Despejei o cereal em uma tigela para mim e peguei outra para Melissa assim que ouvi seus passos no corredor.
Ela entrou sonolenta na cozinha e sentou, se escorando na bancada.
- Cereal? – perguntei. Ela afirmou com a cabeça, bocejando – Dormiu bem?
- Não consigo me lembrar da última vez que dormi em um colchão que preste.
Sorri.
Eu já havia feito milhares de tentativas de convencê-la a morar comigo, mas ela nunca aceitava. Gostava de ir e vir quando quisesse e odiava se apegar a qualquer coisa. Ela vivia pulando por aí, de um quartinho nos fundos de algum lugar à um quarto de pousada caindo aos pedaços e depois a hotéis menos cinco estrelas. Como ela sempre gastava o dinheiro que ganhava com qualquer coisa que não fosse o aluguel, ela sempre ia embora antes de começarem a cobrar, sem deixar rastros.
Quando alguma coisa dava errado, ela costumava ir dormir de baixo de uma ponte ou em algum buraco na parede. Atualmente ela vinha para cá, como agora. Provavelmente ficaria uma ou mais semanas, até achar um lugar r**m com um dono i****a para ficar por um mês e vazar.
- Vai fazer algo hoje? – ela perguntou enquanto comia.
- Não sei. Talvez tentar ganhar de volta os quinze mil que você levou de mim.
Ela fez uma careta.
- Cara, você deveria começar a usar aquele pênis de borracha que veio de brinde na bolsa que roubou. Você está precisando.
Eu ri.
- Vou pensar sobre isso.
Ela sorriu.
- Eu estava pensando... – ela fez uma pausa para mastigar.
Encarei ela.
- O que?
Ela fez um gesto impaciente com a mão.
- Posso terminar de ingerir meu alimento?
Revirei os olhos e esperei ela terminar.
- Estava pensando se você não podia me levar num lugar desses para eu ganhar dinheiro jogando também – ela disse, por fim.
Larguei a colher na tigela e apoiei os braços na bancada, olhando séria para ela.
- Você sabe jogar algo, pelo menos?
Ela deu de ombros.
- Alguns jogos – ela fez uma pausa – E pôquer também – ela começou a mastigar novamente, mas fez menção de que iria continuar falando, então esperei – Aprendi nas ruas, apostando drogas – ela riu.
Peguei a tigela vazia dela e levei até a pia.
- Eu não acho que um grupo de pessoas drogadas jogando pôquer seja realmente um jogo de pôquer.
- Hei! – ela protestou, se fingindo de ofendida – Eu ganhei muitas drogas assim.
Ergui as sobrancelhas, descrente.
- Pessoas drogadas não sabem o que estão fazendo.
- Ok, então – ela apoiou os braços na bancada e se inclinou para frente – Vamos dizer que eu saiba as regras do jogo.
- Saber as regras não é saber jogar – falei.
- Mas já é um começo – ela retrucou.
Encarei ela por tempo indefinido, depois suspirei e puxei uma banqueta para sentar.
- Quer mesmo fazer isso? – perguntei.
- Quero ganhar dinheiro e te pagar...
- Já disse que não me deve nada – interrompi ela.
- Devo sim! – ela foi mais firme – E mesmo que não devesse, não quero mais ficar dependendo de você para tudo.
- Você não depende.
Ela revirou os olhos e me olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Sério? – perguntou, irônica.
Não pude evitar um sorriso.
- Tudo bem.
Levantei e fui até meu quarto atrás de um baralho. Eu sempre tinha vários deles espalhados por todos os cantos. Peguei o primeiro que vi e voltei para a cozinha.
- Se você quer mesmo fazer isso, então vamos fazer – comecei a dispor as cartas na mesa – Você já sabe as regras, então não tenho que ensinar novamente.
- Só tem que me ensinar a ser boa.
- Não se ensina a ser boa, você tem que aprender sozinha. Isso vem com a experiência. Ao contrário do que muitos pensam, o mais importante é saber levar o jogo.
- Como assim? – ela perguntou, a testa enrugada.
- Assim que comecei a jogar eu também só sabia as regras – falei, ainda separando as cartas uma por uma – Hoje eu sei jogar, antes eu sabia levar o jogo. Antes de ser uma boa jogadora, você tem que ser uma excelente atriz.
- Eu posso fazer isso – ela disse, convencida, esticando a mão para pegar a garrafa de gim em cima do balcão.
