A Proposta Indecente do CEO

1494 Words
Não dormi aquela noite. A raiva me queimava por dentro, o medo tentava se esconder atrás dela, e o nome dele — Leonardo Valença — repetia na minha cabeça como uma maldição. O relógio marcava seis e meia da manhã quando desci pra cozinha. Minha mãe estava sentada, pálida, com os olhos vermelhos. Meu pai nem apareceu. A comida na mesa parecia um enfeite inútil. — Ele vai voltar hoje — ela disse, num fio de voz. — E eu não quero estar aqui quando isso acontecer. Ela segurou minha mão. — Ele não é homem de brincadeiras, Isabella. — E você acha que eu vou aceitar ser trocada como se fosse um cheque? As lágrimas dela foram a resposta. O desespero estampado no rosto da minha mãe me fez entender que aquilo era real. Fui até o quarto, peguei uma mochila e comecei a jogar roupas dentro. Não tinha destino, mas tinha certeza de que precisava sair dali. Quando coloquei a mão na maçaneta da porta, ouvi passos firmes. A voz dele ecoou como aço. — Vai a algum lugar, senhora Monteiro? Virei devagar. Leonardo Valença estava ali — de terno preto, camisa branca aberta no colarinho, relógio caro no pulso e aquele olhar frio que me atravessava como faca. — Não tem o direito de entrar aqui. — Tenho todos os direitos do mundo sobre o homem que me deve milhões. — Meu pai pode pagar de outra forma. — Já pagou — respondeu ele. — Com você. Soltei a mochila e avancei um passo. — Isso é sequestro. — É um contrato — corrigiu. — E um acordo de perdão. — O senhor é repugnante. — Ou prático. Depende do ponto de vista. Ele andou pela sala, observando cada detalhe, como se estivesse analisando uma propriedade que acabou de comprar. — Linda casa. Uma pena que esteja hipotecada. Senti o sangue ferver. — O senhor já destruiu o suficiente. — Ainda não. — O olhar dele voltou pra mim. — Só termina quando o seu nome estiver no mesmo documento que o meu. — O senhor tem noção do que está fazendo? — Absoluta. — Um meio sorriso cruzou os lábios dele. — Estou me casando com a filha do homem que tentou me enganar. — O senhor é frio demais. — É o que o mundo exige. A calma dele era o que mais me irritava. Nenhum arrependimento, nenhuma hesitação. Só certeza. Meu pai apareceu no topo da escada, abatido, envergonhado. — Senhor Valença… Leonardo ergueu uma mão, cortando o ar. — Sem discursos. Já dei tempo demais. — Eu preciso de mais um dia. — E eu preciso de uma garantia. — Ele me olhou novamente. — Ela ainda não deu o sim. O silêncio foi cortante. — Eu nunca vou me casar com você — declarei, cada palavra cuspida como veneno. Ele inclinou a cabeça, como se estudasse minha reação. — Nunca é muito tempo. — Não existe nada que o senhor possa fazer pra me forçar. — Engano seu. — Ele enfiou a mão no bolso e tirou um envelope. — Mandado de prisão. Assinado. Meu pai empalideceu. — Não... por favor, senhor Valença, não faça isso. — Então convença sua filha. — A voz dele era gélida. — Tem até o meio-dia. Ele saiu, deixando o papel sobre a mesa e um silêncio que parecia gritar. Subi correndo pro quarto e bati a porta. As lágrimas finalmente vieram, quentes, incontroláveis. Como alguém podia ser tão c***l? Eu nem o conhecia, e ele já havia acabado com tudo. Fechei os olhos e respirei fundo. Eu não podia ceder. Não podia me deixar dobrar por um homem como ele. Mas quando olhei pra baixo, vi meu pai ajoelhado no corredor, implorando. — Filha, por favor... não deixa que me levem. Meu coração se despedaçou. — Pai, o senhor me vendeu! — Eu errei! Mas juro que não queria que chegasse a isso. — Então por que não deixa ele te prender? Ele chorava. — Porque não quero morrer na cadeia. Deus… era como se o mundo inteiro estivesse contra mim. Às onze e quarenta e cinco, o som de pneus no asfalto anunciou o que eu mais temia. Leonardo havia voltado. Abriu a porta sem bater, como se já fosse dono de tudo. — Já tomou sua decisão? Cruzei os braços. — A minha decisão é não aceitar essa loucura. — Então ele vai