Otávio Santore
Me recosto na minha cadeira, mordo meus lábios com força, me sinto exausto depois de uma longa manhã de trabalho. Ainda mais por passar quase 3 horas em uma reunião discutindo contratos de parcerias e possíveis novos sócios. Foi exaustivo, já são meio-dia e meia e ainda estou avaliando o currículo para novos designers de joias, pois no momento só tem 4, contando comigo, e a Joalheria Santore está crescendo, preciso expandir nossos modelos de joias, para assim, quem sabe daqui a alguns anos eu não consiga abrir outras filiais não só aqui pelo Brasil, mas internacionalmente também.
Mas exaustivo mesmo foi driblar minha mãe, mas o que um bom terno não ajuda a esconder não é mesmo? Apesar de ela insistir em saber o porquê dos meus olhos vermelhos, consegui desviar do assunto falando que era apenas uma irritação nos olhos por causa do xampu, mas foi tocar no assunto João e sobre seus netos que ela logo mudou o rumo da conversa e deixou outros mais perigosos de lado, não vou envolver minha mãe nisso, não depois de ver sua recente felicidade.
Voltando ao agora tenho que me dedicar a isso, não é só o meu trabalho, uma obrigação, mas é algo fora meu piano que me mantém são. Então tenho que me dar 100% a minha rede de Joalheria, e fazê-la crescer ainda mais.
Estou concentrado em meio à alguns papéis quando escuto o telefone fixo em minha mesa tocar.
- Márcia? - Pergunto a assim que tenho o mesmo no ouvido, pego meu celular em cima da mesa e vejo que tem alguns e-mails para responder de negócios.
- Senhor, Marcelo Oliveira pede para falar com você, diz que o senhor o conhece. - Arregalo um pouco meus olhos, surpreso pela repentina visita.
- Claro, peça para que entre. - Mordo meus lábios com força, não deixando a raiva me dominar.
- Sim Otávio. - Coloco o telefone de volta no gancho e olho para meu computador, abrindo meu e-mail respondo logo alguns, o que me leva uns 4 minutos, que é quando minha porta se abre e por ela passa Marcelo Oliveira, meu amigo desde a escola, éramos um trio, mas infelizmente, nossa amiga não está mais entre nós. Marcelo continua o mesmo, só sua aparência que parece mais velho e maduro. Seus cabelos pretos cacheados estão agora curtos, apenas uns pequenos cachinhos revoltos no topo da cabeça, sua pele n***a, lábios grossos e um sorriso fácil, seus olhos azuis brilhosos e com o mesmo carinho que sempre vi direcionado a mim e a Val.
- Olha se não é meu amigo desaparecido. - Ele sorri para mim, vindo em minha direção, me levanto e sigo até seu encontro, paro em sua frente, nossos olhos colados um no outro. Então o pegando de surpresa levo minha mão até a sua orelha, fazendo ele se abaixar até quase ficar na minha altura, ele é uns bons centímetros mais alto do que eu. Ele reclama de dor, mas não o solto.
- Seu puto i****a, como ousa chegar na minha sala desse jeito? Eu desapareci? Vagabundo, você se casou, SE CASOU, e nem uma maldita ligação fez para mim, não me disse nada. - Falo descontando toda minha frustação em cima dele, fiquei sabendo do seu casamento pelas lindas fotos no i********:, e ele só me falou porque eu liguei para ele e o maldito disse que estava em lua de mel e não podia falar. - Você me paga por isso.
- Calma aí baixinho, eu não te falei nada por que sabia que você não viria. - Ele fala apressado e com sua voz grossa um tom mais alto. Solto sua orelha e empurro seu peito. Sei que ele tem razão, mas poxa, eu merecia ficar sabendo, ele devia ter me falado.
- Você é um i*****l, isso não justifica nada. - O olho e ele tem um sorrisinho nos lábios. - Senti sua falta, agora vem aqui, - Abro meus braços. - Vem dar um abraço no seu amante. - Ele gargalha alto. E eu abro um sorriso, talvez o único verdadeiro dado depois do episódio de mais cedo.
- Por Deus, você não seria meu amante nem que fosse a última pessoa na terra, quem te aguentaria? - Coloco minha mão sobre meu peito e dou um passo para trás fazendo uma expressão dolorosa. Posso estar brincando, e sei que suas palavras são apenas uma provocação, mas também sei lá no fundo, que realmente ninguém me aguentaria, ninguém me amaria.
