- CIDADE DA SUCATA : GUERRA PARTE FINAL

1634 Words
Ponto de vista de Kira Me comunico pelo rádio — Atenção, todos na área do Castelo, evacuem imediatamente, risco de explosão nuclear. Encontrado um mini artefato nuclear armado e em contagem regressiva de dois minutos. Saiam da área, repito, saiam da área. Câmbio e desligo. Dou um sorriso sádico enquanto analiso todos os passos do que devo fazer. O som abafado do cronômetro ecoa no silêncio opressor. O painel de controle da bomba brilha com luzes vermelhas e amarelas, alertas piscando como avisos de morte iminente. O artefato nuclear está alojado em uma carcaça metálica cilíndrica, com fios entrelaçados conectando seus componentes internos. O visor digital exibe uma contagem regressiva implacável. Cada movimento precisa ser calculado. 1. Acesso ao dispositivo A tampa do compartimento principal é removida com cuidado, revelando a intrincada rede de circuitos e explosivos convencionais ao redor do núcleo fissível. Primeiro, o mecanismo anti-intrusão precisa ser contornado. Sensores podem detectar vibração, calor ou manipulação incorreta, então um campo eletromagnético controlado pode ser usado para neutralizar possíveis armadilhas. 2. Identificação dos componentes O coração da bomba é o núcleo de fissibilidade, geralmente feito de plutônio-239 ou urânio-235, cercado por explosivos de alta potência usados para iniciar a reação em cadeia. Ao redor, encontra-se o dispositivo de implosão, projetado para comprimir o núcleo e torná-lo crítico. Há também o gatilho eletrônico, que recebe o sinal do temporizador nesse caso. 3. Interrupção do sistema de detonação O primeiro passo é cortar a alimentação do temporizador e do detonador. Os fios geralmente são protegidos por redundâncias—cortar um errado pode acelerar a explosão ou ativar um sistema de segurança secundário. Usando um analisador de espectro, é possível identificar a fiação principal de ativação. Com um cortador de precisão, o fio correto é seccionado. A contagem regressiva pára. Mas isso não significa que a bomba está segura. 4. Neutralização do explosivo convencional Mesmo sem a reação nuclear, a carga convencional pode explodir, espalhando material radioativo. O próximo passo é desativar os explosivos moldados ao redor do núcleo. Um gel químico especial pode ser injetado para desestabilizar a carga, ou um sistema de congelamento rápido pode tornar os explosivos inertes. Retiro um pequeno botijão com nitrogênio líquido, uma pistola com uma mangueira e acoplo no botijão, direciono o jato pro local e tudo indo nos conformes, até agora. 5. Remoção do núcleo fissível Com o detonador desativado e os explosivos neutralizados, a última etapa é remover o pit (núcleo) de plutônio ou urânio. Esse material ainda é altamente radioativo e precisa ser isolado em um recipiente de segurança revestido de chumbo, por sorte eu tenho uma manta com pelo menos um metro e meio, e o uso para revestir o material. 6. Verificação final Antes de considerar a bomba inofensiva, um diagnóstico completo é realizado para garantir que nenhum sistema de redundância tenha sido acionado. Apenas após essa análise é possível declarar o artefato como neutralizado. Me ergo, recolhendo todas as ferramentas. Quem precisa de um técnico quando se tem minhas habilidades? Um orgulho discreto me invade. Sei como me vêem—uma máquina de combate, uma arma viva. Mas sou mais que isso. Muito mais. Estou prestes a sair quando um tremor violento percorre o ambiente. O teto range, depois ruge, desmoronando sobre mim. Analiso rapidamente a situação: estou em uma masmorra, e este cofre parece um quarto do pânico. Com um esforço tremendo, ergo a porta caída no chão e a reposiciono. No instante seguinte, tudo se apaga. O breu é absoluto. O silêncio que se instala é ainda pior, esmagador. Ativo minha visão ultravioleta e o mundo ao meu redor volta a ganhar contornos, mas a realidade não muda—estou presa. Respiro fundo. Busco uma saída. Tento não pensar no óbvio, mas a ideia se infiltra em minha mente como um parasita: e se este for o meu túmulo? Não por uma lâmina atravessando minha carne, não sob uma chuva de balas, não em combate, mas aqui—sozinha, apagando aos poucos, vítima da inanição. Uma morte silenciosa. Uma morte indigna. Meus punhos se cerram. Me sento por um instante, sentindo o cansaço finalmente me alcançar. Agora que parei, percebo o peso esmagador no meu corpo—cada músculo lateja, cada movimento parece mais lento. A fome me corrói por dentro. Abro a mochila e retiro um isotônico e uma barra de proteína carregada de açúcar. Como rápido, quase devorando, e bebo o líquido em goles longos, mas a sensação de vazio persiste. A fome não passa. Pior, parece crescer, como se algo dentro de mim exigisse mais. Reviro a mochila, mas já sei a resposta antes mesmo de confirmar: não há mais nada. Nenhuma migalha. Suspiro. Não há sinal de rádio aqui dentro. Estou completamente isolada. Meu olhar vagueia pelo espaço apertado, mas meus olhos