preso. — Pegou o telefone e começou a discar. — Delegado Cordeiro, o mandado pode ser executado. — Espere! — gritei. — O senhor não pode fazer isso! Ele travou o olhar em mim. — Posso, e vou. — Por quê? — As lágrimas escorriam, mas eu não me importava. — O que o senhor ganha com isso? — Justiça. — Isso não é justiça, é vingança! — São sinônimos no meu mundo. Ele baixou o telefone e se aproximou, devagar. — Eu te avisei que tinha uma escolha. Está desperdiçando. — O senhor é um covarde. — Um covarde não oferece acordos. Ele destrói sem aviso. — E o senhor está me dando um aviso? — Estou te dando uma chance. As palavras saíram carregadas de ironia, mas os olhos dele... havia algo mais ali. Não piedade — mas um tipo estranho de fascínio. Ele estendeu a mão, como se esperasse que eu aceitasse o inevitável. — Diga sim, e tudo termina. Por um instante, me vi tentada a ceder só pra acabar com aquilo. Mas a raiva me manteve firme. — Eu não sou uma moeda de troca. — É exatamente o que é. — A voz dele baixou, rouca. — Um preço que ele precisa pagar. — O senhor é um monstro. — Já ouvi isso antes. — O sorriso frio apareceu de novo. — E sabe o que é pior? Sempre é dito por alguém que, um dia, acaba se rendendo. Senti o coração disparar. — Eu nunca vou me render a você. — Nunca é uma palavra perigosa, Isabella. Ele se aproximou ainda mais. O perfume dele — amadeirado, marcante — me cercou. — Se me odiar te ajuda a sobreviver, odeie. Mas não tente me desafiar. — E por que não? — Porque sempre venço. À tarde, ele marcou presença como se a casa fosse dele. Andava, falava com os seguranças, dava ordens. Minha mãe apenas observava, tentando não chorar. Quando o relógio marcou onze da noite, ele reapareceu, sem terno, apenas com a camisa aberta no colarinho. — Ainda acordada? — Estou tentando entender como um homem dorme depois de destruir uma família. Ele parou diante da janela. — Eu não destruo famílias. Eu cobro consequências. — É isso que diz pra se sentir menos c***l? — É isso que digo pra me lembrar de quem sou. Houve um silêncio pesado. Pela primeira vez, notei que ele parecia cansado, mas o controle ainda estava ali, intacto. — O senhor não sente nada, não é? — Sinto. — Virou-se lentamente. — Nojo de mentiras. — Então devia sentir nojo de si mesmo. Ele riu. — Tente algo novo, Isabella. Suas provocações estão previsíveis. — E as suas ameaças estão patéticas. Por um segundo, os olhos dele brilharam, perigosos. — Cuidado com o que diz. — Vai me prender também? Ele deu um passo à frente. — Eu poderia fazer pior. — Como o quê? — desafiei. O silêncio entre nós ficou denso. Ele me olhou de cima a baixo, sem pressa, com um olhar que misturava raiva e desejo. — Você não quer saber a resposta. O calor subiu pelo corpo. Era ódio, era medo, era algo que eu não conseguia controlar. Ele se aproximou mais um pouco, e eu senti o ar sumir. — Amanhã às nove — disse, firme. — Estaremos no cartório. Vista algo branco. — Eu não vou. — Vai. — O senhor não pode me obrigar. — Posso fazer o seu pai implorar de novo. Fechei os olhos. Era demais. — Eu vou acabar com você — murmurei. — Um dia, eu vou fazer você pagar por tudo. — m*l posso esperar pra ver. — Ele virou as costas e caminhou até a porta. — Boa noite, futura senhora Valença. A porta se fechou, e a raiva me consumiu. Joguei o copo na parede, o som do vidro quebrando ecoou pela sala. Meu corpo tremia, meu coração parecia um tambor. Odiá-lo era fácil. O difícil era lidar com o efeito que ele causava em mim. Aquela presença… dominava o ar, o espaço, até os meus pensamentos. Subi pro quarto e me sentei na cama. O luar entrava pela janela, banhando o quarto de um branco frio. Olhei para as próprias mãos e fiz uma promessa. Se ele acha que vai me possuir, vai descobrir que o preço de me ter é mais alto do que qualquer dívida que meu pai criou. E se esse casamento acontecer, não será um contrato. Será uma guerra.
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