5- DANTE

1359 Words
CAPÍTULO 5 DANTE NARRANDO Tava sentado na escadinha da boca, com o rádio chiando baixinho e a fumaça do baseado subindo devagar, misturada com o cheiro de pólvora e terra molhada que o morro sempre tem no fim da tarde. O céu já tava meio alaranjado, e o movimento rolando normal — vapor passando com a sacola, segurança na contenção, os moleque correndo rindo com a arma pendurada no ombro. Cena comum. Rotina de quem comanda. Mas minha mente… Minha mente não tava ali. Tava presa naquela mina do posto. Tinha alguma coisa nos olhos dela que eu não sei explicar. Não era só beleza. Era dor. Era cansaço. Era resistência. Ela nem me olhou direito, mas eu vi tudo. A forma que ela apertava os lábios pra segurar alguma coisa. A mão tremendo passando o código no caixa. O olhar baixo, mas firme. E eu fiquei pensando: o que uma mina daquele tipo tá fazendo ali? Trabalhando em posto na saida do morro, com cara de quem carrega o mundo nas costas? A brisa do beck pesou mais um pouco e eu tava ali, viajando, quando escuto passos firmes subindo. Era o Pelé. Um dos meus braço direito. Cria do Alemão, visão de jogo, malandro na medida certa. — E aí, chefe — ele falou, tirando o boné e coçando a cabeça. — Aquele velho da viela, lá pra baixo do morro… tá devendo de novo. Soltei a fumaça devagar, mas o sangue já esquentou. — E tu já não cobrou esse desgraçado semana passada? — Já… — ele respondeu, meio travado. — Dei um aviso. Hoje mesmo fui lá e dei o prazo. Até amanhã, no máximo, ou vai ser daquele jeito. Fechei os olhos por um segundo. Velho folgado, dependente, encostado, vivendo nas costas dos outros e ainda tem coragem de meter dívida na boca? — Ele mora com quem mesmo? — perguntei, só pra confirmar. — Uma mina. Novinha. Disseram que é filha dele. Morena clara, magrinha, cabelo liso… trabalha num posto ali embaixo da avenida. Meu peito travou. — No posto da esquina da principal? — Esse mesmo. Dei mais uma tragada, devagar. Agora fazia sentido. Era ela. O velho era o pai dela. E se ele devia… ela tava no meio. Olhei pro horizonte, o céu já escurecendo. Ela não fazia ideia do mundo em que tava pisando. Pelé deu um leve aceno com a cabeça e desceu de volta no passo ligeiro, já com o radinho colado na orelha. Fiquei ali, sozinho, com o baseado queimando entre os dedos e a mente a mil. Era f**a. Eu conheço o sistema. Quem deve, paga. Quem não paga, sofre. Essa é a regra. Mas por algum motivo… a ideia daquela mina pagando pelo erro do pai me incomodava. Tentei desligar, mas o rosto dela não saía da minha cabeça. Aquele olhar. Aquela expressão de quem carrega dor e não fala. De quem aguenta o tranco calada. Igual a mim, no tempo de cadeia. — Oi, amor… A voz veio doce e atrevida, puxando minha atenção de volta pra realidade. Virei o rosto e vi a Luna. Uma das vadiäs que eu pegava de vez em quando. Corpo feito na medida, roupa colada, batom vermelho e aquele jeito atirado de sempre. — Qual foi, Luna? — perguntei, sem muita paciência. Ela já veio se jogando no meu colo, esfregando o quadril no meu jeans, rindo com malícia. — Tô doida pra ficar contigo… bora lá pro meu barraco? Prometo que te faço esquecer o mundo. Revirei os olhos e soltei a fumaça pro lado. — Tô sem tempo. Mas se quiser resolver aqui mesmo, a sala tá vazia. Ela sorriu, mordendo o lábio, se levantou do meu colo rebolando e já foi puxando minha mão. — Então vamo, chefe. Que hoje eu tô com fogo. Levantei no meu tempo, largando o beck pela metade no chão de cimento. Mas enquanto atravessava o corredor em direção à minha sala nos fundos da boca, com a Luna pendurada no meu braço… Era outra que tava na minha mente. A mina, a novinha do posto. Entrei com ela na sala dos