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955 Words
Capítulo - Artur narrando Fabiana me abraçava forte, as lágrimas rolando sem parar, e parecia que o mundo todo tinha desabado em cima dela. O som do seu choro cortava o silêncio do quarto, e eu, sinceramente, não sabia o que mais me machucava: ver minha irmã daquele jeito ou a lembrança de tudo que a gente tinha deixado de ser um pelo outro. A última vez que vi Fabiana foi há três anos, no enterro da nossa mãe. Ela já estava com o Felipe, o tal delegado, esse filho da p**a que quase me prendeu na hora do enterro. Só não fez isso porque Fabiana se jogou no chão, implorando que a gente tivesse paz, mas o cara me olhava com uma cara de quem tava pronto pra me enfiar na cadeia. Eu tentei alertar a minha irmã várias vezes. Disse pra ela não casar com ele, que ele não era bom, que era melhor sozinha, mas ela não me ouviu. Sempre fomos distantes, cada um foi pro seu lado. Fabiana foi embora do morro quando tinha 8 anos, e depois disso, a única vez que a vi foi no enterro do pai e da mãe. E agora, tava ali, toda despedaçada, com os olhos inchados de tanto chorar. Eu só queria poder voltar no tempo, ser o irmão que ela precisava, mas a vida não funciona assim, né? Eu peguei dois copos de água e dei pra ela, tentando acalmá-la, mas parecia que nada ia ajudar. Ela tinha que estar bem. Ela precisava chegar inteira na reunião dos chefes dos morros aliados. Sabia que os caras iam ficar de cara quando a vissem, mas logo Nem, que estava lá, deu aquele olhar mortal pros outros e mandou todo mundo vazar. Ele, pelo menos, sabia que tinha que dar um tempo pra gente conversar. Fabiana, cê precisa se acalmar, mermã – falei, me sentando em frente dela. A pressão era forte, mas eu não podia vacilar. Eu tinha que ser o cara que ela precisava, agora. Ela me olhou com aquele olhar desesperado, ainda cheia de lágrimas, e começou a falar, mas as palavras saíam difíceis, como se a dor estivesse travando a voz dela. Artur, ele... – ela parou, engolindo a dor. – Ele tentou me matar, Artur. Ele disse que me mataria e depois te mataria. Senti o olhar de Nem em cima dela. Ele tava ali, quieto, só observando, mas não falou nada. Eu sabia que ele não ia meter o bedelho nessa situação, ele só ia me dar o espaço que eu precisava. De repente, meu celular vibra, interrompendo o momento. Era Tais, minha esposa, querendo saber onde eu tava. Eu sabia que essa conversa com ela ia ser mais tarde, mas, por enquanto, minha prioridade era Fabiana. O que ele fez? – perguntei, tentando manter a calma. Eu não queria que Fabiana se sentisse mais pressionada. Olhei pra ela, e vi o medo nos olhos dela. Ela assentiu com a cabeça, parecia que ia explodir de tanto medo. Olhou pra Nem, como se quisesse saber se ele ia ficar ali. Eu me virei pra Nem, e dei aquele olhar de quem ia resolver a parada. Ele vai ficar aqui? – ela perguntou, a voz quebrando. Eu encarei Nem, e ele me devolveu o olhar, mas sabia que o lance com a minha irmã era entre a gente. Então, ele deu de ombro. To vazando – Nem falou, pegando suas coisas. – Resolve aí. Eu assenti, agradecendo pela discrição de Nem. Ele sabia quem era minha irmã, mas não tava no direito de meter o bedelho. A gente tocava a parada junto desde que os nossos pais morreram. Nos entendíamos, ele e eu, mais que qualquer coisa. É como se fossemos irmãos, mais do que parceiros. Começou faz algumas semanas, ou meses – Fabiana disse, a cabeça baixa, como se tentasse juntar os pedaços da história. – Eu fui uma grande i****a, Artur. Eu achava que ele me amava, que era tudo normal, mas, de repente, tudo mudou. Semana passada, ele me bateu. Chegou do trampo todo estressado, gritando, sem paciência, e me bateu. Me bateu forte, Artur. No outro dia, ele chorou, pediu perdão, disse que me amava. Eu encarei ela, sem saber se me sentia mais puto ou mais triste. Meu sangue fervia só de imaginar o que ela tinha passado. Eu perdoei, Artur. Eu só tinha ele, só ele, sabe? Eu achei que você não ia querer me ajudar, então... hoje a gente ia comemorar dois anos de casados. Mas aí ele chegou em casa, me humilhou, veio pra cima de mim, tentou me matar. E eu... eu não aguentei mais. Peguei o vaso e joguei na cabeça dele. Ele desmaiou, e eu corri pra cá, porque, se ele acordar e me encontrar lá, vai me matar, Artur. Ele vai vir atrás de mim, e eu tô com tanto medo, tanto medo. – Fabiana chorou ainda mais, se jogando em meus braços. Eu a abracei forte, sem saber o que dizer. A última coisa que eu queria era que ela tivesse que viver esse inferno. Agora você tá segura – falei, tentando dar algum tipo de conforto. Eu sabia que a promessa que eu ia fazer não ia aliviar a dor dela, mas eu não podia ficar sem dar uma esperança. – Eu vou te proteger, Fabiana. Eu prometo. Eu tinha prometido pro meu pai que ia cuidar dela, e, até então, eu tinha falhado. Falhado feio. Mas agora, a partir daquele momento, nada mais ia ser como antes. Eu ia fazer o que fosse preciso para garantir que ela ficasse segura, que não acontecesse mais nada com ela. Ela não ia mais passar por isso sozinha.
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