EPISODIO 2

1054 Words
— Nat, estamos atrasadas! Ana estava exagerando, tínhamos apenas quinze minutos para caminhar até o restaurante e trinta minutos para começar o dia. Trabalhamos na mesma empresa. Na verdade, foi ela quem me arranjou esse emprego, junto com um lugar para morar. Ela foi a pessoa que entrei em contato sobre o anúncio de colega de quarto e nos tornamos boas amigas imediatamente. Não tínhamos nada a ver uma com a outra, éramos totalmente diferentes. Talvez por isso nos demos tão bem desde o início. Assim que Ana confirmou o agendamento para me entrevistar, peguei todos os meus pertences e fui até a casa dela, não dando outra opção a não ser ela me acolher. Ainda me lembro de como ela olhou para mim, surpresa, quando apareci com as minhas bolsas Louis Vuitton e um lindo terninho Chanel no seu apartamento. Ele poderia ter recusado, sim, mas não o fez e agradeço ela todos os dias. Depois de ouvir a minha história maluca, ele quis me ajudar a encontrar um emprego. Ela trabalhava como garçonete num restaurante humilde e conversou com o chefe para me dar uma chance. Não era um grande trabalho, mas entre salário, gorjetas e horas extras, conseguia 1.300 dólares por mês, com os quais pagava aluguel, despesas e caprichos ocasionais. No primeiro dia de trabalho... eu parecia uma adolescente começando o ensino médio. Eu nunca tinha segurado uma bandeja nas mãos, nem conhecia as bebidas ou os ingredientes da comida. Eu só conhecia vinhos caros e champanhe, e isso não me fazia muito ma*l quando os clientes eram famílias de classe média e trabalhadora. Com a ajuda de Ana, consegui me acostumar com o trabalho e aprendi em poucas semanas. — Já vou! Eu gritei para ela, saindo do quarto. Ela estava esperando por mim impacientemente na porta da frente com os braços cruzados e o rosto baixo, mas quando me viu, o seu rosto relaxou. — Uau, querida! Você está espetacular. Ela me disse depois de me ver toda maquiada, com cabelos lisos e bem penteados. — Você sabe que vamos trabalhar, certo? — Tenho um compromisso depois do trabalho. — Um, imaginei! Ultimamente você é uma filha da pu*ta, trepadeira. Ela brincou entre risos, ao que respondi com um sorriso triunfante. Ela estava certa, nos últimos meses eu tinha passado de fazer amor água com açúcar com apenas um cara, para fó*der tudo que mexesse, tentando todas as posições que surgiam no Kamasutra. Descobri o se*xo, entre muitas outras coisas, mas foi isso que tornou a minha vida miserável mais suportável. Eu não tinha mais mordomos, criados ou motoristas. Naquela época eu era quem cozinhava, limpava, fazia compras e dirigia. A minha vida deu uma volta de cento e oitenta graus. E eU estava mais feliz do que nunca. Como esperado, chegamos ao restaurante faltando dez minutos para o início do turno. Esperamos na porta, fumando um cigarro. Sim, eu também tinha começado a fumar! Se a minha mãe me visse com um cigarro na boca, ela gritaria aos céus. Felizmente, ela não conhecia aquele lugar. Na verdade, nem sabia que eU trabalhava como garçonete. Deus me salvou! Eu tinha certeza de que, se ele descobrisse o meu segredo, me trancaria num hospital psiquiátrico, que costumava ser chamado de manicômio. Porque quem em sã consciência trocaria uma vida de luxo por uma que m*al consegue sobreviver? — O cigarro vai te matar. A minha amiga disse tirando o cigarro da minha boca, como ela sempre fazia. — Vou ter que morrer de alguma coisa. Eu pisquei para ela, mas ela não gostou. Ele se preocupava com a minha saúde, mesmo sendo perfeita. Mais eu fumava pouco, em situações bem específicas, nada com que se preocupar. Era hora de entrar. Vestimos os uniformes e começamos a organizar o refeitório, esperando os primeiros clientes chegarem. Era a mesma rotina todos os dias, certificando-se de que todas as mesas estavam bem distribuídas e com tudo o que era necessário para um bom atendimento. Entre todos os garçons, por ordem do chefe da sala, distribuímos as mesas que cada um de nós deve atender. Naquela noite, eu fiquei do lado direito. Um grupo de quatro homens mais velhos entrou. Essas eram a minha especialidade, porque costumavam deixar mais gorjetas. — É meu! — Eu me antecipei, gritando para o resto dos colegas antes dos seus olhares furtivos. — Você é uma filha ... Ana gritou, mas não conseguiu terminar a frase, eu já havia saído para sentá-los em uma das minhas mesas. Eu os recebi imediatamente com um dos meus melhores sorrisos. Já estava cheirando a um bom dinheiro extra! Natália, que te viu e que te vê. Fiquei eufórica por uma gorjeta de cinco dólares, quando há uns meses eu tinha quanto dinheiro eu quisesse. A noite transcorreu calmamente, sem nenhum incidente em particular.Talvez fosse até meio chato. Normalmente, sempre tinha um cliente que bebia demais e tínhamos que expulsá-lo; ou outros zangados porque demoramos muito para trazer um prato para ele. Mas não, já se passaram duas horas desde o início do turno e todos estavam comendo à vontade. Enquanto eu tirava os pratos de uma mesa que havia terminado, ouvi a porta da frente se abrir. Dois meninos entraram, um pouco mais velhos que eu, mas sua aparência se destacava do resto dos clientes. Vestiam ternos luxuosos de grandes estilistas e conversavam entre si com elegância e sofisticação. Eu podia reconhecer a minha espécie à distância, e aqueles dois pertenciam ao mundo de onde eu vim, sem dúvida. — Onde você me trouxe? Ouvi o mais alto dos dois reclamar com um sotaque estranho. — Não encontrei nada de última hora. — Se você tivesse me dito, eu poderia ter ligado para minha secretária, ela teria encontrado algo com mais... Ele deu uma visão geral de todo o estabelecimento. — Categoria. Essa atitude não me surpreendeu em nada. Aqueles m*alditos vermes sempre faziam a mesma coisa. Desacreditavam de tudo que não tivesse grande valor econômico. Ela tinha certeza de que se servisse mer*da de cachorro com uma flor em cima num restaurante com várias estrelas eles teriam elogiado, mas mesmo comendo a melhor comida num lugar que não era adequado para seu status social, eles nunca reconheceriam isto. Eu não gostava de caras assim! Eu tinha aprendido a odiar.
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