- CIDADE DA SUCATA- MERCADO DE ESCRAVOS - PARTE I

1532 Words
Ponto de vista de terceira pessoa Kira não conhecia bem o local. Trouxera dinheiro, mas não muito. Além disso, não tinha tempo para um planejamento elaborado. O leilão de escravos aconteceria em uma feira itinerante, onde também estariam sendo negociados armamentos. Isso lhe dava uma oportunidade. Estava armada apenas com sua monokatana. Dependendo da segurança do evento, poderia não haver outra opção senão "entrar metendo os dois pés na porta". Ela e Killey caminhavam pelas ruas movimentadas da cidade quando Kira avistou uma feira, repleta de mercadores vendendo desde alimentos exóticos até equipamentos militares. Uma banca em particular chamou sua atenção: explosivos. Os olhos dela brilharam. Explosivos eram sua paixão. Sem hesitar, aproximou-se e fez uma compra rápida e discreta: um quilo de C6, um explosivo plástico moldável, além de um temporizador. — O que pretende fazer com isso? — perguntou Killey, desconfiado. Kira deu um sorriso malicioso enquanto verificava a carga. — Criar uma distração. Se quero me aproximar do leilão sem virar alvo, preciso garantir que todo mundo esteja olhando para outro lugar. — Isso não vai dar certo, mesmo que chame atenção não serão todos que irão verificar a explosão. Fala Killey imaginando que a Kira não havia previsto. — Ok, concordo e conto com isso. Preciso que alguns seguranças fiquem no posto, para eu pegá-los e usá-los. Kira fala incisiva e direta já guardando o material no bolso da jaqueta reforçada. Kira e Killey se afastaram da feira, seguindo por becos apertados e ruas menos movimentadas já começando a traçar um plano na mente. O leilão aconteceria em poucas horas, e não havia tempo para erros. — Onde vamos plantar isso? — Killey perguntou, olhando ao redor. — Se for perto demais, podemos acabar atingindo os inocentes. — Preciso primeiro ver a estrutura do lugar — Kira respondeu. — Precisamos de um ponto alto, um local com visão ampla. Eles seguiram até uma colina próxima, de onde podiam observar a movimentação da feira e o local do leilão. Um palco improvisado havia sido montado no centro, cercado por uma área reservada para compradores. Guardas armados patrulhavam a área, e diversas gaiolas reforçadas continham os escravos à venda. Foi então que perceberam que não estavam sozinhos. Uma figura enorme, coberta por um manto puído, estava agachada entre os arbustos, observando a feira com atenção. O cheiro de couro e metal se misturava ao leve aroma de algo animal. Kira pousou a mão no cabo da monokatana. — Ei, amigo. O que faz aqui? — Killey perguntou, já se preparando para o pior. A figura virou a cabeça lentamente, revelando um rosto bestial. Pelagem dourada, presas afiadas, olhos intensos. Um bioesculpido. — Observando — ele respondeu, sua voz rouca e grave. Kira relaxou a postura, mas não muito. Bioesculpidos não eram comuns, e menos ainda aqueles que pareciam leões humanoides. — Você não parece um comprador — ela disse. Ele sorriu, mostrando os caninos. — Nem vocês. Killey trocou um olhar rápido com Kira, tentando entender a situação. — Está interessado no leilão? — Kira insistiu. — Mais do que deveria — ele respondeu, ainda encarando o local. — E vocês? — Vamos tirar alguém de lá — Kira admitiu, direta. O bioesculpido soltou um som baixo, quase um ronronar misturado a um riso. — Eu também. Isso chamou a atenção dela. — Quem? Jair O Leão olhou para ela por um momento antes de responder: — Um velho amigo. Kira avaliou a resposta. Era vago, mas significava que eles tinham um objetivo em comum. Após se apresentarem Kira resolveu propor uma parceria. — Se é assim, talvez possamos nos ajudar — ela disse. Jair cruzou os braços e inclinou a cabeça. — Depende. Qual o plano? Kira deu um leve sorriso. — Explosivos, caos e rapidez. Jair O Leão riu. — Gosto disso. Kira, Killey e Jair O Leão analisaram o local por mais alguns minutos. A área do leilão era protegida, mas a movimentação estava concentrada no palco e nos compradores. O estacionamento ficava um pouco afastado, quase vazio, exceto por alguns veículos grandes — provavelmente usados para transportar mercadorias e prisioneiros. Kira apontou para um dos caminhões blindados estacionados na lateral da feira. — Ali. Esse lugar é perfeito. Quando explodir, a segurança vai correr para lá, e a gente entra no leilão sem chamar tanta atenção. Killey cruzou os braços. — E se tiver alguém dentro? — Não é problema nosso — Jair O Leão resmungou, sem tirar os olhos do veículo. Kira deu de ombros. — Em situações assim Killey, não tem como salvar a mão sem perder uns dedos. Com o plano em mente, o trio desceu