos, e embora Mirella cuide dela, não é o mesmo.
A culpa me invade; eu sei o que ele quer dizer, e se sua intenção era me fazer sentir m*l, ele conseguiu. Papai apenas olha; ele concorda com o que meu irmão diz.
— Desculpe, mas não pude ficar lá.
— Sair foi uma decisão egoísta! Precisamos de você em casa.
Ele nunca tinha levantado a voz para mim, então minha primeira reação é recuar, independentemente de eu bater em uma parede muscular. Olhando para cima, eu corro para o rosto cinzelado de Bruno, cuja atenção está focada em meus parentes.
— Não sei o que aconteceu, mas isso não dá o direito de levantar a voz para sua irmã. Seja o que for, ela não é culpada, não faça o download com ela.
— E quem é você? — Sou Bruno levanta o queixo num gesto arrogante.
— Um amigo.
Carlos abre a boca para resmungar, mas papai coloca uma mão em seu ombro e isso é o suficiente para silenciá-lo.
— Lamento tudo isto, filha —Pai pede desculpa — Estava na cozinha a preparar o jantar, deixei a tua mãe sem supervisão e ela teve acesso à medicação. Quando voltei para o quarto, ela estava deitada no chão com espuma saindo de sua boca.
— Meu Deus. — Suspiro.
— Trouxemos a tempo, fizeram uma lavagem e o médico diz que vai recuperar. Ainda assim, ela deve permanecer sob observação esta noite.
A culpa dentro de mim só aumenta. Como tudo o que faço acaba m*l? Por que não posso ser a única a carregar o peso de tudo, sem que minha família seja afetada?
— Vá para casa descansar, amanhã vocês trabalham —Eu olho para os dois — Vou ficar para cuidar da mãe e ouvir as recomendações do médico.
— Filha...
— Vai, pai. Eu tenho que fazer isso.
Carlos não diz nada, mas agarra suas coisas e sai sem olhar para mim. Enquanto isso, papai olha para mim com pena, ele também pega suas coisas e sai.
Não é até eles saírem, que eu me lembro que tenho companhia. Eu me volto para olhar para ele para perceber que ele já tem sua atenção em mim, eu suponho que com um milhão de perguntas, que eu não tenho certeza se serei capaz de responder.
Sento na primeira cadeira que vejo e ele senta ao meu lado. Eu solto um suspiro antes de falar:
— Você não deveria ter testemunhado essa conversa.
— Por que é que deixa te tratarem assim?
Se eu disser a verdade, isso mudará a maneira como você me vê? Eu acho que só saberei se sou honesta com ele; nem é como se eu devesse me preocupar com a opinião dele. Quero dizer, ele tem sido simpático, mas m*l o conheço. Por outro lado, se fosse o Leonardo e melhor não ir lá. Não suportava que ele me visse como uma assassina.
— Porque tenho razões para isso. O meu irmão mais novo está morto por minha causa, e é por isso que a depressão da mãe piorou. Saí de casa sabendo que eles precisavam de mim, e ver como ela terminou.
Bruno permanece em silêncio por um momento, com o olhar fixo no meu, como se estivesse avaliando cada palavra que eu disse.
— Olha, não vou adoçar. A culpa é um veneno que você está se forçando a engolir todos os dias, mas não está fazendo bem a você ou a qualquer outra pessoa. O que aconteceu ao teu irmão é uma tragédia, sim, mas não pode continuar a assumir toda a responsabilidade. Você não é uma assassina, e sua mãe não é melhor porque você é martirizado. No final do dia, se você continuar vivendo no passado, você não será capaz de avançar, e ninguém, nem você, nem sua família, vai curar dessa forma.
Ele se inclina para a frente, sua voz mais baixa, mas firme.
— Tem que se perdoar, não porque mereça ou não, mas porque é a única coisa que te permitirá continuar. A culpa está apenas acorrentando você, e se você continuar assim, você acabará se destruindo e perdendo qualquer chance de encontrar a paz. Pode ser um golpe sob o que eu vou perguntar, mas você acha que seu irmão ficaria feliz em ver o que você faz para si?
—I... — Fico em silêncio a pesar as suas palavras.
Eu sei que ele está certo, eu sinto isso no fundo da minha alma, mas não é fácil deixar esse sentimento que me acompanhou por todos esses anos.
Bruno toma meu silêncio em resposta, acena com a cabeça e se deita no assento. Eu imito a sua ação, grato que você não tem que fazer isso sozinha, mesmo que seja um estranho que me acompanha.