- AURORA: CAPÍTULO BÔNUS

1006 Words
Ponto de vista de terceira pessoa A cidade de Brasília se estendia diante dela, silenciosa, mas com uma tensão no ar que poderia ser cortada com uma lâmina afiada. A noite estava quente, as luzes da cidade brilhavam como estrelas refletindo as emoções de quem estava prestes a desafiar o limite da velocidade. Aurora ajustou as luvas, respirando fundo. A moto que ela estava pilotando não era sua, mas o contato que fizera aqui, durante sua estadia, havia garantido a ela uma máquina personalizada — uma máquina que rosnava como um animal feroz pronto para a caça. A moto tinha um motor modificado, suspensão turbinada, e uma pintura preta fosca com detalhes em vermelho brilhante, como sangue fresco. O desafio era simples: uma corrida contra oito corredores pelas ruas sinuosas de Brasília. Os outros competidores estavam alinhados ao seu redor, motos de todos os tipos, mas nenhuma delas era tão afiada, tão precisa quanto a sua. Aurora sentia uma adrenalina crescente, mas, ao mesmo tempo, havia uma calmaria dentro dela. Era como se o mundo ao seu redor estivesse prestes a desacelerar, e ela estivesse no controle total. A largada foi dada com o som de uma buzina. Aurora acelerou sem hesitar, as rodas da moto agarrando a pista com força, os outros corredores logo atrás, tentando, em vão, pegar sua vantagem. Era mais do que habilidade; era instinto. Tudo que Jason lhe ensinara sobre sentir a máquina, entender sua necessidade, essa sensação de "perder o controle para ganhar velocidade" agora fluía nela como um rio selvagem. Ela contornava as curvas com perfeição, seu corpo se movendo junto com a moto como se fosse uma extensão dela. O vento batia com força em seu rosto, mas isso só a fazia se sentir mais viva. Cada segundo da corrida era uma explosão de energia. Ela sentia a vibração do motor sob ela, cada trepidar da máquina respondendo ao seu comando. Logo, os outros corredores começaram a ficar para trás. Aurora sabia que não havia mais nada que eles pudessem fazer para alcançá-la. Ela estava em uma zona de pura conexão, onde a moto e ela eram uma coisa só. Ela não era mais uma mulher correndo em uma moto; ela era a própria corrida, a própria aceleração. O asfalto se estendia à sua frente como uma flecha, e ela estava mais rápida do que nunca. Os últimos metros se aproximavam. Os outros corredores estavam agora apenas sombras no retrovisor. Aurora, com um sorriso no rosto, acelerou ainda mais, a moto respondendo com uma violência controlada, o som da aceleração ecoando pela cidade. Ela não se virou para ver os outros, mas soubera que nada mais importava. Aurora desacelerou até parar, o som da moto diminuindo gradualmente até se perder no silêncio da noite. Ela permaneceu ali, imersa no vazio do momento após a linha de chegada. A adrenalina que ainda corria em suas veias começava a se dissipar, deixando um peso sutil, mas crescente, no peito. O motor da moto, agora desligado, respirava suavemente como se também tivesse cansado. O som dos pneus sobre o asfalto se dissipava aos poucos enquanto Aurora caminhava para longe da moto, o peso de cada passo se tornando mais pesado à medida que o ar da noite parecia apertar seu peito. A vitória da corrida ainda reverberava em sua mente, mas, agora, a sensação de conquista parecia irreal, como se ela estivesse vivendo uma mentira bem ensaiada. O vento fresco que passava por ela não trazia mais a sensação de liberdade. Agora, só havia a solidão. O vazio dentro dela se expandia, como um abismo profundo. E ali, naquele silêncio absoluto, ela se viu diante da verdade que não queria encarar: ela sentia falta da sua família. Sentia falta deles de um modo que não conseguia explicar, uma saudade que era mais do que um simples desejo de estar junto. Era uma dor. A ausência de sua mãe, de seu pai, as lembranças de quando ainda estavam todos juntos, e ela, no meio deles, acreditando que o mundo era um lugar possível de ser conquistado, cheio de possibilidades. O rosto de sua mãe surgiu na sua mente, aquele olhar forte, mas acolhedor, e ela teve a sensação de que nunca mais poderia tocar aquela familiaridade. O som da voz de seu pai, que costumava lhe dar conselhos ríspidos, mas sempre com uma preocupação disfarçada. Onde estavam agora? Seria verdade o que Analisa falou? Eles estariam vivos? E, então, a saudade de Jason. O pensamento dele a cortou como uma lâmina afiada. Jason. Ela sempre achou que não precisaria dele para seguir em frente, que podia continuar correndo, atravessando o mundo, e nunca mais se perder. Mas agora, no silêncio da noite, ela entendia que ele sempre foi mais do que um simples aliado nas corridas, ou um amante regular. Ele era a ancoragem dela, a estabilidade, a pessoa que conhecia suas fraquezas e sua força. Ele sempre sabia como a fazer sorrir, mesmo nos momentos em que tudo ao seu redor parecia estar desmoronando. Aurora sentiu o peso da ausência dele de uma maneira que nunca havia experimentado antes. Sem ele, sem a presença da sua família, ela estava navegando nas corridas como um barco à deriva. Suas vitórias não significavam mais nada, porque ela não tinha ninguém para compartilhar com ela. Ela olhou para o céu, tentando encontrar algum consolo nas estrelas, mas, em vez disso, o que encontrou foi mais vazio. Ela estava sozinha. O som de suas próprias respirações parecia uma acusação silenciosa: Você falhou. A sensação de estar perdida se intensificava. Ela queria tudo de volta. Queria seus pais e irmãos, queria Jason, queria se sentir viva e livre de novo. Aurora parou e fechou os olhos por um momento, tentando prender as lágrimas que teimavam em querer se mostrar. A dor, a saudade, tudo estava ali, preso dentro dela. Uma falta tão grande que nada poderia curar. Mesmo correndo por aquelas ruas, ela nunca se sentiu tão vazia. Ela sentiu, finalmente, que não podia mais fugir.
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