As lembranças de quando eu pertencia àquele mundo vieram à minha cabeça e estremeci. Mesmo assim, eu odiava aqueles idio*tas que só se importavam consigo mesmos.
Para meu pesar, eles sentaram-se na minha área, embora eu não estivesse disposto a atendê-los.
— Você pode cuidar deles? Eu implorei a Ana.
Ela olhou para eles e entendeu o porquê. A minha amiga sabia tudo sobre mim, ou quase tudo. Eu omiti o motivo principal de ter largado tudo. Embora, a princípio, ela tenha ficado surpresa com a decisão que tomei. Ela não entendia como eu poderia rejeitar toda aquela vida, cheia de luxos, dinheiro e festas, por um apartamento de cinquenta metros quadrados e um trabalho como aquele. Mas ela concordou em ser minha amiga, principalmente depois de conhecer a minha mãe no primeiro dia em que ela veio me visitar.
Claudia, chegou de surpresa ao ver onde eu morava, gritou aos céus, que era a única coisa que ela sabia fazer. Quem não conhecia ela, acreditava naqueles desmaios que ela fingia. Ela começou a criticar tudo. A sala, a toalha de mesa e cortinas. Tudo parecia básico e pobre para ela. Naquele dia, Ana entendeu por que queria fugir de tudo isso. Eu fiquei grata. Eu guardaria comigo o verdadeiro motivo, apesar de tudo... ele era meu pai.
— Você conhece eles? Ela me perguntou, sabendo que era uma das minhas maiores preocupações, senão a maior, era que alguém descobrisse o meu segredo. Que alguém que trabalhasse com o meu pai, me achasse aqui.
— Não, mas eles me irritam.
— Ok, eu aceito. Além disso, eles são bonitos. Ela disse com uma risadinha e piscando para mim.
Revirei os olhos, era impossível! Ela sabia que aqueles dois nunca iriam notá-la, não importa o quão bonita ela fosse. Ela costumava chamar a atenção com os seus cachos dourados e os seus grandes olhos negros como carvão.
Mas gente assim só notava mulheres com pérolas e vestidos de alta costura, não uma simples garçonete. Eu conhecia bem, os homens do mundo que eu vim.
Eu estava servindo café na primeira mesa ocupada quando ouvi:
— Você é desajeitada, sua estú*pida!
Veio da mesa dos dois meninos ricos. Eles estavam insultando minha amiga de uma forma muito desagradável. Aparentemente, ela havia derramado a taça de vinho nas suas camisas brancas perfeitamente passadas.
— Sinto muito, me perdoe. Ana tentou se desculpar.
— Uma garota dessa não deveria trabalhar aqui, que falta de jeito! Ele disse ao outro homem na frente dela, como se ela não estivesse lá.
Isso me irritava. Ma&ldito arrogante! Eu não duvidava, sabia que poderia me meter em encrenca, mas não ia aceitar que eles fizessem isso com ela.
— Vocês estão com algum problema? Fiquei diante deles com os braços cruzados, o rosto sério e ameaçador.
— E você, tem alguma coisa com isso? Disse o mais baixo. O outro não disse nada.
— Na verdade, sim. Vocês estão desrespeitando a minha amiga. Acho que vocês devem um pedido de desculpas.
Desde que comecei a minha nova vida, o meu caráter mudou. Jamais fui uma pessoa r**m, mas finalmente havia criado minha própria personalidade, uma mulher de caráter e que não se calava diante das injustiças. Principalmente, depois que vi, que o meu herói, não tinha nada de herói.
— Nat, deixe pra lá, está tudo bem. Ana implorou.
— Não está tudo bem. Esses dois senhores acham que são melhores do que você porque estão usando ternos de William Fioravanti? Eu disse, olhando para o outro caro que ainda não havia aberto a boca. — Você tem algo a dizer? Eu soltei quando vi que ele estava me olhando surpreso.
— Como você conhece esse designer? Ele estava seriamente se perguntando por que eu conhecia a marca de seus ternos? Eram ternos que custavam milhares de dólares, e só eram conhecidos por quem podia pagar tais excentricidades. Desviei da sua pergunta e fiz outra.
— Você vai se desculpar?
— Não, mas o que vou fazer é chamar o seu supervisor. Ele parecia muito chateado por alguém como eu, ou seja, com menos status que ele, estar falando com ele daquele jeito.
— Não, por favor! Ana interveio. A culpa foi minha, Nat, por favor, vá embora, eu cuido disso. Ela me implorou, com os olhos, para deixá-los em paz.
Sabíamos do gênio que o patrão tinha e não seria a primeira vez que ele demitia um funcionário por um escândalo bem menor que esse. Como ele sempre dizia: o cliente sempre tem razão.
— Tudo bem, mas se você exagerar com ela, terá que lidar comigo! A minha voz ameaçadora chamou a atenção do homem alto, mas sua expressão ainda era séria e sombria, sem um pingo de sentimento.
Saí dali, sem desviar a cabeça daqueles homens idio*tas, vendo Ana limpar, envergonhada e de cabeça baixa, pelo estrago que havia causado.O tempo passou e eu fiquei de olho neles. Não fizeram mais escândalo e na hora de dar a conta, pedi a Ana que me deixasse fazer.
— Você quer que eles consigam que você seja demitida?
— Não, mas deixe esses vaidosos comigo.
Ela não resistiu, a última coisa que ela queria, era ver a cara daqueles nojentos novamente. Eu me aproximei deles com um passo determinado.
— Aqui está. Eu disse a eles rudemente, dando para eles a conta. E eu só espero que você deixe para a minha amiga uma boa gorjeta por seu comportamento arrogante e presunçoso.
— Mas essa moça realmente acha que é alguém? Exclamou o que gritou indignado com Ana.
Prestes a responder, o outro falou:
— Não se preocupe, senhorita... Ele esperava que eu lhe dissesse o meu sobrenome, como era costume na nossa sociedade, mas se eu dissesse, que eu me chamava De la Vega, ele me reconheceria, a minha família era bem conhecida no seu mundo. E eu não podia ser descoberta.
— Nat.
— Imagino da Natália, né? Eu balancei a cabeça. Bem, Dona Natalia, desculpe o meu amigo, ele não deveria ter dito aquelas coisas para a sua amiga.
Eu tinha ouvido corretamente? Ele estava se desculpando? Não era muito comum um homem do seu status se desculpar, muito menos para uma garçonete. Fiquei agradavelmente surpresa e o meu rosto relaxou.
— Obrigado por sua gentileza. Eu disse secamente para a perplexidade do seu companheiro. Certamente ele não concordava com o amigo.
Dito isto, pagou com uma nota de cinquenta dólares com uma nota de cem.
Dê o troco a sua amiga como um pedido de desculpas.
Eu vi e não acreditei, uma gorjeta de sessenta dólares? Quem era aquele homem?
— Obrigado... obrigado. Eu gaguejei, ainda não acreditando no que tinha acabado de acontecer.
Eu me virei e vi que Ana estava me olhando intrigada. Aproximei-me dela sem acreditar no que acabou de acontecer.
— E ai? Ela perguntou impacientemente.
— Ele te deu sessenta dólares de gorjeta. Respondi, sorrindo e mais calma.
— Como? Impossível! Você é a melhor! Ela exclamou euforicamente.
Com o que tinha acontecido, perdi a vontade de comparecer ao encontro que havia marcado. Ele também não era tão bonito, e Ana insistiu em gastar os sessenta dólares em bebidas.
Noite das garotas!