- Eu vou anotar isso, você me magoou real.
Rimos, mas logo ele se aproxima e bagunça meus cabelos.
- p***a, não perde essa mania i****a?
- Não mesmo, adoro mexer nos cabelos dos meus irmãozinhos. - Sorrimos triste. Ele sempre fazia isso com Val também.
- Ela estaria feliz por você, você se casou, o que sempre sonhou, vai formar sua própria família, não apenas viver enfiando num escritório de advocacia, era tudo o que ela temia, que você não conseguisse alcançar seus dois maiores sonhos, e olha só onde você está...- Nossos olhos estão marejados agora, uma dor no meu peito se faz presente, o choro preso na garganta. - Você conseguiu.
Então nos abraçamos, afundo minha cabeça em seu peito, sentindo o cheiro de casa, Marcelo, Val e minha família sempre foram minha casa.
- Você vai realizar os seus também baixinho. - Sorrio triste em seu peito. Ele me conhece tão bem, mas não ao ponto de ver por trás da minha felicidade, já que eu não quero que nenhuma das pessoas que eu amo conheça esse meu lado, então eu me tornei bom em escondê-lo. Meu lado obscuro. - Senti sua falta, amigo. Meu irmãozinho.
- Também senti a sua Ma.
Nos afastamos eu indico a cadeira vazia em frente minha mesa, dou a volta e me coloco sentado em minha cadeira.
- Você tem que conhecer meu marido. Ele é tão lindo, carinhoso e inteligente, tenho certeza de que vocês irão se dar muito bem, tenho certeza. - Seus olhos brilham, felicidade cobrindo todo o azul intenso, e fico feliz em ver isso, quando Val se foi, ele tinha perdido esse brilho, pois ele também se sentia culpado por não ter feito nada para nos ajudar, sentia culpa pela morte de Val, e pelos pesadelos sem fim que eu tive durante uns 4 meses depois da morte dela, ele tentou de tudo, mas nada adiantou, eu continuava a acordar assustado e com muito medo, mesmo que algumas noites eu passasse embalados em seus braços protetores, claro que eu me sentia um pouco em paz, mas os pesadelos não me deixavam.
Quando estava a poucos dias de viajar, eu o fiz prometer que ele ficaria aqui, pois ele estava com tanto medo de eu ir sozinho para fora do Brasil, que estava disposto a desistir dos seus sonhos, ele tinha sido aprovado na melhor faculdade de advocacia aqui do Brasil, eu não podia deixar ele fazer essa loucura, então em todos esses anos, assim como com minha família, só o vi 2 ou 3 vezes, em mais de quase 5 ou 4 anos que eu estava fora. Mas sempre mantive contado com ele.
- Vai ser maravilhoso conhecer seu amor. - Pisco um olho para ele, estando realmente feliz em vê-lo tão cheio de felicidade e amor. - Não tem medo de que eu conte seus segredos? - Pergunto, meus olhos se estreitando em sua direção.
- E que segredos seriam esses? - Ele retruca, avançando seu corpo para mais perto da minha mesa.
- Ue, que você me largou sozinho para ficar com ele, eu vou dar um show e tanto, prometo até chorar. - Faço cara de cachorrinho. Meus olhos até lacrimejam de verdade. - Ele rir.
- Você não tem limites.
- Olha que com isso eu concordo. Me mostra uma foto.
- Uma foto de que?
- Do seu marido ora.
- Tá louco? Você vai querer roubar ele de mim quando ver quão bonito ele é.
- Sinto muito querido se você se sente ameaçado pela minha beleza. - Sorrio para ele, que balança a cabeça em negativo.
Conversamos por umas longas horas, até que ele tem que ir embora por causa de sua agenda cheia de advogado bem requisitado.
Foi realmente bom ver um dos meus melhores amigos, na verdade ele continua sendo o único, depois que Val se foi, não consegui fazer amigos, mantenho contatos com alguns colegas da faculdade, uns que ainda valiam a pena, mas nenhum que cheguei a considerar amigo.
- Não some, ok? Vou te mandar uma mensagem para marcamos de sair. Não me ignore ou deixe no vácuo, se não venho aqui e te bato até tu esquecer o próprio nome. - Rio, me recostando sobre minha cadeira.
- VOCÊ ME AMA DEMAIS PARA ISSO. - Grito quando ele passa pela porta e some.
Foi bom encontrar meu amigo, um pouco de alegria em meio ao meu caos.