Dei um tapa em sua mão e peguei a garrafa antes dela, colocando-a em cima da pia, longe de seu alcance.
- Au! – ela reclamou.
- Primeira regra do jogo: nada de jogar bêbada ou chapada, entendeu? – olhei séria para ela e coloquei a última carta na mesa – Se quiser se drogar, faça isso depois, não antes do jogo.
- Entendi – ela balançou a cabeça.
Ergui uma sobrancelha.
- Pode lidar com isso?
- Perfeitamente.
- Ótimo. Vamos começar – sentei na banqueta de frente para ela – Primeiro de tudo, você tem que saber ler a pessoa que está sentada na sua frente. Preste atenção em tudo, todos os detalhes. Se for um cara rico, burro e que se acha o dono do mundo, melhor ainda – sorri – Presa fácil. Você aposta. Se eles negarem porque é mulher, e acredite, eles vão fazer isso, é só mostrar uma boa quantia de dinheiro. Nem pouco, nem muito. O suficiente.
- E quando eu não tiver dinheiro em mãos? – ela perguntou.
Encarei ela, não acreditando que ela tinha mesmo perguntado isso.
- Então não vai jogar – respondi – Você sempre tem que ter dinheiro em mãos. Regra número um.
- Mas a regra número um não era...
- Número dois, Melissa! – interrompi – Tanto faz. Foca aqui, ok?
- Eu estou focada! – ela protestou.
- Continuando... – peguei a garrafa de gim e botei um pouco em um copo – Você mostra o dinheiro e eles vão te olhar e pensar: dinheiro de graça – revirei os olhos e virei a bebida – Deixe eles acharem que é. Perca a primeira. Não precisa de muito esforço para isso, não é? Perca a segunda também. Aumente a confiança deles. Deixe eles pensarem que são invencíveis. Então faça uma cara de raiva, de frustrada ou de desesperada. Qualquer coisa que os convença que você precisa de uma revanche. Eles sempre querem mais dinheiro, vão aceitar na hora. Vão estar tão convencidos, e provavelmente tão bêbados, que vai ser fácil. E então... Pam! – batio copo com força – Leve todo o dinheiro deles.
Ela sorriu.
- Devo sair correndo como você sempre faz?
Botei mais gim para mim.
- Só se te ameaçarem ou se roubar deles – virei o copo e olhei para ela – Não tente roubar deles.
- Não vou – ela sorriu e juntou as cartas, embaralhando todas. Olhou para mim com um sorriso desafiador – Quer jogar?
...
Fui recebida calorosamente pelas batidas altas do som e as luzes fluorescentes dançando para lá e para cá. Sorri. Eu estava em casa. Aquela era minha área.
- Vem atrás de mim – disse para Melissa – Não se perca.
Me dirigi aos fundos, onde havia uma escada que levava para baixo. Era lá que as apostas eram dadas. Era lá que o jogo acontecia.
Dei um sorriso caloroso para o segurança ao lado da escada. Eu frequentava aquela casa noturna há bastante tempo, então já conhecia cada canto e cada pessoa dali.
- Oi, bonitão – disse a Marcus.
Ele retribuiu com um sorriso.
Tinha no mínimo 1,90 de altura, porte atlético e cara de perigo. Não dava para ver por conta do terno, mas eu sabia que aquele corpo era cheio de tatuagens. Os alargadores nas orelhas e o piercing nos lábios o deixavam ainda mais sexy.
Hoje eu estava ruiva e com um vestido azul, mas ele me conhecia muito bem. Sabia exatamente quem eu era.
- Hoje a noite está boa? – perguntei – Acha que posso ganhar alguma coisa?
- Você sempre ganha – ele disse com a voz rouca – Nem que seja um beijo.
Sorri maliciosamente. Ele era um pedaço de m*l caminho, então obviamente eu já havia me envolvido com ele. Mais de uma vez, para falar a verdade.
- E a minha amiga aqui? – apontei com a cabeça para Melissa – Acha que ela consegue ganhar alguma coisa?
Ela estava usando uma peruca loira cacheada com um vestido que mais parecia uma blusa e botas pretas que iam até a metade da cocha.
Ele sorriu enquanto inspecionava ela de cima a baixo.
- Tenho certeza que sim.
Sorri.
- Ótimo.
