Capítulo 02 Clara

1056 Words
Clara narrando Hoje vai ser nosso primeiro dia como entregadoras de luxo. Aff… foi o nome mais bonito que consegui pensar. Não quero ninguém me chamando de "mula". Somos bonitas, cara de patricinha… quem vai desconfiar? Ontem o Joca deu a bolsinha cheia. Vamos fazer dinheiro. Como meu cabelo é grande e volumoso, dá até pra esconder no meio e sair no lucro. A gente se arrumou: bolsinha, óculos escuros e tênis confortável. Ideia é evitar problema e só voltar quando acabar tudo. Gabi — Aí, mona… tô com um pouco de medo. Sei que vai dar certo, mas não podemos cair nessa pørra… — ela está um pouco desacreditado, tá botando fé que nós damos conta do recado. — Calma, princesa… vai dar tudo certo. Qualquer coisa, ligamos pra minha cunhadinha. Ela resolve qualquer B.O. — falo lembrando que a irmã do Breno é advogada. Gabi — Tu ainda não terminou com ele, sua vaca? Tá traindo o moleque na cara dura com o Joca. Tu é pørra louca mesmo, hein? — Eu revirei os olhos e respirei fundo. — Mulher… namoro com ele desde os 13. Não vou chegar e terminar do nada. Vou me afastando aos poucos… aí sim, termino. Gabi — Assim espero, pørra… Breno não merece ser enganado. Apesar de ser Mauricinho, filhinho de papai, ele é gente boa. Merece que tu jogue limpo, Clara. — Já entendi, tá? Agora chega, não enche minha cabeça. Eu sei o que tô fazendo. Peraí… esqueci de me apresentar. Sou Clara, 16 anos, 1,60 de altura, morena clara, corpo perfeito. Namoro com o Breno desde os 14, mas ele é muito sem sal. Gosto de adrenalina, do perigo… tem uns três meses que tô dando uns beijinhos no Joca. Bandidø gostoso, daquele tipo que geral faria de tudo pra sentar. Nos conhecemos desde o fundamental. Sempre fomos amizade responsa. Sou a única que troca ideia com ele e dá conselho. O cara é bruto… sem massagem nem com os de dentro. Mulher? Só pente e rala. Ele não se apega. Eu sou a única que já beijou aquela boca. Entre a gente é só curtição, sacou? Gabi — Tá pensativa, pïranha? Que foi? — Ela me cutucou, aquele sorriso debochado de sempre. — Nada, mona… simbora. Quero voltar cedo hoje e com muita grana. Bora! — Gabi deu de ombros, mas o olhar dela ficou sério por um segundo… antes de voltar ao deboche de sempre. Gabi — Demorô. Vamos de Uber, né? Tô sem paciência pra enfrentar busão. — eu franzi a testa e segurando o riso. Em poucos minutos estávamos dentro do carro, em silêncio. O motorista até tentou puxar assunto, mas Gabi respondeu tão curta que ele largou mão. Ela sabia que eu não tava no clima… e isso era raro. Gabi nunca respeitava o momento de ninguém… mas naquela noite, respeitou o meu. A manhã tava quente, abafada como sempre… mas minha mente era tempestade. Enquanto o Uber cruzava as ruas do centro, saindo da comunidade, fiquei quieta, com os olhos fixos na janela. A luz do sol refletindo no vidro… mas era impossível ignorar o nó no peito. Chegamos no centro. A galera já tava lá, espalhada pelas calçadas, nas esquinas. Fizemos o corre, como sempre… eficientes, rápidas. No fim do dia, os bolsos tavam cheios… mas a cabeça? Mais vazia que nunca. Voltamos pra quebrada, cada uma pro seu canto. O Uber me deixou perto de casa. Enquanto subia o beco, meu coração acelerou. Eu sabia o que tinha que fazer… mas não tornava mais fácil. Entrei sem bater… e lá tava ele: Breno. Sentado no sofá, controle remoto na mão, parecia tão tranquilo, tão seguro de si… que me deu raiva. Ele olhou pra mim, aquele sorriso fácil no rosto… mas logo percebeu que tinha algo diferente. Breno — Chegou cedo hoje… tá tudo bem? — perguntou batendo na perna pra eu sentar . — Não, Breno. Não tá. — respondi minha voz saiu firme, mais do que eu esperava. Ele largou o controle na mesa, se inclinando pra frente, curioso. Breno — O que foi agora? Mais uma das tuas crises? — Revirei os olhos, respirei fundo. Ele adorava provocar, mudar o foco, mas hoje… não. Hoje não ia funcionar. — Não é crise, Breno. É decisão. E a minha decisão é que… acabou. — falei seria e ele franziu a testa. Por um segundo, o silêncio tomou conta do cômodo. Ele me encarou, confuso, como se não tivesse entendido. Depois, soltou uma risada debochada. Breno — Tá de sacanagëm, né? Acabou o quê? — perguntou sorrindo desacreditado. — Nós dois. Essa relação. Essa merdä toda. Eu não aguento mais, Breno. — Falei e o sorriso sumiu na hora. Agora ele me olhava sério, a mandíbula travada. Breno — Clara, cê tá maluca? Depois de tudo que eu fiz por você? — Eu respirei fundo porque eu sabia que ia ser assim. — Fez o quê? Me prender aqui? Me manipular? Breno, você só faz as coisas por você mesmo. Eu tô cansada de viver nessa prisão que você chama de amor. — Abri a boca pela primeira vez e joguei tudo pra fora. Ele se levantou, corpo tenso, tentando me intimidar. Sempre foi assim, mas hoje… hoje eu tava pronta. Breno — Você não vai a lugar nenhum, Clara. Quem é que vai te proteger, hein? Quem vai te ajudar quando tudo der errado? — Dei um passo pra trás, mas mantive a cabeça erguida. — Eu me protejo, Breno. Eu me cuido. Não preciso de você pra isso. — Eu falei e ele riu de novo, mas agora… era um riso amargo, cheio de desprezo. Breno — Tá achando que vai se dar bem sozinha? Vai acabar voltando aqui, de rabø entre as pernas, implorando pra eu te aceitar de volta. — Ele falou e a raiva subiu, mas eu segurei. Não valia a pena. — Se eu voltar… é só pra te mostrar que eu consegui. Que eu fui maior que tudo isso aqui. — Falei o que eu achei necessário. Ele ficou calado, e eu nem esperei resposta. Peguei minha bolsa e saí. Enquanto descia o beco, meu coração batia tão forte que parecia querer explodir. Mas era isso. O ponto final que eu precisava. E dessa vez… não tinha volta. Continua......
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