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705 Words
Fabiana narrando: Tava lá, ajudando a Taís com o rango. Não tinha conseguido ficar mais deitada, não. Eu tava com um shortinho, mas joguei uma calça mais larguinha pra esconder as marcas dos tapas que eu levei nos braços, sem contar as da barriga e das costas. Não queria que meu irmão visse aquilo. Calorão e você com essas roupas de frio? – Taís pergunta, me olhando de lado. Tô de boa. Sempre fui assim – respondo. Ela dá uma risadinha. Tá calor, Bibi. Calor! – ela brinca, sem nem saber o motivo de eu estar me cobrindo toda. E eles saem que horas da escola? – pergunto, querendo mudar de assunto. Hoje tem aula extra, eles ficam lá até as 15h. Normalmente eu pego eles 12h – ela fala. Posso ir com você? – pergunto, achando que seria legal sair um pouco. Claro que pode – ela responde, e a gente segue cortando cebola juntas. Mas aí ela solta: Droga, esqueci de comprar queijo. Vou dar um pulo no mercadinho rapidinho e já volto. Pode deixar que eu cuido daqui – falo, e ela me dá uma assentida com a cabeça. Aí, com ela fora de casa, meus pensamentos voaram. Eu mexia no molho da lasanha, e a casa do meu irmão era grande, confortável... parecia até uma vida boa, mas aí eu me pergunto: Será que não sou só um estorvo na vida dele? Mas, ao mesmo tempo, era o único lugar onde o Lucas não ia me achar. De repente, uma voz grossa me tirou dos meus devaneios: Tu é surda? – a voz invade minha cabeça, seguida de um cheiro de perfume masculino forte, muito bom. Olho pra trás e vejo o cara que tava com meu irmão ontem. Pensei que tu tava drogada – ele fala, se jogando na cadeira. Quem é você mesmo? – pergunto, sem saber se me preocupo ou se dou risada. Quem eu sou? – ele solta, rindo. – Nem. Nem? – pergunto, sem entender. “Que p***a de nome é esse?”, pensei. Mas claro, era ele, o dono disso tudo. Não lembro de você – falo, encarando ele. Nem eu – responde ele. – Mas sei de umas paradas que me deixam bem desconfiado de você. – Ele se levanta e me encara, com uma cara feia. Eu não sou x9 – falo, engolindo seco. – Eu só preciso da ajuda do meu irmão. Teu irmão me contou as paradas – ele diz, se sentando de novo. Meu irmão é um fofoqueiro – resmungo. – Não devia sair contando as coisas pros outros assim. No caso, eu não sou qualquer um – ele fala, me encarando de novo. Os olhos dele pararam em mim, como se estivesse me sondando. Pra mim, você é – respondo, sem medo. Muito folgada, hein? – ele diz. – Mulher de policial no papel, vem pedir ajuda no meu morro e ainda fica de onda comigo? A tua sorte, garota, é que tu é irmã do Artur. Se não, já tava no microondas, ó – ele faz sinal com as mãos. Se eu não fosse irmã dele, eu não tava aqui – falo. – E eu tô na minha, é você que veio com papo furado. Controla essa língua – ele manda, pegando o celular. – É o único aviso que eu te dou. Fiquei quieta, encarando ele até que a Taís chega, interrompendo aquele clima pesado. Já chegou, demônio? – ela fala pra ele, com aquele jeitinho dela. – Tudo certo por aqui? Sim – eu respondo, tentando aliviar o clima. – Já terminei o molho. Aí o cara dá aquele sorriso de “ah, eu sou o tal” e fala: Artur disse que eu sou o convidado de honra. A única convidada aqui é a Bibi – Taís responde, sem nem olhar pra ele. Bibi? – ele dá uma risadinha irônica. – Pra você, Fabiana – Artur entra na cozinha, com o fuzil escorado na porta do armário. Os dois sentam e começam a falar de qualquer coisa, mas, sinceramente, eu nem tava afim de ouvir. Só queria distância de tudo aquilo. Paz... Mas, pela cara dos dois, acho que aqui também não ia rolar.
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