Nas pontas dos pés, dei um beijo rápido em seus lábios e desci as escadas com Melissa logo atrás de mim.
- Então seu m*l humor não é falta de sexo, no fim das contas – ela comentou perto do meu ouvido.
Eu ri.
- Pois é, amiga – falei – Não preciso de um pênis de borracha.
Parei na base da escada e olhei ao redor. Praticamente todas as mesas estavam preenchidas, com jogos já em andamento. Me aproximei de uma mesa em que o jogo já estava ganho para um garoto que não parecia ter mais de vinte anos.
Observei enquanto ele derrotava um senhor, aparentemente mais rico, com uma facilidade espantosa. Não me intimidei. Não queria dizer que o garoto era inteligente, só que o velho era burro. Acontece...
- E eu ganhei! – o garoto deu um grito, jogando as cartas em cima da mesa.
Revirei os olhos e me voltei para Melissa.
- Por favor, se não ganhar desse garoto, vou te dar um chute na b***a tão forte que você vai parar em Marte.
Ela fez uma careta.
- Você não é nada intimidante – ela disse irônica, enquanto observava o velhinho se levantar, derrotado.
- Vou ficar te observando, mas vai ter que fazer tudo sozinha.
Ela balançou a cabeça e, com um suspiro, se dirigiu até o garoto que contava o dinheiro na mesa.
- Oi – ela disse com uma voz sedutora, lançando a ele um sorriso encantador.
Ele desviou os olhos do dinheiro e olhou ela dos pés à cabeça. Um sorriso malicioso surgiu em seu rosto.
- Oi, boneca.
Ela riu, como se tivesse gostado do comentário. Tinha que admitir, ela era boa fingindo.
- Posso sentar? – ela perguntou.
- Só se for jogar – ele riu da própria piada.
- Mas eu quero jogar.
O riso dele se desmanchou quando ele viu que ela estava falando sério. Achei que ele fosse falar algo, mas apenas olhou ela de cima a baixo novamente.
- Você tem dinheiro? – perguntou, por fim
Ela sorriu enquanto colocava a mão dentro do sutiã e tirava um maço de dinheiro de lá.
- É claro que eu tenho dinheiro.
Os olhos dele brilharam ao ver a grana. Ele riu.
- Então você tem dinheiro e gosta de se divertir jogando?
Ela balançou a cabeça na afirmativa, ainda com o sorriso sedutor nos lábios.
Ele encarou ela por um tempo. Sabia o que estava pensando. Presa fácil. O plano já estava arquitetado em sua cabeça.
Eu também sabia que ele era burro o suficiente para não desconfiar de nada e aceitar a aposta na hora, sem hesitar. Esses eram os mais fáceis.
- Então vamos jogar – ele disse, lhe lançando um olhar de predador.
Fiquei de escanteio, observando o jogo se desenrolar sem que fosse notada por ele ou atrapalhasse ela.
Como eu havia ensinado, ela perdeu a primeira vez. Ele se vangloriou, depois usou um pouco de charme para convidá-la a ir até sua casa. Ela disse que aceitaria o convite depois de uma revanche, botando mais dinheiro na mesa.
- Tem mais de onde veio esse – ela sorriu.
Eu tinha vendido o relógio de ouro e conseguido vinte e cinco mil nele, então saímos de casa com uma boa quantia no bolso. O suficiente para quadruplicar o valor só naquela noite.
O garoto, como o i****a que era, riu ainda mais e aceitou a aposta. Pior ainda, ele jogou tudo o que tinha na mesa e encarou Melissa.
- Sua vez – ele disse – Tudo ou nada.
O sorriso de Melissa vacilou por um segundo. Em um movimento quase imperceptível, ela olhou para mim sem saber o que fazer. Dei um sorriso. Sabia que não fazia parte da atuação, mas era ótimo ele saber que ela estava assustava. Iria inflamar o ego dele mais ainda.
- E aí, gatinha? – ele perguntou de novo – Vai ou não?
Balancei levemente a cabeça para ela, dizendo que fosse em frente. Ela engoliu em seco e forçou um sorriso vacilante, tirando o resto do dinheiro de dentro do vestido.
- Vou.
O garoto bateu palma forte e, como era de se esperar, cantou vitória cedo demais. Tão fútil. Tão inocente. Estava pulando no próprio túmulo. Melissa não se sentia tão confiante, mas eu sabia que ela iria levar aquela. Vi quando ela abaixou as cartas na partida anterior, entregando o jogo, mesmo tendo as cartas perfeitas para acabar com ele. Ela era esperta.
