- ANALISA?

1600 Words
Ponto de vista de Logan Quando abro a porta, me deparo com a última pessoa que imaginei ver novamente. Mas, depois de todas as revelações de hoje, já nem sei mais o que é possível ou não. A cobaia que "resgatamos" na Europa está bem ali, diante de mim. Diferente da última vez que a vi, agora ela parece uma adolescente comum—saia plissada, camiseta branca de gola, um colete por cima. Mas, observando melhor, percebo que ela é uma adolescente. Não deve ter mais do que dezesseis anos. Antes que eu possa reagir, ela simplesmente entra, como se já fosse parte do ambiente. Mais uma vez, me pego pensando sobre essa estranha confiança que certas mulheres parecem ter ao invadir moradias alheias. — Então é aqui que você se esconde. — Sua voz carrega um tom casual, como se fôssemos velhos conhecidos. Ela se vira para mim, estendendo a mão com naturalidade. — Prazer, eu sou Analisa. Antes que eu possa responder, um vulto se move rapidamente ao meu lado. G.E.S.S. surge como um raio entre nós dois, apertando a mão dela com um sorriso bobo no rosto. — Eu sou G.E.S.S., esse aqui é o Logan aquele ali é o Ivan! — Ele praticamente cospe as palavras, empolgado, como se estivesse tentando ganhar pontos por ser o primeiro a se apresentar. Fico apenas observando, tentando entender o que diabos essa garota está fazendo aqui—e, mais importante, o que ela quer. — Bom... prazer? — digo, afastando G.E.S.S. da minha frente. — Mas o que você quer? Como me achou? E como entrou? Analiza sorri de canto, como se achasse minhas perguntas engraçadas. — São muitas perguntas, mas só uma resposta. — Ela leva os dedos à têmpora. — Tudo está interligado na rede. Então, basta eu pensar, e estou dentro. Eu entendo... mas não compreendo. A lógica do que ela disse me escapa. Duas cobaias na mesma família? Não pode ser coincidência. Kira é mais velha, então, se Analisa é a mais nova, poderia ter herdado o mesmo parasita? Se for esse o caso, tudo se encaixa. E mais do que isso... poderíamos finalmente descobrir a verdadeira identidade de Kira. E se houver outros irmãos? Enquanto minha mente se perde nesses pensamentos, noto G.E.S.S. completamente bobo, oferecendo água, lanche, qualquer coisa que tenha por perto. Analisa, por sua vez, parece à vontade, como se estivesse em casa. De repente, seu olhar se torna distante, como se tivesse entrado em transe. Então, ela balança a cabeça, os olhos bem abertos. — Droga... sua residência está grampeada. Precisamos sair daq— Ela nem termina a frase. A explosão vem primeiro, engolindo o ar com um estrondo ensurdecedor. Quando a poeira baixa, vejo um buraco enorme na parede do apartamento. E através dele, uma visão nada agradável: um androide de combate, equipado com propulsores e lançadores de mísseis embutidos. Mísseis. Direcionados para nós. Saltamos para os lados no reflexo, nos jogando para longe do impacto. No meio do caos, noto Analisa parada. Seus olhos brilham em um tom verde estranho. Algo está acontecendo. Ela encara o androide, e então, seus olhos brilham novamente. O androide se move... mas não ataca. Ele simplesmente caminha até Analisa e para. Ela sorri. — Pronto. Agora é meu androide. Minha mente trava. Isso... não é possível. Ela não acessou a rede, ou acessou? Mas cadê o cibermodem? Cadê o deck dela? Não há nenhum equipamento visível. Teria sido wireless? Ela reprogramou um androide de combate em dois segundos. Meu cérebro está inundado de dúvidas, e a única certeza que tenho é que, se Analisa for algo próximo de Kira, não é de se admirar do que ela é capaz. Como se pudesse ouvir meus pensamentos, ela me encara com um olhar de desdém. — Eu disse... tá na rede, é peixe. Então, começa a rir loucamente da própria piada. Não foi uma piada ruim... mas não é hora para piadas. De repente, ela fica séria. — Eu mandei vocês saírem daqui. Esse lugar tá grampeado. Eles sabem de mim... e vão vir atrás. Ela se vira e caminha até o buraco na parede. Minha curiosidade fala mais alto, e sigo atrás. Quando olho para fora, meu estômago afunda. Seis veículos de combate estão vindo direto para cá. Analisa observa a aproximação deles sem demonstrar pressa ou medo. — Eles não vão lançar bombas, porque sabem que eu não sou como minha irmã. Sua voz sai em um sussurro, e naquele instante vejo algo que me faz prender a respiração. Cabos emergem de seu corpo. Diferente dos de Kira, que têm uma aparência biológica, os de Analisa parecem cabos de verdade. Em questão de segundos, eles se conectam aos fios e circuitos das ruas, como se estivessem absorvendo a energia ao redor. E então, seus olhos brilham novamente—mas