fundos, porta batendo atrás. Luz fraca, ventilador girando preguiçoso no teto, cheiro de baseado misturado com perfume barato. Luna me encostou na parede, já passando as unhas pela minha barriga por debaixo da camiseta. — Tira logo essa roupa, Dante… — ela sussurrou, com aquele olhar faminto. Mas eu nem me mexi. Só encostei a cabeça na parede e fechei os olhos por um segundo, tentando me desligar da imagem dela. Da outra. — Que foi? — Luna perguntou, se ajoelhando na minha frente, sem esperar resposta. — Cê tá com a cabeça cheia? Deixa que eu limpo pra tu. Ela abriu meu cinto com pressa, puxou o zíper, abaixou o jeans. A boca quente dela já encostando em mim, sem cerimônia. Começou lento, depois foi ganhando ritmo, fazendo barulho, gemendo como se tivesse prazer em me ver assim, calado, tenso, com a mão no topo da cabeça dela, guiando cada movimento. Mas por dentro... eu não tava ali. Meu corpo reagia, mas minha mente? Tava na mina do posto. Na forma que ela mordia o canto da boca. No jeito que os olhos dela, mesmo baixos, pareciam gritar socorro. Luna me chupava com vontade, descendo até a base, babando, gemendo, me olhando de baixo como se fosse dona de alguma coisa. Mas não era de porrä nenhuma. Soltei um gemido rouco, jogando a cabeça pra trás, deixando o momento me engolir por alguns segundos. Mas nem assim… nem com todo o fogo da Luna, nem com a boca dela me fazendo perder o ar… eu conseguia esquecer aquele olhar. Levantei o rosto de novo, respirei fundo e falei seco: — Chega. Luna parou na hora, surpresa, limpando a boca com as costas da mão, me olhando como se tivesse feito algo errado. — Aconteceu alguma coisa? — Não. Só vai. Depois a gente troca ideia. Ela resmungou alguma coisa, mas levantou, ajeitou a roupa e saiu bufando. Fiquei ali, com o zíper aberto, o coração batendo descompassado e a cabeça a mil. Aquela novinha tinha mexido comigo de um jeito que eu nem queria admitir. E agora, com a dívida do pai nas minhas mãos… ou eu dava um jeito nisso, ou o sistema ia cobrar dela do pior jeito. E isso… eu não ia deixar acontecer. Fiquei um tempo ali parado, olhando pro nada, o gosto da boca da Luna ainda na minha pele, mas a mente... tava longe. Me vesti no automático, saí da sala, e fui direto pra geladeira velha que ficava no canto do barraco. Abri a porta, peguei uma Brahma trincando, estalei a tampa na quina da pia e dei o primeiro gole sentindo o amargo descendo rasgando. O rádio chiava baixinho, avisando que tava tudo tranquilo no morro. Sem tiro, sem ronda, sem alerta. No mais… era paz. Mas minha cabeça? Era guerra. Aquela novinha não saía da minha mente. E quanto mais eu pensava nela, mais o sangue fervia. Morena clara daquele jeito, olhos verdes, toda miudinha, ar cansado… mas com uma beleza que machuca. Nunca peguei ninguém daquele tipo. E o fato de ela ser filha de quem deve… porrä, isso só atiçava mais. — Quem sabe eu não me aproveito disso… — murmurei pra mim mesmo, girando a lata na mão. Era isso. O velho tava na estica. Devendo até a alma. Já foi avisado. O prazo vence amanhã. E se ele não pagar... eu cobro com o que ele tem de mais precioso. Ela. Não era só pelo corpo, não. Era pelo poder. Pelo controle. Pelo gosto de tomar algo que o sistema nunca permitiria. Mina direita, de trampo, de postura... se dobrando na minha frente. Isso sim era t***o. Isso sim era vitória. Meu paü enrijeceu só de imaginar ela ajoelhada, tremendo, mas me encarando com aquele olhar resistente. Dei mais um gole na cerveja, rindo sozinho. Amanhã eu ia resolver essa p***a de uma vez. Ou o velho paga… Ou a novinha paga. De um jeito ou de outro, ela ia ser minha. Continua.....
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