Eu disse que ela ia ganhar.
E ela ganhou.
- O que?! – o garoto levantou em um pulo, sem conseguir acreditar – Não é possível!
Melissa sorriu. Continuei observando à distância.
O garoto olhou com raiva para ela.
- Sua p*****a, desgraçada! – ele foi para cima dela – Você me enganou!
Antes que até eu pudesse pensar em alguma coisa, Marcus surgiu entre Melissa e o garoto, encarando ele com aquele olhar de morte que ficava perfeito nele.
Nem precisou dizer nada. O garoto entendeu na hora, dando um passo para trás e, com um último olhar em direção a Melissa, se virando e indo embora.
Sorri enquanto Melissa parecia se recuperar do susto. Fui em direção a ela e Marcus. Botei a mão em seu peito.
- Belo trabalho – comentei.
Ele sorriu.
- Se precisar, é só chamar – ele deu as costas e saiu andando.
Olhei para Melissa.
- Você conseguiu.
Ela olhou para mim, ainda não parecendo acreditar. O sorriso depois do susto começou a surgir em seu rosto.
- Eu não acredit... – ela começou a se empolgar demais, então cortei ela, tapando sua boca.
- Cuidado! – a repreendi – Ainda estamos no jogo. Mantenha as aparências.
Ela calou a boca e se recompôs, tirando o sorriso do rosto.
- Tudo bem – ela suspirou – Quem é o próximo?
- Que tal eu?
Nós duas nos viramos para encarar o homem que havia se aproximado de fininho e se sentado na cadeira.
Ele usava smoking sem o paletó, só com o colete e as mangas da camisa enroladas no braço, de modo que dava para ver uma tatuagem no braço direito. Ele estava sozinho, parecia ter uns trinta anos e tinha um sorriso predatório no rosto.
- Uau! – Melissa disse ao meu lado, suspirando.
Entendia a reação dela. Moreno. Corpo atlético. Alto. Olhos verde-escuro. Cabelos lisos e negros. Ele parecia um deus. Exalava testosterona. Era o tipo de cara que não media esforços para ter em sua cama a mulher que quisesse.
Mas não era isso que me chamava atenção. Era o olhar em seu rosto. Ele não era como os caras com quem eu costumava jogar. Seu olhar era intenso, desafiador e indicava perigo. Eu conhecia esse olhar. Era meu olhar quando eu estava jogando sério, sem joguinhos, sem atuar. Ele não estava ali para brincar, ele sabia o que queria e foi pegar.
Melissa, ainda parecendo enfeitiçada por sua beleza, deu um passo para ir em sua direção, mas a impedi antes que pudesse fazer qualquer besteira. Eu apostava que ela faria de tudo para chamar atenção daquele cara, até perder os vinte e cinco mil que havíamos acabado de ganhar.
- O que você está fazendo? – ela sussurrou para mim, ainda olhando para o cara – Ele chamou para jogar.
- Você não vai – falei.
- O que?! Como assim? Você disse que hoje a noite seria minha.
Suspirei. Teria que dar mais aulas a ela sobre ler as pessoas. No momento, ela era a presa fácil, e não ele.
- Melissa, olha para ele – falei. Ele ainda nos encarava, nos chamando para a batalha – Ele não é como o velho burro ou o garoto i****a que acabou de sair daqui. Ele não é nem ao menos como os caras com quem costumo jogar.
Ela olhou dele para mim sem entender.
- Como assim?
Revirei os olhos, impaciente.
- Você não pode ganhar dele – olhei mais uma vez para ele – Isso é uma caçada, e você é a presa. Ele não está aqui para brincar. Ele veio jogar sério.
Ela olhou um tanto alarmada e assustada para ele. Sabia o que estava pensando. Ele não valia todo seu dinheiro e nem todo seu esforço.
- Então vamos recusar e dar o fora daqui – ela falou – Você deve conhecer outros luga...
- Eu vou jogar – interrompi ela.
- O que?! – ela me encarou – Você acabou de...
- Eu disse que você não pode vencê-lo, não eu – fiz uma pausa – Sem ofensas.
- Não ofendeu. Mas...
- Não se recusa um convite para jogar, Melissa – olhei para ele novamente, lhe lançando o mesmo sorriso predatório que via em seus lábios – E faz muito tempo que não tenho um desafio de verdade na minha frente.
