Capítulo - Nem narrando
Já era manhã, e o burburinho sobre a irmã do Artur tava rolando, até no ar carregado de fumaça. Pedro me perguntou, e a dúvida tava estampada no rosto dele. Eu também não sabia, mas uma coisa eu tinha certeza: a Fabiana não era bem-vinda ali, mas era a irmã do Artur, então a parada era outra.
Ela vai ficar? - Pedro perguntou, quebrando o silêncio da sala.
Sei não - Eu falei, dando uma risada seca. - Não sei nem o que ela veio fazer aqui, ainda. Mentira. Eu já sabia. Artur tinha me mandado mensagem antes, e ele sempre me deixava por dentro. Mas não ia dar o braço a torcer. Pedro não podia saber que eu sabia. A guerra que tava rolando ali era maior que qualquer conversa simples.
Pode ser x9 - Pedro soltou, mas eu sabia que ele também tava desconfiado, sem ter certeza de nada.
Se for, Artur sabe o destino dela - Eu falei com firmeza. Artur não era o****o, e com certeza ele não ia deixar isso passar.
Eu confiava no Artur. Ele e o Jorge, pai dele, sempre foram parças do meu pai, e a história deles juntos era quase como uma lenda aqui no morro. Eu não lembro muito bem da Fabiana, mas ela sempre foi um mistério, uma sombra distante. Sua mãe não deixava ela se misturar com a gente. Depois que foi embora, nunca mais a vi. Só ouvia boatos, um mais estranho que o outro. Diziam que ela tava casada com um delegado, um desses otários que não tem vergonha na cara.
O som da porta rangendo me interrompeu, e eu virei pra ver Artur entrando, junto do Yuri. Ele tava com a cara fechada, como sempre. Não tava ali pra conversa fiada.
Como tá a mina lá? - Eu perguntei, me encostando na parede e puxando um baseado.
Nada bem - Artur respondeu, sem fazer rodeios.
Eu vi a tua mensagem - Eu falei, dando uma tragada.
Quais chances dela estar mentindo? - Eu soltei, mais como um pensamento, tentando medir a situação.
Nenhuma - Ele respondeu direto. Não tinha dúvida no olhar dele, eu sabia que ele ia proteger a irmã até o fim.
Eu assenti, já prevendo a encrenca. Se a Fabiana trouxesse problemas, ia ser uma dor de cabeça pra todo mundo. Artur era o tipo de cara que sempre sabia o que fazer, mas até os mais fortes têm limites.
Beleza - Eu falei, ajeitando o cigarro. - Se ela trouxer problemas...
As regras valem para todos - Ele me cortou, olhando firme nos meus olhos. Não adiantava questionar. Artur já tinha decidido, e se ele mandou, ninguém ia atravessar o caminho dele.
Ela não vai trazer problemas, ela está lá em casa - Ele completou, com a calma de sempre, e eu só assenti. Não tinha mais o que falar sobre isso.
A conversa ia fluindo, mas o peso do que podia acontecer tava pesando no ar. O delegado, esse trouxa, ia querer fazer a vida da Fabiana um inferno quando soubesse onde ela tava. Mas Artur não se deixaria intimidar, não nessa altura do campeonato.
O delegado vai vir atrás dela quando descobrir - Eu falei, querendo que Artur entendesse o tamanho da encrenca que a gente tava metido.
Eu vou proteger minha irmã até o fim, eu prometi isso pro meu pai - Ele falou, mais como um juramento do que uma frase qualquer. Eu sabia que quando Artur dizia que ia fazer algo, ninguém ia impedir.
Talvez alguns homens se recusem - Eu falei, dando um sorriso irônico. - Mas eu estou do seu lado.
Obrigado - Artur falou, e só de ver a expressão dele, deu pra saber que ele tava contando comigo. Eu não ia falhar.
Não era à toa que eu tava ali, do lado dele. Tava dentro da família, e a minha lealdade a Artur e a sua causa sempre foi mais forte que qualquer outra coisa. Mesmo que, no fundo, eu não achasse que a Fabiana devia estar ali, eu sabia que não tinha volta. Ela entrava na história, e com ela, as complicações. Mas, de qualquer jeito, meu lugar era ao lado dele.
Vai bater o rango lá em casa hoje? - Ele me perguntou, quebrando o clima tenso.
Tais tá preparando lasanha - Eu respondi, sem muita animação. A comida era o de menos, mas ele tava tentando mudar de assunto.
Eu acho que ela não me convidou - Eu falei, rindo baixo, mas era mais uma piada pra aliviar o peso do momento.
E precisa? - Ele deu de ombro. Artur nunca se importou com formalidades. Eu só mandei um sorriso torto e tirei o cigarro do bolso.
Antes que eu pudesse continuar, o celular vibrou, era a Juliana me ligando. Rejeitei a ligação na hora. Mulher chata do c*****o, não parava de ligar, achando que tinha algo sério entre a gente. Eu até gostava de zoar, mas nada de mais. Sabia que Juliana não passava de mais uma distração, mas eu não tinha paciência pra ela naquela hora.
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Fabiana narrando
Artur me levou pra casa dele, e quando entrei, a surpresa foi grande. Não sabia que ele tinha uma família. Uma mulher chamada Taís e dois filhos, a Ana Julia, uma menininha de 3 anos, e o Henrique, o Rick, que devia ter uns cinco. Eu, que sempre imaginei que ele fosse só um cara frio, que matava e matava sem parar, me vi em choque. Artur tinha uma vida que eu não esperava, e aquela família que ele formou parecia distante de tudo o que eu imaginava dele.
Eu vi que você não trouxe muitas roupas - Taís falou, me quebrando o foco. - Você pode pegar o que quiser no meu guarda-roupa, e depois, quando você estiver mais à vontade, podemos ir comprar.
Obrigada - Eu falei, tentando não parecer tão perdida.
Não sabia se estava bem-vinda ali. Aquele olhar desconfortável de todos os homens ontem ainda me perseguia. Não era fácil sentir que a gente era um alvo, ainda mais em um lugar como aquele.
Fica tranquila - Taís falou, tentando me acalmar. - Artur é muito bem respeitado aqui, e ninguém vai te fazer m*l.
Eu nem acredito que meu irmão tem uma família - Eu falei, mais pra mim mesma. - Eu vi ele há três anos atrás e ele não me disse nada.
Você estava casada com o Lucas - Taís falou, de uma forma que me deixou intrigada. - Talvez tenha coisas que você não sabia.
Como o quê? - Perguntei, curiosa.
Acho que falei demais - Ela se levantou rapidamente, como se tivesse dito algo errado. - Eu estou muito feliz que você esteja aqui, Fabiana.
Ela olhou pra mim, com um sorriso gentil.
Posso te chamar de Bibi? - Ela perguntou, de forma suave.
Pode - Eu falei, tentando sorrir, mas foi mais um sorriso fraco.
Ela me deu uma leve assentida e saiu do quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos. Tudo que eu sentia não era só dor física, mas uma dor na alma, que eu nunca imaginava sentir. Fui enganada durante tanto tempo, achando que eu era amada, quando na verdade, só fui usada.