começam a se fechar sozinhos. Não quero lutar contra isso. Não agora. Não ainda. --- Desperto abruptamente, sentindo o ar estagnado ao meu redor. Pelo meu relógio interno, devo ter dormido umas quatro horas. Me preparo para me levantar quando algo me faz paralisar. Meu olhar desce até o chão. Vejo pequenas ramificações surgindo da minha pele—delicadas, finas, parecendo veias, mas... não são apenas isso. Elas se estendem, adentrando o chão como raízes buscando solo fértil. Meu estômago não reclama mais. A sede sumiu. Meu coração dispara. É por isso? É assim que meu corpo está se sustentando? Algo dentro de mim estremece. Isso é normal? Isso... ainda sou eu? Então, além de ser capaz de me reconstruir usando metal, eu... posso absorver nutrientes diretamente do solo. A revelação me atinge com força, um turbilhão de emoções misturadas que não consigo processar de imediato. Surpresa. É a primeira reação que vem, como se eu não pudesse acreditar no que estou vendo com meus próprios olhos. Confusão vem logo depois, uma nuvem densa que obscurece minha mente. Como é possível? Como isso está acontecendo comigo? Mas então, uma onda de excitação toma conta de mim. Animada. É uma sensação nova, quase intoxicante. O que mais meu corpo pode fazer? O que mais eu posso ser? As possibilidades são infinitas. E, no entanto, no fundo, uma sombra começa a se formar. Um medo profundo e visceral. Medo do desconhecido, medo de perder o controle, medo de não saber até onde isso pode me levar. Não sei o que está acontecendo comigo, e isso me assusta. Eu deveria estar mais tranquila, deveria ver isso como uma vantagem. Mas o que se esconde por trás disso tudo? Eu sou mais forte, mas sou também mais vulnerável. Onde isso vai me levar? Quem sou eu, afinal? Forço minha mente a se concentrar. Não é hora de ceder ao turbilhão de perguntas e dúvidas. Preciso sair daqui, e só então poderei testar minhas habilidades, entender o que está acontecendo comigo. No momento, minha prioridade é a sobrevivência. Fecho os olhos e começo a meditar, buscando estabilizar minha mente, acalmar o caos interno que ameaça me consumir. Enquanto me concentro, sinto um arrepio percorrendo minha pele, uma leve vibração no ar. Algo está diferente. Abro os olhos, imediatamente me colocando em pé, pronta para agir. Algo está errado, estou deixando algo passar. Um erro, uma falha que não posso permitir. Então, percebo. Claro, é tão óbvio agora. Estou em uma masmorra de um "Castelo" e em uma masmorra sempre há uma rota de fuga. Não precisei de muito tempo para encontrar o que buscava. Segui a corrente de ar, uma brisa fraca, mas constante. E ali estava—uma escotilha no chão do cofre. A princípio, pensei: por que alguém colocaria uma escotilha embaixo de uma masmorra? Mas logo a lógica se impôs. O local está úmido, há umidade no ar. Talvez um lençol freático abaixo. Não havia tempo para mais questionamentos. Com o restante do meu termite, forço a escotilha até que ela ceda. E ali estava: um túnel, sombrio e vasto. Após descer, o espaço se abre em um corredor subterrâneo amplo, me dando a sensação de que posso respirar mais livremente. A água. O som é nítido, vindo de longe, mas não tão distante. Como eu suspeitava, o túnel leva a um rio subterrâneo. O fluxo é forte, as correntezas rápidas e a escuridão é absoluta. A água parece viva, ameaçadora, mas também a única rota possível. Sinto uma estranha mistura de medo e adrenalina. Eu estou sozinha aqui, e a única coisa que posso fazer é seguir em frente. Não precisei ir muito longe. Bem à frente, como se estivesse à minha espera, havia um píer e uma lancha. Minha mente imediatamente se divide entre duas possibilidades: ou sou incrivelmente sortuda, ou isso é uma armadilha. Meus olhos varrem o ambiente, cada sombra, cada canto, esperando qualquer sinal de perigo. Mas, para minha surpresa, nada. Nenhuma movimentação suspeita, nenhum sistema de segurança ativado. Apenas a lancha ali, vazia, pronta para uso. Aos poucos, a realidade se impõe. Com o sistema elétrico do cofre fora de operação, todas as proteções eletrônicas foram desativadas. Tudo o que estava guardado ali agora estava completamente acessível. Aproveitei. Sem perder tempo, comecei a esvaziar o cofre. Obras de arte, principalmente—telas enroladas e guardadas em tubos acolchoados, protegidas do tempo e da umidade. Joias brilhando sob a luz fraca do túnel. Drogas embaladas e organizadas como se fossem um estoque pronto para ser distribuído. Tudo aquilo agora era meu. Trabalhei sem parar por quase três horas, carregando item após item até a lancha. Mas não sou trouxa. Para agilizar o processo, usei o bote salva-vidas como um carrinho improvisado, transportando cargas maiores de uma só vez. Cada peça valia uma fortuna. Cada objeto ali podia mudar vidas—ou destruí-las. Mas, naquele momento, nada disso importava. Apenas uma coisa passava pela minha mente: sair dali com tudo o que fosse possível.
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