- Você pode perder – ela disse.
- Não vou – falei, já indo em direção à mesa.
Sentei em frente a ele, sem me intimidar com o olhar que ele estava lançando sobre mim.
- Morenas... – ele comentou, o sorriso ainda no rosto. Ele sabia jogar – As mais perigosas.
- Que tal as ruivas? – perguntei.
- Não estou vendo nenhuma por aqui.
Encarei ele. Ele curvou uma sobrancelha. Dei um pequeno sorriso, admirada e vencida.
Tinha que admitir, o cara era bom. Bom demais. Mas eu não estava com medo. Eu estava extasiada.
Lentamente, tirei a peruca e a joguei de lado, soltando o cabelo que caiu em madeixas nas minhas costas.
- Bem melhor assim – ele disse – Agora você parece mais perigosa, e menos uma atriz pornô.
Abri ainda mais o sorriso ao ouvir isso.
- Tenho certeza de que você adoraria a segunda opção – o sorriso permaneceu em seu rosto. Comecei a juntar as cartas e a embaralhá-las.
- Já te imaginei em todas as posições possíveis – ele disse, me lançando um olhar que dizia que estava tirando minhas roupas agora mesmo em sua mente.
Isso não estava nos planos, mas senti meu estômago se revirar e um calor subir pela minha coluna. Imagens começaram a surgir em minha mente e eu tive que fazer muita força para bloqueá-las.
Encarei ele, que ainda me fitava com os mesmos olhos intensos. Comecei a distribuir as cartas.
Já tinha sacado seu jogo. Era a sedução. E ele era bom nisso.
Sorri para ele.
- Aposto que não joga com homens – comentei.
- Jogo. Mas com eles eu preciso apenas jogar – ele disse, puxando suas cartas para ele.
Peguei as minhas. Estava prestes a virar e olhá-las quando ele interrompeu.
- Qual é a aposta? – ele perguntou. Seu olhar não parecia sair de cima de mim em nenhum momento.
- Não qual a aposta – falei, maliciosa – E sim quanto é a aposta.
Ele retribuiu o sorriso cafajeste. Eu sabia que no momento estávamos jogando, mas já podia imaginar mil coisas que faria com um homem desses na minha cama.
- Não preciso de dinheiro – ele disse – Estou aberto a outros tipos de aposta.
Continuava o encarando. Estávamos jogando uma espécie de jogo. Perdia quem se intimidasse primeiro. Ou quem caísse na lábia do outro primeiro.
- Mas eu preciso – retruquei – Achei que havia deixado claro que não trabalho para a indústria do sexo.
Ele desviou o olhar do meu tempo o suficiente para olhar meus s***s e depois voltar aos meus olhos. Em vez de falar algo, ele apenas tirou uma grande quantia de dinheiro de dentro do bolso, onde percebi que havia ainda mais, e botou em cima da mesa.
- Vamos começar com um – ele disse.
- Um? – ergui uma sobrancelha – Eu esperava mais de você.
Peguei a pilha inicial de dinheiro que Melissa tinha apostado e joguei na sua frente.
- Que tal cinco? – perguntei e dei de ombros – Só para começar.
Ele não disse nada a princípio, apenas continuou me encarando intensamente, até que colocou a mão no bolso e tirou de lá mais uma grande quantia de dinheiro. Olhei ligeiramente para o seu bolso por cima da mesa de vidro e vi que ainda havia algo ali. Não era dinheiro, mas poderia ser algo de grande valor. Com certeza usaria minhas mãos leves para tirar aquilo dali.
- Dez – falou – Uma partida. Sem revanche. É ganhar ou perder.
Encarei ele. Muitas coisas se passaram dentro de mim nesse momento, mas por fora continuei com o sorriso no rosto. Eu sabia que com ele tinha chances de perder, mas nunca na minha vida havia negado uma partida, então não seria agora que daria para trás. Podia perder, mas jamais seria covarde.
Suspirei, fingindo tédio, e peguei mais cinco mil do monte que havia ganhado, botando tudo em cima da mesa.
- Feito.
Olhei Melissa de escanteio, roendo as unhas e andando de um lado para o outro enquanto nos observava.
Ele se ajeitou na cadeira. Eu me preparei para jogar. Viramos as cartas. E o jogo começou.