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Lili Harris A minha xícara de chá fica vazia e nada mudou em mim, mas foi bom sentir algo na minha boca. Eu volto a ficar de pé para poder me mexer na intenção de expulsar a tensão em mim, mas a verdade é que nada é capaz. Já que estou pronta, eu pego o buquê de flores e saio do quarto para ir à sala. Não tem mais nenhuma vez que eu chegue aqui e não lembre do ataque. Eu lembro perfeitamente onde cada corpo caiu e como elas ficaram. Aquilo ainda me assombra. De repente, eu ouço um som que vem das portas e o frio na barriga aumenta. Gustavo Baldoni aparece elegante como sempre e ele retira o chapéu enquanto olha bem para mim. Eu me sinto analisada ou apreciada. Eu não sei dizer, mas ele sorrir com delicadeza. — Está uma noiva muito linda, Liane. — É a primeira frase dele. — Obrigada! — Ele chega mais perto. — É... e-eu irei ver o meu marido assim que eu chegar lá? — Ele me encara diante da pergunta. — Ele já está lá? — Não, exatamente, mas irá chegar no dia seguinte... — Ele desvia o olhar. — É... isso mesmo. — Isso soa como uma certa mentira. Será? Por que ele mentiria? — Olha... esse casamento era o desejo do seu pai. — Ele muda o assunto. — Eu lembro bem como ele chegou a mim e disse que precisava de alguém que garantisse a sua segurança... essa era a prioridade dele. — Eu concordo por saber. — Conversamos muito e fomos fazendo o acordo olhando bem como poderia ser feito e cuidei disso aqui em nome dele. Era a última vontade dele. — Ele gostava do senhor... sempre o chamou de amigo. — Revelo por ser verdade. — Realmente fomos e hoje, irei ver a filha dele se casando... olha, Alex não é perfeito, mas é um bom homem. — Eu presto bastante atenção nisso. — Ele é reservado, é cauteloso, trabalha muito e ele protege o que é dele... acho que você pode achar estranho o jeito sério e fechado inicialmente, mas logo se acostuma. — Entendo... é... e-eu só espero que possamos nos entender. — Digo pensando alto. — Lembre-se disso... terá que ter paciência. — Ele fala em alerta. Bom, depois de tudo que passei, eu acho que paciência e autocontrole é algo que tenho ao meu lado. As minhas experiências me ensinaram a não contestar, a ouvir e a entender a situação. Eu só espero que com esse homem, as coisas sejam mais brandas. Eu estou tão cansada de me preocupar. E mais ainda de sentir medo. É exaustivo. Com tudo pronto, nós decidimos ir e Dina aparece usando um vestido básico azul. Ela me ajuda com o véu que ela só encaixa no penteado. Depois, os homens pegam as minhas malas e pela primeira vez desde que entrei, eu estou passando pela porta principal e vejo vários homens espalhados. Não eram dois? Aqui tem mais de dez. Nós pegamos o elevador e nada é dito. Dina segura a caixinha de transporte com o Caramelo dentro e depois chegamos ao estacionamento. Tudo é colocado dentro do carro e eu me acomodo no banco de trás. Gustavo fica no banco de carona, eu atrás com Dina e claro, com Caramelo. Os homens se preparam em ouros carros e há uma sincronia impressionante entre eles. Então, saímos do local e eu fico apenas de cara com a vista da janela fechada. É hora de irmos para me casar. { . . . } Eu nunca imaginei que o som de passos ecoando em um cartório vazio pudesse me deixar tão ansiosa. E mais ainda, que esse seria o som do meu casamento. Cada batida do salto contra o piso frio parece um lembrete rüim de onde eu estou e do motivo que me trouxe até aqui. Eu vou me casar com um completo desconhecido. Alex Baldoni. O homem cujo rosto eu nunca vi pessoalmente, mas que, é a única pessoa capaz de me manter a salvo de um homem maluco. Eu engulo em seco quando a porta se abre, e um homem desconhecido por mim, entra. Ele está todo arrumado, terno alinhado e anda com postura. Será esse o representante? — Liane, esse é Kaleb Higs. — Gustavo informa. — Ele é advogado pessoal do meu filho e também, o seu representante. — É um prazer conhecê-la, Liane. — Ele faz uma leve inclinação com a cabeça. — Igualmente. — Minto, até porque não tem outra coisa a se falar. É estranho pensar que ele não só representa Alex no casamento, como também está aqui para garantir que nada saia do controle. Os meus documentos são entregues e cada segundo me deixa mais tensa. Respiro aqui fundo e observo o juiz de paz sentado atrás da mesa, com expressão séria e burocrática. Ao lado dele, a escrivã organiza os papéis, sem sequer levantar o olhar e o silêncio é perturbador. Mais atrás está Gustavo Baldoni, a Dina e alguns soldados. Esses são os “convidados” do meu casamento. — Vamos iniciar. — A voz do juiz corta o silêncio. — Estamos aqui reunidos para celebrar o matrimônio entre a senhorita Liane Harris, aqui presente, e o senhor Alex Baldoni, ausente por motivos devidamente justificados. Mas, é representado legalmente por seu procurador, o senhor Kaleb Higs, portador da procuração com poderes específicos para este ato. Tento me concentrar nas palavras dele, mas meu coração bate tão forte que posso jurar ouvir como tambores. As minhas mãos estão geladas e eu aperto firme o buquê. Eu olho discretamente para Kaleb. Ele mantém a postura impecável, segurando a tal procuração como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele não olha para lugar algum a não ser para frente, ele tem uma seriedade absurda e eu sou a única surtando aqui. — Senhora Liane Harris... — Chama o juiz, me tirando dos pensamentos — Perante a lei e das testemunhas aqui presentes, confirma que deseja, de livre e espontânea vontade, casar-se com o senhor Alex Baldoni, aceitando-o como seu legítimo esposo? Meu peito se aperta. Livre e espontânea? Nada na minha vida nos últimos anos foi livre. Ou espontâneo. Mas, se eu disser não, sei o que me esperava. Aquele ataque me disse bem. Então, entre a morte e um casamento sem rosto, a escolha é óbvia. Pelo menos agora sob pressão. — Sim… — A minha voz sai mais baixa do que imaginei. Respiro fundo e pigarreio. — Sim, aceito. — O juiz assente e vira-se para Kaleb. — Senhor Kaleb, na qualidade de procurador legal do senhor Alex Baldoni, confirma, nos termos da procuração, que seu representado consente e deseja casar-se com a senhora Liane Harris, aceitando-a como sua legítima esposa? — Sim. Eu confirmo em nome do senhor Baldoni. — É isso, apenas firme e objetivo. — Diante do consentimento das partes, declaro celebrada a união de Liane Harris e Alex Baldoni, casados civilmente nos termos da lei. É isso. Sem música. Sem votos. Sem sequer olhar nos olhos do homem com quem agora divido o meu sobrenome. O casamento é o momento mais importante na vida de uma mulher, mas aqui parece algo como qualquer outra coisa. Estou casada. Sou uma Baldoni. Eu assino onde mandam, com mãos trêmulas. Eu tento não pensar no que me espera agora, mas fica difícil. Kaleb mostra os documentos assinados por Alex e depois, me entrega um envelope, lacrado, com o nome de Alex escrito em caligrafia elegante. Uma assinatura impecável. — Ele pediu que você lesse quando estiver sozinha. — Eu aceno e agradeço. — Meus parabéns, senhora Baldoni. Desejo um feliz casamento. Tudo parece mais pesado agora e ainda tem um voo para Londres. A minha vida entrou agora em outro patamar.
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