Giorgia
Um sinal sonoro me acordou. Pisquei com força, sentei-me e olhei ao redor. A visão da cabine de primeira classe era surreal, e levei um momento para perceber onde estava. Avistei Atlas em seu assento, com o laptop ainda aberto à sua frente.
— Bom dia! — disse ele, inclinando a tela do seu MacBook para baixo. — Como você está se sentindo?
— Surpreendentemente revigorada.
— Que bom ouvir isso. Muito melhor do que ter duas pessoas te dando cotoveladas lá atrás. Avião particular é melhor, claro, mas isso é quase a melhor opção.
Dei outra olhada nele: o copo de uísque havia sumido e sido substituído por uma xícara de café fumegante, mas, fora isso, não parecia nada diferente de quando eu tinha cochilado.
— Você ao menos dormiu?
Seus dedos se moveram sobre o teclado por um instante enquanto ele digitava um último pensamento. Quando terminou, olhou para mim com uma expressão confusa no rosto.
— Hã? Ah, eu não preciso dormir muito. — Atlas fechou o MacBook e tomou um gole de café, apontando para a janela à minha esquerda. — Fechei a sua persiana para o sol não te acordar, mas você acabou perdendo uma vista incrível. Olha só.
Estiquei os braços, estalando as articulações e sorrindo de satisfação. A comissária de bordo se aproximou e me ofereceu um café. Com o café na mão, virei-me para a janela e abri a persiana.
Fiquei boquiaberta com a visão. Lá embaixo, havia uma costa longa e infinita, o azul cintilante da água em perfeito contraste com o verde da terra, uma estreita faixa branca formando a divisa da praia entre os dois. Avistei pequenas cidades aqui e ali, sem dúvida lugares litorâneos maravilhosos.
— Isso é a Riviera Francesa que você está vendo. Bonito, né?
— Bonita — parecia o eufemismo que acabaria com todos os eufemismos. Eu não conseguia acreditar em como aquele pedacinho da França era lindo, com o sol batendo na água na medida certa para dar à vista um brilho cintilante, como se eu estivesse olhando não para a Terra, mas para um pedacinho do Céu.
— Louveciennes fica lá embaixo? — perguntei, referindo-me à cidade litorânea onde os homens moravam.
Ele sorriu.
— Você fez sua lição de casa. E sim, é lá embaixo, ao norte de Nice. Vamos aterrissar em cerca de meia hora e pegar um carro o resto do caminho.
O piloto entrou no sistema de som, informando aos passageiros que estávamos prestes a iniciar a descida. Mantive os olhos grudados na paisagem à medida que ela se expandia, e consegui distinguir os detalhes das colinas verde-esmeralda e das ruas sinuosas das pequenas cidades francesas.
Pousamos rapidamente em um pequeno aeroporto nos arredores de Nice. Descemos a pista, estacionamos em um portão e paramos. Com um leve toque, o voo terminou.
Eu estava de repente vertiginosa. O nervosismo que eu sentia foi perdido, substituído por uma ânsia de sair do avião e apreciar a paisagem. Virei-me e fui recebida pela visão de Atlas à minha frente, já tendo saído do assento para pegar minha bolsa. Ele estendeu a mão enquanto puxava a bolsa, a barra da camisa subindo acima da cintura e proporcionando uma bela vista de seus quadris e abdômen. Olhei fixamente por um momento, a sugestão de seu físico tão sexy que me senti ficando um pouco molhada só de olhar.
— Aqui está. — Sua voz me tirou do meu transe. Atlas colocou minha bolsa na lateral do meu assento antes de me lançar um sorriso. — Vamos?
Balancei a cabeça, voltando ao momento. — Vamos.
Atlas me ofereceu a mão e eu a segurei, a sensação de sua pele quente e áspera me enviando outra onda de excitação. Ele podia ser um cara da tecnologia, mas a textura da sua mão me lembrava a de um carpinteiro, a pele calejada na medida certa para me deixar saber que ele não era molenga.
Ele me ajudou a sair do meu assento e eu me espreguicei uma última vez antes de seguir pelo corredor e sair do avião. Os atendentes do portão nos cumprimentaram com cordiais bonjours quando entramos no terminal, o prédio limpo e... elegante. Atlas despediu-se dizendo algo em francês perfeito, os atendentes rindo bem-humorados enquanto ele lhes dava um sorriso.
