Lili Harris
Os poucos dias que eu tive para me recuperar da mortë do meu pai parece que não teve efeito. Num piscar de olhos, a notícia sobre o meu casamento foi confirmada e ouvi bem que eu não tenho escolha. Nada do que eu fizer ou tentar fazer vai me livrar disso.
Quando eu assinei aquele contrato por pressão do meu pai, eu dei legalidade a tudo sobre mim. Como se eu fosse uma mercadoria comprada.
Eu não tive tempo de ler, de fazer perguntas e nem de tentar negär. O meu pai estava morrendo diante de mim e toda a força e ar que ele tinha, era usado para suplicar que eu assinasse. Será que pelo menos ele sabia quem é esse Alex?
Acho que nunca vou saber.
Aquela conversa com Gustavo foi há três dias e ele não apareceu mais. E hoje terei a visita de uma modelista ou estilista. Algo assim. Eu não estou preparada para isso. Quanto mais eu penso nessa loucura, eu me questiono se um dia eu poderei tomar alguma decisão sozinha sobre mim. Eu nunca tive a chance.
Eu nunca pude tomar uma decisão sobre a minha vida e tudo por causa de um velho maluco.
Eu já consigo me ver presa pelo resto da minha vida. Eu terei que arcar ordens de um marido que eu nunca vi e não faço ideia de quem ele é. Ele é bem mais velho que eu, é extremamente rico e ocupado. Mas, em algum momento eu terei que conviver com ele e nem quero pensar sobre intimidadës. Como vou fazer isso?
E se ele quiser um filho?
Eu vou surtar sozinha e ninguém vai poder me ajudar. Eu nunca pensei que tudo poderia piorar, mas piorou depois que perdi o meu pai. Ele sempre tinha ideias, planos e sempre dava um jeito em tudo.
— Liane? — Dina me chama. — Eu fiz uma vitamina... é de morango e eu sei que você adora.
— Pode me chamar de Lili... eu não acho rüim. — Digo a ela que me olha com um meio sorriso.
— Desculpe, querida... o senhor Baldoni gosta de formalidades e todos os que trabalham para ele e os filhos devem seguir essa regra. — Nossa. Até nisso eles tem controle.
— Não sabe mesmo nada sobre os filhos dele? E esse Alex? — Ela dá de ombros como faz de costume.
— Não sei muito... só sei que são homens feitos e tratam de muitos negócios. Os principais é no ramo de hotelaria que tem pelo mundo... ele tem muito dinheiro e poder. São conhecidos! Tem outras coisas também, mas eu nunca fiquei tão curiosa para saber. — É quase sempre a mesma coisa que ouço. — Sei que são solteiros..., mas, eles não têm tanto contato físico com o senhor Gustavo. Tudo é mais por ligação ou e-mail.
Que coisa estranha!
Eles são família, mas não são. Tem poucos contatos, mas trabalham no mesmo ramo. São ricos, mas só trabalham pelo mundo viajando. Não consigo entender! Eu não paro de pensar no que Gustavo Baldoni disse sobre o filho ser um homem difícil. O que ele quis mesmo dizer com isso? Ele é impaciente? Bruto? Arrogante? Estressado?
O que exatamente?
Eu vou tomando a minha vitamina à força enquanto penso e Dina não diz mais nada. Eu fico mesmo intrigada sobre ela não saber de nada. Será que sabe e não pode contar de forma alguma? Eu não duvido. Tem homens armados por todos os lados, ela sente um pouco de medo as vezes e por isso eu fico mais temerosa.
Minutos depois, ouvimos batidas na porta e eu fico em alerta. Uma mulher entra com um tipo de cabideiro com rodinhas e nele tem algumas peças envelopadas com um símbolo de marca. Deve ser os vestidos.
— Com licença... — Ela se aproxima. — Eu sou Monique Gilbert e vim para preparar uma noiva. — Ela fala numa simpatia que parece ser forçada. — Tudo bem, minha jovem?
— Eu sou Liane. É um prazer. — Falo timidamente. — Tudo bem?
— Ficarei melhor quando decidirmos sobre o seu vestido. — De verdade, não gostei desse jeito dela,
É uma voz e sorriso forçado, como se ela não quisesse estar aqui e ela me olha como se eu fosse inferior. Tudo bem, eu não posso culpá-la. Eu não tenho nada e nem posso decidir sobre a minha vida. Não tenho casa, dinheiro, família, amigos e nada de nada.
Tudo que tenho é o Caramelo e ele sempre está escondido. Pois bem, eu o trouxe comigo, mas nunca o vejo por aqui durante o dia.
— Eu tenho um catálogo com diversos modelos e você pode me dizer o que mais combina com você. O senhor Baldoni me disse que você é uma moça simples e eu trouxe umas opções. — Mais uma vez, ela me olha de cima a baixo com um certo desdém. — Quer ver.
— Obrigada. — Eu pego o catálogo e vou passando as páginas, mas não me animo com isso.
— A senhora aceita um suco? — Dina pergunta educadamente e a mulher aceita.
Os modelos dos vestidos que estão aqui são bem básicos, mas são lindos. O tecido é lindo, tem um bom acabamento e tem elegância. Mas, eu só consigo detectar apenas isso. Cada peça que eu vejo só me mostra que logo estarei presa em alguns dias.
Presa a um homem que não faço ideia de quem é e como é.
A prova de vestidos começa e eu tenho ajuda. O primeiro não fica nada bem. Eu fico escondida dentro dele, o tecido parece me engolir e eu pareço uma criança. A segunda peça fica volumosa e eu penso que essa mulher trouxe os piores vestidos. Por mais que eu não queira esse casamento, eu não posso ir de qualquer jeito.
Eu posso ter problemas e não quero descobrir.
Tudo o que eu sei sobre um casamento por procuração é que não é todo lugar que aceita essa modalidade. A maior parte de aceitação são por motivos mais delicados como, quem está no exército, casal de países diferentes e algo parecido. Mas não é o meu caso e isso só me faz pensar que esse tal Alex não quer ou não tem interesse com isso.
Essa é a ação de quando alguém não precisa de algo.
Eu fico com uma sensação horrível quanto a isso.
— Esse ficou bom. — Ouço enquanto me vejo pelo espelho. — A cintura ficou boa e o tamanho também... só precisa de ajustes atrás e é normal. Isso sempre acontece e não vai ser difícil de alterar.
— Pode ser este mesmo. — Ela fica surpresa com as minhas palavras.
— Mas já? Para achar um vestido de noiva adequado requer mais tempo... — Nisso ela tem razão, mas não quero descrever a minha situação.
Será que ela sabe da situação toda?
— Ele é perfeito. — Minto. Ela não precisa prolongar isso demais. — É longo, branco, tradicional e elegante. Será esse mesmo.
Convenhamos, é um casamento por procuração, num cartório onde o noivo não vai aparecer e ele nem vai se importar. Eu só preciso estar adequada e não perfeita. A mulher parece não gostar da minha decisão, mas não retruca e ela começa a trabalhar nas medidas. Isso não vai demorar.
Dina olha tudo de longe com um olhar que julgo ser de pena. Eu me acostumei. Na casa do meu pai acontecia isso também. Quando as mulheres falavam algo sobre lugares, coisas que fizeram e do que já viram e experimentaram, eu nunca entendi a experiência já que eu nunca tive nada disso. E então, elas murchavam e me olhavam com pena.
Acho que isso vai se estender por muito tempo ainda.