- MISSÃO DADA, MISSÃO CUMPRIDA. PARTE III

1703 Words
Ponto de vista de terceira pessoa Chang encara Kira. Um brilho vermelho acende em seu ciberóptico — uma fagulha letal em meio à penumbra. Dura só um segundo. Para olhos humanos, impossível acompanhar. Mesmo ciberópticos talvez falhem em registrar o que acontece a seguir. O ar explode em movimento. Dois androides são destroçados antes que suas rotinas de combate sejam sequer ativadas. O terceiro mäl tem tempo de reagir antes de ser lançado contra um companheiro como se fosse um projétil metálico. Um deles tenta se erguer — tarde demais. Kira já está em cima. Ela desfere socos curtos e brutais, cada impacto reverbera como uma marreta. O peito da máquina afunda, estala, implode. Ossos de aço e placas de titânio se partem sob a pressão absurda. Com um último golpe, o punho de Kira atravessa o torso do andróide, fazendo jorrar óleo e cabos retorcidos. O andróide que foi derrubado pelo corpo do outro se levanta, mira sua submetralhadora contra Kira e atira diversas vezes. Pelo menos 30 tiros são disparados em uma cadência ensurdecedora. Trinta tiros cuspidos numa cadência frenética, tentando cortar o ar e derrubar a sombra que os destruiu. Mas Kira já não está lá. Chang não sabe se Kira está de pé ou caída. É rápido demais, completamente insano. A velocidade, a expressão selvagem no rosto dela ao avançar contra o andróide — tudo se mistura num borrão de brutalidade. Como uma fera em fúria, Kira se lança sobre a máquina. Agarra-a com as duas mãos e começa a arrancar cabos, pistões e rebites, desmontando o andróide peça por peça. Ela urra, o som gutural e desumano. A respiração é ofegante, pesada, fazendo a saliva escorrer pelo canto dos lábios. É puro instinto, pura destruição. Chang dá alguns passos para trás, alarmado. Quando percebe que está sendo fintado por Kira, sua postura muda. Com astúcia, abaixa a arma e assume uma posição defensiva. Está alerta — completamente parado, como quem encara um predador. O brilho vermelho nos olhos de Kira, que momentos antes rasgava a penumbra com rastros ameaçadores, se apaga de súbito. Ela cambaleia e cai de joelhos, lutando para se manter consciente. — Avise-os que o caminho está livre — ordena Kira, erguendo-se lentamente. Chang não hesita. Sai correndo pelo corredor, apressado para chamar o restante da equipe. Enquanto isso, Kira continua sua varredura. O local se revela um imenso pátio. Ela aciona o painel de controle e as luzes se acendem com um estalo metálico, revelando um vasto estacionamento subterrâneo. Há caminhões estacionados, veículos de transporte vetorial, caixas empilhadas e, no centro, um caminhão carregado com medicamentos. Espalhados pelo chão, há também corpos de unidades andróides desativadas, algumas ainda soltando faíscas. — Eu desativei tudo que era controlado remotamente assim que chegamos — explica G.E.S.S., aproximando-se de Kira enquanto observa as carcaças de combate —, mas algumas unidades estavam fora da rede. Ele se abaixa ao lado de uma das máquinas destruídas, surpreso com o estrago. — Você isso? — pergunta, incrédulo. Kira lança um olhar de canto, carregado de uma leve arrogância. — E quem mais teria feito? Aos poucos, o restante da equipe vai chegando. Kira imediatamente assume o comando, começando a coordenar cada mëmbro com precisão. Chang, ao notar um dos caminhões já carregado com medicamentos, não perde tempo. Sobe na cabine, dá partida no motor e manobra o veículo até deixá-lo próximo ao transporte de impulso vetorial. Rapidamente, começa a transferir as caixas de medicamentos. Assim que termina de carregar, ele liga o transporte vetorial e o posiciona de forma estratégica, pronto para sair assim que as portas do elevador forem abertas. Enquanto isso, outro veículo é preparado e cuidadosamente carregado com o tanque criogênico que viemos buscar. Logan logo identifica uma caixa robusta, de tamanho considerável, equipada com uma fechadura eletrônica de última geração e um sistema de biometria multicamada—reconhecimento de retina, impressão digital e validação térmica. A blindagem externa é feita de um polímero composto reforçado com grafeno, claramente um artefato de alta segurança pertencente à Pegasus Med. Sem hesitar, ele a carrega com esforço para dentro do veículo de transporte. Enquanto isso, Kira finaliza a instalação de vários quilos de C-6, cuidadosamente moldado em pontos estratégicos da estrutura. Ela utiliza o sistema de oxigênio encanado da instalação como condutor secundário para a propagação da explosão. Além disso, conecta quatro reatores nucleares portáteis—do tipo compacto, modelo T-NR4 da série militar—programados para liberar uma poderosa onda eletromagnética no momento da detonação. O objetivo: inutilizar completamente todos os servidores, sistemas de dados e backups físicos do laboratório. A destruição dos dados será total. O colapso subsequente da estrutura, causado pela carga explosiva direcionada, soterrará os andares inferiores e tornará o acesso à instalação impossível por semanas, talvez meses. Para a Pegasus Med, o prejuízo será incalculável. Kira programa o cronômetro para 300 segundos. Com os olhos fixos no visor, ela se posiciona no banco do piloto, ativa o canal de comunicação com os outros veículos e fala com voz firme: — O local será detonado. Evacuação imediata. Do outro lado, Ivan e Dragon confirmam a ordem. G.E.S.S. já está no assento do copiloto, conectando-se ao painel de comando e assumindo o controle remoto dos sistemas de bordo. Kira gira a ignição, e o motor vibra com um rugido grave. Ao mesmo tempo, G.E.S.S. aciona remotamente as portas do elevador de carga industrial. Dez segundos se esvaem. Os dois veículos adentram o compartimento, guiados por mãos experientes — Kira em um, Chang no outro. As portas se abrem no terraço. Assim que os pneus tocam o concreto externo, cada veículo toma um rumo distinto. Instantes depois, uma explosão ecoa à distância. O impacto é sentido como um trovão sürdo sob os pés. Uma coluna densa de fumaça nëgra sobe ao céu. Poucos segundos após Kira pousar o veículo no terraço da BioCom, uma figura conhecida surge, com um sorriso largo no rosto. — Ora, ora, se não é a prodígio do Douglas. Kira, Kira... Kiirraa. — diz a mulher, arrastando o nome como se saboreasse cada sílaba. Ela olha séria na direção da nuvem espessa no horizonte. — Olha só, a primeira missão como líder, e já abala as estruturas, ahm? — comenta Xiaomei, rindo sozinha de sua piada. Kira permanece impassível, o olhar fixo e a postura tensa. — Xiaomei, você como sempre não conhece limites — responde com frieza. Enquanto Lucy começa a descarregar o tanque criogênico, Xiaomei se aproxima com olhos aguçados e um sorriso calculado. — Missão cumprida e entregue. Pode ir, Kira. Eu cuido da carga até os laboratórios. — Missão dada é missão cumprida, Xiaomei. E quem vai se retirar é você. — Kira apoia levemente a mão sobre a bainha da espada e gira o corpo sutilmente para a direita. — Eu mesma farei a entrega à pessoa que me enviou. O sorriso de Xiaomei vacila. — Que isso, Kira, estamos todos do mesmo lado, hmm? — Ela faz um gesto sutil, e Kira percebe alguns seguranças se posicionando de forma discreta, mas longe de passarem despercebidos. O olhar de Kira se estreita. — Eu não faria isso se fosse você, Xiaomei. Mas eu sou eu. Em um piscar de olhos, ela desarma um dos seguranças e usa seu corpo como escudo. O segundo, pego de surpresa pela velocidade, apenas ergue as mãos. Xiaomei também levanta os braços, sorrindo como uma víbora prestes a mudar de pele. — Calma, calma. Nada disso. Era só uma brincadeira ou talvez um teste? — Ela recua lentamente em direção à porta de acesso ao terraço. Antes de sair, pára sem se virar. — Cuidado com a lealdade à pessoa errada, Kira. Abra os olhos. Não seja apenas uma cadelinha obediente, pense. — E então desaparece atrás da porta metálica. Kira suspira e se volta para Lucy: — Vamos até o elevador privativo. Hoje é domingo. Sem expediente, não conseguirei entregar a carga diretamente ao Sr. Douglas. Ela guia Lucy até o acesso, onde uma equipe do laboratório já aguarda para escoltar o tanque criogênico. — G.E.S.S., pode levar o veículo com você. Lucy também está dispensada. Logan idem. Se puder, leve-o ao hospital. Ele não está bem. G.E.S.S. acena em sinal de confirmação, mas antes de sair, pede o número de Kira. Ela compartilha seu contato pessoal sem hesitar. Logo após, Lucy, G.E.S.S. e Logan partem sem obstáculos. Lucy, sem cerimônia, pede abrigo a Logan, que aceita. G.E.S.S., sorrindo, entra junto na carona. Todos seguem para o apartamento de Logan. Já no local, ele entra em contato com um técnico de cibersegurança para tentar abrir a caixa selada que trouxe consigo. Depois, encaminha Lucy e G.E.S.S. para um dos quartos. — Vai dormir na sala, garoto — diz Lucy, constrangida, mas firme. G.E.S.S. apenas sorri e aceita. Logan, ainda medicado, exausto e com os sentidos embaralhados, se joga na cama e adormece quase de imediato. Enquanto isso, bem longe dali, Chang Liu chega à residência que divide com sua banda. Entra eufórico, pilotando o que agora chama de veículo "novo” — a caçamba abarrotada de medicamentos valiosos. — Agora é só encontrar o canal certo no submundo — murmura, abrindo um sorriso largo. — Afinal isso não tem nota. Ao entrar em casa, Chang dá de cara com uma cena tórrida: Michael, o vocalista da banda, transando com Mika — apelido de Michaela, a baixista. Sem se abalar, ele apenas balança a cabeça e segue direto para o quarto. Depois de guardar suas armas e trocar de roupa, vai até o quarto de Pedro, o baterista. — Ei, ei, cara! — chama empolgado. — Fui numa missão insana e voltei com uma pörrada de frascos de medicamento. Acho que dá pra vender no mercado nëgro e faturar uma grana boa. — Pode deixar comigo — responde Pedro, já pegando o celular. — Vou ligar pra uns contatos e te aviso. Satisfeito, Chang volta para seu quarto, a mente fervilhando com a ideia de quanto dinheiro vai entrar — e, claro, com quantas drogas e bebidas isso pode render. Aos poucos, relaxa na cama e adormece com um sorriso no rosto, feliz por mais um dia de vitórias e lucro fácil.
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