Claro, ele fala francês perfeito, pensei.
— Tudo bem. — Ele colocou as mãos sobre os quadris. — Eu odeio aeroportos. Você voa em um avião particular por tempo suficiente e fica muito mimado.
— Seu carro chegou? — Dei um passo para o lado dele, notando mais uma vez o quão alto ele era. Ele tinha facilmente quase dois metros.
— Não, não vamos de carro. Tem alguém vindo nos buscar. Vamos. — Ele me deu uma piscadela antes de partir, pendurando sua bolsa de couro preta no ombro e percorrendo apressadamente o terminal. Eu me esforcei para acompanhá-lo, suas pernas longas me obrigando a praticamente correr para acompanhar seu ritmo.
Chegamos à área de retirada de bagagem, Atlas se dirigiu rapidamente para o carrossel e tirou a bolsa dele sem esforço, depois a minha, quando eu apontei. Uma vez feito, ele me levou para uma área de espera onde um grupo de homens em ternos escuros e elegantes esperava com cartazes.
Lá estava um motorista com roupas mais leves. Em vez do abafado terno preto que os outros usavam, ele vestia uma camisa social branca casual e calças sociais azul-escuras, com um pouco de barba por fazer e os olhos escondidos atrás de óculos de sol, claramente caros e um pouco chamativos. Ele era alto e esguio e sorriu quando Atlas se aproximou, os dois se abraçando rapidamente, com tapinhas nas costas, e conversando rapidamente em francês.
Quando ele voltou sua atenção para mim, o homem tirou os óculos escuros e me olhou com uma expressão que beirava a descrença.
— É ela? — perguntou ele, com seu inglês fluente, mas com um sotaque carregado. Antes de esperar a resposta de Atlas, ele se aproximou e pegou minha mão, levando-a aos lábios e depositando um beijo rápido e educado nos meus dedos. — Mademoiselle, você não tem ideia do quanto é um prazer conhecê-la. Meu nome é Georges, e se precisar de alguma coisa, sou apenas seu humilde servo.
Eu não consegui evitar uma risada com a maneira exagerada da introdução dele.
— Prazer em conhecê-lo, Georges. Sou Giorgianne, mas todos me chamam de Giorgia.
Ele colocou as mãos no coração e se inclinou um pouco para trás, como se eu o tivesse atingido com uma flecha.
— Giorgia — repetiu ele. — Lindo, simplesmente magnífico. Agora, Giorgia, quando eu digo que se você precisar de qualquer coisa, eu estarei aqui. Você precisa de um guia para a praia, eu sou o cara. Ou, se precisar de um francês bonitão para te acompanhar pela cidade e te mostrar os melhores pontos de Louveciennes, ficarei mais do que feliz em te ter ao meu lado. —
Atlas riu, balançando a cabeça enquanto se aproximava e batia com a mão grande no ombro de Georges.
— Tudo bem, galanteador, acabamos de fazer um voo longo, então vamos dar um tempinho para ela se recuperar antes de você dar a ela o tratamento completo do Georges.
— Ah, mas é claro. — Ele colocou os óculos escuros antes de pegar as sacolas das minhas mãos. — Vamos embora então — a luz do dia está queimando, como vocês, americanos, dizem.
Atlas me lançou um sorriso cúmplice, e eu não pude deixar de rir do que tinha acabado de acontecer. Nós três saímos do pequeno aeroporto, o ar fresco e o sol me revitalizando no instante em que tocou meu rosto. Parei por um instante, fechando os olhos e sorrindo enquanto o calor me irradiava.
— Ah, lá está. — Georges disse. — A magia do ar francês.
— Não brinca. — acrescentou Atlas. — Você passa bastante tempo em Nova York e começa a sentir como se seus pulmões estivessem cobertos de gosma.
Abri os olhos, me sentindo restaurada enquanto começava a andar novamente.
— Está tão fresco aqui. — Eu disse.
— Você não é a primeira a perceber os poderes restauradores do ar mediterrâneo francês. — Georges se virou enquanto falava, caminhando para trás enquanto nos conduzia em direção a um pequeno estacionamento onde um punhado de veículos de luxo estava situado. — Desde que essa região foi povoada, há milhares de anos, as pessoas perceberam que havia algo no ar aqui que nos dá uma certa vitalidade. Você vai se sentir dez anos mais jovem apenas andando por aqui.