agora que estou perto o suficiente, vejo códigos passando por suas pupilas. Pequenos, mas incontáveis. Como trilhos de dados percorrendo sua mente. — Que loucura... — murmuro sem perceber. Mas não tenho tempo para processar. Dois veículos de combate da polícia surgem de repente... e abrem fogo pesado contra os outros seis. Os quatro primeiros são destruídos como moscas. Os dois restantes tentam recuar. E então, algo que, se me contassem, eu não acreditaria: Dois feixes de luz descem do céu com força brutal, atingindo os veículos de impulso vetorial. Eles simplesmente apagam no ar e começam a cair. Meus olhos se arregalam. — Püta que pariu... Analisa... invadiu a estação espacial da Elitech, para usar esse tipo de arma? esse pensamento me desnorteia, me insandece... se Analisa é capaz disso...nem quero ver do que mais ela é capaz. A própria Elitech está atrás de Analisa… e não só ela. A Vortoli também está envolvida. Por sorte—se é que podemos chamar assim—, a Vortoli atua apenas na Europa. Mas isso significa que o que quer que esteja acontecendo com Analisa não é algo pequeno. Pisco algumas vezes, tentando assimilar tudo. Meu cérebro ainda está correndo atrás dos acontecimentos quando percebo movimento ao meu redor. G.E.S.S. se levanta primeiro. Seu rosto está sujo de poeira e sangue escorre de um corte na testa, mas ele parece estar inteiro. Ivan surge logo depois, saindo debaixo de pedaços de gesso e madeira. Está cheio de escoriações, mas nada que pareça grave. Já Analisa... Ela parece estar se recuperando. Os cabos que saíram de seu corpo sumiram, como se nunca tivessem existido. Então, ela me encara, um sorriso malicioso no rosto—e, para minha surpresa, me mostra a língua. Que infantil. Balanço a cabeça, mas, sem nem perceber, um sorriso escapa dos meus lábios. G.E.S.S e Ivan nos encaram como se não pudessem acreditar no que vêem. O silêncio entre nós é denso, carregado de algo que não conseguimos nomear. Então, Ivan rompe o momento, sua voz saindo um pouco rouca: — Tenho uma garagem na área leste da cidade. Se quiserem, podemos ir para lá. Era onde eu e Dragon íamos montar uma academia... Há um peso nas palavras dele, um luto que ainda grita dentro de sua mente. Por um instante, ele parece perdido nas próprias lembranças, como se revivesse um tempo que já não existe. — Ok, vamos para lá. Minha boca se abre em espanto ao ouvir Analisa tomar a dianteira e decidir por todos sem hesitação. Mas, antes que eu diga qualquer coisa, percebo que concordo. Talvez seja o tom dela, firme e resoluto, ou talvez eu apenas esteja cansado demais para contestar. G.E.S.S não tira os olhos de Analisa. Há algo em seu olhar. Ivan, por outro lado, se fecha ainda mais depois de falar sobre Dragon. Mas não é só isso. Percebo que ele me observa de soslaio, como se tentasse medir algo em mim. Então, de repente, ele solta: — Cara... essas corporações, gangues, famílias mafiosas, governo, militares… são todos farinha do mesmo saco. Eles usam as pessoas. Fazem experimentos, lavam cérebros, treinam as pessoas até a exaustão. Fortalecem o corpo, mas destroem a mente. Cyberpsicose não é uma falha... é um sintoma. Eles exigem demais. Sempre demais. Ele pára, absorto em seus pensamentos, antes de soltar um suspiro longo. — Kira... o que fizeram com ela para transformá-la naquilo? Sua voz carrega algo que não é só tristeza — é uma ferida aberta, uma culpa velada. Ele levanta os olhos para mim, e por um segundo me sinto preso naquele olhar. — Eu a encarei no momento em que Dragon morreu. E, cara… não havia nada ali. Nada. Era puro vazio. Eu olhei para uma máquina… e vislumbrei a própria morte. O silêncio que se segue pesa como chumbo. Fomos até a van que Ivan usa e seguimos para a garagem que ele mencionou. O lugar era amplo, uma academia improvisada, com alguns aparelhos novos e outros de segunda mão, mas tudo ainda desorganizado. Ivan ficou parado, observando tudo, parecendo um pouco perdido. Me aproximei e toquei seu ombro. — Podemos fazer isso dar certo. Posso te ajudar. Ele sorriu de leve, um sorriso que não chegou aos olhos, mas que carregava uma cumplicidade silenciosa. Ele solta o ar que nem percebia estar prendendo e assente com um aceno firme. — É… tá na hora de passar para o próximo estágio. Precisamos mudar as coisas. Sinto que algo grande está por vir, algo que vai abalar os alicerces de tudo o que conhecemos. Ele encara Logan com intensidade antes de continuar: — Estamos no meio de um furacão, e se não firmarmos os pés agora, seremos varridos junto com tudo ao nosso redor.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD