Clara Menezes Eu me sinto pequena diante do olhar dele. O Andrew não fala nada, mas cada vez que seus olhos percorrem o chão manchado, o teto descascado, a parede que já perdeu a cor, ou a cama tão simples que divido com o Mateo, eu sinto como se tudo em mim fosse exposto. Esse apartamento é tudo o que eu tenho. O único espaço que restou depois que a minha vida virou de cabeça pra baixo. Mas, para ele, eu sei que parece não passar de um lugar sem valor. Eu sei, lá no fundo, que o julgamento não é exatamente sobre mim. É sobre o que o filho dele tem. Ou melhor, sobre o que não tem. Mesmo assim, não consigo evitar o incômodo. Sinto-me retraída, quase encolhida, como se quisesse me esconder. Eu pensava que ele viria apenas para ver o Mateo, conversar, talvez acertar algum ponto. Mas não

