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1228 Words
Lili Harris Eu não paro de pensar em como será a minha vida nos próximos dias. Além disso, eu já estou sufocada de ficar sempre nesse apartamento que não tem saída. Pelo menos na casa do meu pai tinha o jardim e a piscina. Aqui não tem nada. O máximo que tenho é uma varanda cercada por uma rede de proteção. A única pessoa que tenho contato é a Dina. Não tem mais ninguém! A rotina tem sido a mesma há uma semana. Eu acordo, tenho o meu café da manhã, leio algo, tem o almoço, durmo ou leio pela tarde, tento ver se tem a chance de ver um filme e depois jantar e dormir. Tudo nessa linha e não tem mais nada. Eu sinto que a qualquer momento irei surtar. Eu ainda não sei exatamente o dia exato do meu casamento, mas sei que está perto. O vestido está passando pelas medidas, não apareceu mais nenhuma condição de algo e Gustavo Baldini não apareceu. Os seus homens continuam na porta sem parar e não sei como suportam. Neste momento, eu estou comendo uma fatia de bolo de chocolate e há um belo copo de leite bem cheio para mim. Dina está sentada à minha frente comendo também e eu estou tentando criar coragem para perguntar umas coisas. Não é fácil depois de ouvir que ela não sabe de muita coisa ou que não pode falar nada. Eu fico mais deprimente ainda. — Dina... eu posso fazer uma pergunta? — Ela me olha atenta. — É pessoal. — Ela acena levemente enquanto mastiga. — É... você já foi casada? — Já, sim. Fui casada por quase dez anos e foi um casamento um pouco conturbado. — Eu não tiro os meus olhos dela. — Ele morreu... — Sinto muito... me desculpe, e-eu não fazia ideia. — Eu já me arrependo disso aqui. — Tudo bem! Eu me casei nova por não ter opção e ele era um alcóolatra... não controlava o vício e morreu ao dirigir bêbado. — Ela encara o bolo e mexe com o garfo. — Semanas depois, eu descobri que eu não tinha mais nada... ele perdeu tudo. A casa estava com o banco pelas dívidas, o carro foi apreendido e vendi o que podia..., mas não sobrou nada. Nada mesmo! — Eu fico chocada. — A minha saída foi ir atrás de emprego para ter o que comer e onde dormir... e aqui estou. É um belo resumo de vida. — Eu realmente sinto muito... deve ter passado por muita coisa dolorosa. — Ela confirma com um aceno. — É... dormi muitas vezes com apenas metade de uma maçã no estômago. — Ela não olha para mim. — Eu tive sorte de não ter engravidado. — Eu fico calada agora. O que eu ia perguntar de fato já não tem mais sentido depois de ouvir isso. Ela teve uma vida difícil, foi obrigada a fazer algo por ela mesma e sozinha. Sem apoio de ninguém! Eu não sou a única com um peso nos ombros. Eu me sinto perdida por nunca ter feito nada. Eu sempre segui as regras, porque eu sabia que qualquer erro meu custaria caro. Um erro meu e eu poderia ser pega por Flávio. Eu lembro do jeito que ele me olhou na primeira vez. Tinha uma escuridão aterrorizante nos seus olhos, eu vi um sorriso macabro enquanto ele me analisava e eu vi bem como ele olhou cada centímetro do meu corpo. Foi nojento, humilhante e mais que assustador. Depois, começaram as visitas frequentes, várias perguntas sobre mim e os presentes exagerados que chegavam do nada em dias aleatórios. Flores, chocolates, jóias, roupas, sapatos, lingeries e uma insistência em me ver. É, até lingeries ele me deu e dei fim em tudo. Todos os presentes eram do nada e o meu pai mostrava para que eu entendesse logo o perigo. Eu juro que não sei o que eu fiz para ele agir daquela forma. Eu só tinha 14 anos e já tinha atenção abusiva de um homem de 40. Nada normal! Eu não gosto nem de lembrar. — Então, qual o motivo da pergunta? — Eu volto ao momento confusa. — Você me perguntou se eu já fui casada... por quê? — Bom, eu vou me casar e eu não faço ideia de como é um casamento... — Eu suspiro pegando o meu copo. — Mas não precisa responder. — Olha, a teoria é até leve e bonita... ela diz que uma mulher completa o homem. Ele deve protegê-la e honrar, cuidar e amar, suprir o que falta nela e tratá-la como uma flor delicada... e a mulher também. — Ela suspira e me olha seriamente. — E tem mais um pouco de coisas bonitas, mas eu não posso dizer apenas isso para você... vai além disso. — Eu não consigo nem piscar. — O seu casamento é numa base de acordo, então está presa a ele... eu não faço ideia de como ele é, mas com certeza você será uma mulher visada já que ele é um homem de negócios. Você tem que aprender a ouvi-lo, a dar espaço e vai ter que aprender a ficar sozinha já que ele viaja muito. Com relação a intimidades, terá que conversar com ele... eu não quero te colocar medo. — Mesmo assim dá medo, porque eu já pensei nisso. — Só que fica difícil eu dizer algo mais sem eu saber como esse acordo funciona. — Eu aceno levemente. — Tipo... vocês terão relações? Ele quer um filho logo? Ele quer que você esteja com ele nos eventos? Ele vai estar perto de você? Será uma relação séria e verdadeira ou ele terá amantes? — Tudo fica pior na minha cabeça, girando sem parar. — Liane, não quero que fique com medo, mas acho bom você ter a mente aberta para não ser pega de uma surpresa negativa... pode ser algo bom também. Só é importante que você pense em tudo. Ela está certa! Eu não o conheço e já não o verei no casamento. Então, tudo tarde para eu saber sobre esse homem. Eu só vou conhecê-lo quando eu me mudar para Londres e só lá eu vou saber de mais detalhes. Eu não posso mostrar que sou uma mulher fraca e perdida, senão eu serei pisada. Mas, como faço isso? Ele já deve saber de tudo sobre mim. — Obrigada pelos conselhos... eu vou pensar bem em tudo. — Nós voltamos a comer e eu finalizo antes dela. De repente, ouvimos batidas na porta e ela fica de pé num pulo. Dina vai até lá e ouço umas vozes baixas, mas logo ela retorna com uma caixa de transporte animal. Quando ela coloca no chão, ela abre e eu vejo o Caramelo vindo meio lento e eu saio da cadeira indo até ele. Nossa! Finalmente ele está aqui e tinha pensado que tinha fugido sem eu ver. — Ele foi levado à clínica para uns exames e vacinas... — Dina explica. — Eu só soube hoje pela manhã e esqueci de lhe avisar. Desculpe! — Tudo bem. O importante é que ele está aqui... — Ele fica procurando mais carinho. — Senti a sua falta... você parece bem e está cheiroso. — Há um perfume nele e os pelos estão macios. Pelo menos algo bom nisso tudo!
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