Georges nos conduziu até um elegante carro preto de luxo, longo o suficiente para ter uma área de táxi na parte de trás onde duas linhas de assentos se enfrentavam. Ele carregou nossas bolsas para o porta-malas depois de abrir as portas laterais para Atlas e para mim.
Ele continuou. Concentrei-me intensamente, interrompendo minha atenção apenas para apreciar a vista das charmosas cidadezinhas e vilas por onde passávamos.
O clima aqui... é perfeito. É quente e ensolarado, com invernos amenos e verões quentes o suficiente para serem interessantes. A beleza natural da região é imbatível, e um breve período aqui fará com que você entenda por que a Riviera Francesa, ou a Côte d'Azur, como a chamamos, é um dos destinos turísticos mais populares do mundo.
Rodamos um pouco mais, passando por cidadezinhas adoráveis que pareciam ter saído de outra época. Eu queria visitar todas, sentar nos pátios de seus cafés com um expresso e observar o mundo passar.
Claro, a Côte d'Azur não se resume apenas à beleza natural, embora a tenhamos em abundância. Há também o estilo de vida daqui, o glamour e a natureza chique da região. Há resorts luxuosos, butiques sofisticadas e a melhor comida que você já provou na vida. Há praias, vida noturna, eventos culturais, tudo o que você possa desejar. Nice, Cannes, Mônaco—todas cidades incríveis que valem o seu tempo. Mas, se estiver com sono ou preferir cidades litorâneas mais tranquilas, recomendo Antibes, Saint-Tropez e Menton.
— E a cidade onde estamos hospedados? — perguntei. — Louveciennes?
— Ah, Louveciennes... Agora, essa cidade não é apenas qualquer cidade; é a cidade onde ninguém menos que eu mesmo nasci.
— O que a torna a cidade mais importante do mundo, entende? — acrescentou Atlas com um sorriso.
— Correto! — disse Georges. — Agora você está entendendo. Mas, se quiser saber mais detalhes interessantes sobre ela, podemos começar pelo nome. Falante de francês ou não, tenho certeza de que você notou que o nome da cidade não é francês. Louveciennes é um nome italiano e reflete a história do lugar, que transitou entre as duas nações ao longo dos séculos. Quando você vir a cidade pessoalmente, entenderá imediatamente por que ela seria considerada um lugar pelo qual vale a pena lutar.
Seguimos viagem, com Georges explicando mais detalhes da região, enquanto a estrada serpenteava suavemente pelo terreno montanhoso. Depois de uns vinte minutos de viagem, durante os quais passei quase o tempo todo praticamente babando pela vista, nos aproximamos de uma região que exalava riqueza. Imensas propriedades salientes nas encostas das colinas, com o mar cintilante ao fundo. Não havia dúvida de que era o lugar onde os mais abastados entre os abastados chamavam de lar.
— E lá embaixo, ali — disse Georges. — A própria Louveciennes.
Olhei pela janela, boquiaberta com a vista lá embaixo. Da estrada, a vista se estendia por uma queda imponente, com o mar infinito ao longe. Lá embaixo, na costa, uma vista perfeita de uma vila de médio porte, aglomerada nos limites da terra. Mesmo da nossa altura, eu conseguia ver o traçado da cidade, um local em forma de semicírculo centralizado em torno de uma grande praça, com pontos de pessoas preenchendo as ruas.
— Isso é incrível — disse. — Tão lindo que quase parece irreal.
— Bem, eu diria para se acostumar — respondeu Georges. — Mas passei quase a minha vida inteira aqui e ainda não me acostumei. Acho que algo assim é impossível em um lugar como este.
Olhei para Atlas, que estava digitando algo no celular, possivelmente avisando aos outros que estávamos quase lá. Meu estômago se contraiu de ansiedade, e não consegui conter um sorriso enquanto dirigíamos pela estrada estreita com o mar à nossa esquerda e as belas propriedades nas encostas à nossa direita.
Minutos depois, viramos em uma estrada ainda menor, ladeada por árvores altas. Dirigimos mais fundo nas colinas, logo chegando à frente de um grande e ornamentado portão com as letras "IL" em letras grandes, elegantes e douradas.
— Irmãos Langford — sussurrei, com um tom de admiração na voz.
— Isso mesmo — Atlas respondeu, guardando o celular no bolso. — Estamos aqui.