Capítulo 04

980 Words
No amanhecer iria assinar os papeis, observar os prisioneiros no trabalho, e ao fim da tarde, teriam um julgamento para os presos de muitos anos que apresentaram um bom comportamento. Se preparou sozinha para o banho, a água tinha um cheiro azedo, porém estava agradável, e serviu para tirar todo o suor grudado na pele. ― Saia. ― Rosnou ela encarando um Alex esparramado na cama, fitando o teto. ― Por que, querida esposa? Não vejo nenhum problema em estar na cama de minha mulher. ― Pode considerar uma esposa quando o casamento nunca se consumou? Creio que não. ― Alex suspirou. ― Só me deixe dormir aqui hoje. ― Tudo bem, irei para o seu quarto. ― Elisie, fique aqui. Esse lugar é perigoso, a bruxa pode me hipnotizar na madrugada. ― Duvido muito que ela queira devorar você. ― Porém ela deslizou para debaixo do lençol, temendo que o que Alex dissera se concretizasse de fato. *** O grito dos porcos fez Elisie contorcer-se na cadeira, discretamente, uns cem olhos a observa, não podia de forma alguma se mostrar uma covarde. ― Durante a manhã, os prisioneiros da ala sul descem para caçar a comida da semana, tudo supervisionado, é claro, nunca deixaríamos um criminoso com armas nas mãos. Durante a tarde os da ala norte descem para tomar sol e lavar as roupas no córrego ao noroeste da prisão. E os da ala central, que são mais quietos são responsáveis pela limpeza e organização da prisão e dos alojamentos. E os presos no subterrâneo, que em grande maioria bruxos, são responsáveis por manter toda a prisão aquecida. ― Relatou Sevan, observando os presos seguirem de um lado a outro com animais nas costas. ― Com esse inverno rigoroso os alimentos devem estar limitados, não é? ― Sim, minha rainha. O córrego parou seu fluxo, congelou completamente, por conta disso, temos que fazer um trajeto maior até o rio. Além do trabalho de quebrar a camada de gelo. ― Esse inverno está sendo c***l, principalmente em Nox que já é cercado por neve durante todo ano. Enfim, não vamos nos perder em conversar paralelas. Quando começará o julgamento? Estou, e acho que meu rei também está de acordo sobre as tarefas dos prisioneiros, por isso ao fim do julgamento, iremos voltar para o castelo. ― Sevan, assentiu em uma mesura, e pediu licença para preparar tudo. ― Por que está calado, majestade? ― perguntou Elisie virando-se para Alex quando foram deixados a sós. ― Algo estranho aconteceu ontem a noite. ― Imediatamente os olhos da rainha se arregalaram, as mãos foram até o pescoço. ― Acalme-se, não é algo alarmante, só algo que me deixou curioso. ― Diga logo, pelos deuses. ― Uma canção, ouvi uma canção ontem na madrugada. Era tão bela, que quase me levava, no entanto, você chutou meu joelho enquanto dormia, o que me acordou. ― Eu salvei você, dormindo? Estou perplexa, pensei que ela só levasse prisioneiros, tem algo errado. ― Ela levantou-se. ― Vamos. ― Para onde? ― Ao poço. ― Pela expressão de Alex, parecia que estava fazendo algo absurdo e arriscado, porém, ela ignorou e pegou sua mão. Não tinha ninguém por perto, para alívio de Elisie, ela ergueu as saias e se aproximou da boca do poço. Mesmo durante o dia, o fundo era completamente escuro. ― Olá. ― gritou ela, Alex a repreendeu, ― Olá, gostaria de vê-la, senhorita bruxa. Por favor, saia daí, quero falar com você. Há tanta coisa que preciso perguntar, preciso de sua ajuda. ― Elisie, pare com isso, ela não é boa. ― Eu também não sou boa. ― Resmungou irritando-se com Alex. ― Não irei destruí-la, nem nada semelhante, só quero perguntar algo. Elisie calou-se, esperando por uma resposta, nada veio. ― Eu perdi duas vidas, por uma de suas maldições, preciso, não. Eu ordeno que apareça e me dê uma explicação. ― Elisie gritou dessa vez, consumida pela tristeza, Alex olhou ao redor, temendo que alguém presenciasse a cena. Neve começou a cair, junto com um vento que vinha de várias direções e então a melodia começou até um corpo esquelético surgir na boca do poço, Elisie soltou um grito fino, antes de se jogar nos braços de Alex. ― Ordena? Eu não pertenço ao seu povo. Não me ordene, eu te ordeno, sou a alma de Bruxins. ― respondeu a mulher desnutrida e murcha, a voz não aparentava ser de uma criatura monstruosa. ― Lamento, confesso que me excedi, mas é uma completa falta de educação não responder a uma pessoa dois minutos depois de sua pergunta. ― Como eu saberia, se desde que nasci vivo aqui dentro? ― Por que vive aí dentro? ― Fui jogada, sabe como são as irmãs. ― Por isso você come os prisioneiros? ― Eu precisava disso para poder sair, e você me ajudou agora. Obrigada. ― Como eu posso ter te ajudado? ― Você me chamou, alguém desejou me ver, ninguém nunca desejou me ver, por isso fui liberta do selo que me prendia. Por isso, muito obrigada, posso viver agora. ― Me agradeça respondendo a uma pergunta. ― Faça. ― Por que amaldiçoou Mercúrio Leican, cinquenta e três anos atrás? ― Eu só tenho quinze anos, como saberia? ― Você não lembra de sua vida passada? ― Não, você lembra a sua? ― Elisie negou, ― Ninguém lembra, é preciso uma poção para isso. ― Você sabe fazer? ― Claro que não, só o filho verdadeiro de meu irmão sabe. ― Os filhos deformados? Então é impossível. ― Deve ser, vou agora, preciso ir atrás da minha irmãzinha perversa que me prendeu nesse lugar. ― Espere. ― gritou Elisie, com uma duvida irritante. A bruxa enrugada pela água fria do poço se virou a uma certa distância, ― Onde posso encontrá-la? ― Não confio em nobres, majestade, pois meus pais o são.
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