discretamente a colina e começou a se aproximar da feira pelos becos. Jair se manteve um pouco atrás, sua silhueta grande demais para se misturar à multidão. Kira e Killey passaram despercebidos entre os transeuntes, fingindo ser apenas mais dois mercadores em busca de negócios. Chegando ao estacionamento, Kira se abaixou atrás de um carro menor e observou o caminhão blindado. Dois guardas conversavam ao lado dele, fumando cigarros e parecendo despreocupados. — Mërda… — Killey sussurrou. — Vamos ter que esperar. Jair O Leão, por outro lado, sorriu. — Ou não. Antes que Kira pudesse perguntar, Jair se afastou e desapareceu entre as sombras. Momentos depois, um barulho alto veio do outro lado da feira — algo derrubando caixas, seguido por um grito. Os guardas do caminhão se entreolharam e, sem hesitar, correram para ver o que estava acontecendo. — Eu gosto desse cara — Killey comentou. Kira sem perder tempo se esgueirou até o caminhão. Com mãos ágeis, prendeu a carga de C6 na parte traseira do veículo e ajustou o temporizador. — Dez minutos. Isso nos dá tempo para chegar ao leilão antes da explosão. Ela e Killey se afastaram rapidamente, voltando para onde Jair os esperava. — Feito — Kira disse. Jair assentiu. — Então está na hora de pegar o que viemos buscar. A contagem regressiva estava em 30 segundos. Kira, Killey e Jair O Leão já estavam posicionados no meio da multidão. O leilão acontecia em um palco elevado, onde um escravista de terno surrado apresentava os "produtos" a uma plateia de compradores impassíveis. As jaulas reforçadas ao redor estavam cheias de pessoas abatidas, algumas com implantes cibernéticos precários, outras parecendo completamente exauridas. A irmã de Barney deve estar entre elas. Ao redor, os compradores estavam acompanhados por seguranças e mercenários. Alguns claramente tinham implantes avançados, seus olhos brilhando com interfaces aumentadas, enquanto outros eram brutamontes com rifles pesados. Alguns médicos de jalecos brancos avaliavam os escravos como se escolhessem peças de carne. Kira sentiu a raiva fervilhar. Mas precisava manter o foco. 10 segundos. Os mercenários se mantinham em alerta, alguns de braços cruzados, outros descansando as mãos nas armas. A segurança do evento patrulhava o perímetro com armas letais, mas o clima ainda era tranquilo. Por enquanto. 5 segundos. Ela trocou um olhar com Killey e Jair. Eles estavam prontos. 3… 2… 1… E então a explosão... A detonação do C6 fez o chão tremer. O caminhão blindado foi engolido por uma bola de fogo e metal retorcido, a onda de choque derrubando barracas e lançando pedaços de destroços pelo ar. A explosão ressoou como um trovão, e o efeito foi instantâneo: — O que diabos foi isso?! — gritou um dos guardas. — Ataque! — berrou um mercenário, sacando sua arma. A feira mergulhou em caos absoluto. Compradores entraram em pânico, tentando fugir. Seguranças correram para a origem da explosão, deixando o palco do leilão momentaneamente vulnerável. Mercenários se entreolharam, confusos, e alguns começaram a atirar sem nem saber em quem. Kira sorriu. Exatamente como ela esperava. — Vai! — ela gritou para os outros. Killey sacou sua pistola e disparou contra um guarda que tentava erguer sua arma, derrubando-o antes que ele pudesse reagir. Jair O Leão avançou como um trovão de músculos e garras, atropelando um dos capangas e o lançando contra um poste com um estalo seco. Kira se moveu como um fantasma no meio do tumulto, sua monokatana reluzindo quando cortou a garganta de um mercenário desavisado. Sangue jorrou enquanto ela já saltava para trás, evitando um disparo de espingarda, outro guarda abatido com um corte preciso de sua monokatana, a cabeça cai rolando enquanto outros a visam como alvo. No palco, o leiloeiro berrava desesperado. — Protejam os produtos! Fechem as jaulas! Mas já era tarde demais. Jair O Leão agarrou um dos guardas e o arremessou contra a estrutura de metal das jaulas, amassando-a com o impacto. Killey pegou as chaves do bolso de um capanga caído e correu para destrancar os prisioneiros. — Qual delas é a irmã de Barney?! — ele gritou. Kira olhou rapidamente ao redor. Uma garota magra, cabelos desgrenhados e olhos arregalados estava espremida no fundo de uma das jaulas. Seu rosto era uma mistura de medo e esperança. — É ela! Kira aponta, enquanto mata mais dois guardas próximos abrindo caminho até a dita jaula. Mas antes que pudessem alcançá-la, um mercenário corpulento com um braço cibernético saltou no meio do caminho, segurando uma metralhadora pesada. — Nenhum de vocês vai sair vivo. Ele abriu fogo.
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