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660 Words
fael – Manda o Yago e o Mateus irem cobrar a filha do velho – falo, firme. – Vai cobrar o aluguel atrasado? – pergunta o Filipe. – Não. Só a dívida mesmo. – respondo. – Ué, por que mudou de ideia? – ele questiona. – Você viu quantas pessoas vieram cobrar esse velho só hoje? – olho sério pra ele. – Se começarem a se juntar e resolver invadir aqui por causa da filha dele, já era. – Você acha que eles sobem pra matar a guria? – ele pergunta. – Tenho certeza. Se ele me deve oito mil, imagina o quanto deve pra aqueles três. – respiro fundo. – Manda cobrar e diz pra garota vazar. Não quero mais problema aqui no morro. – Então quer que eu mande matarem ela? – pergunta ele. – Não. Manda cobrar e me passar no rádio depois – digo. – Aí eu decido o que fazer. – Fechou – ele responde. Filipe faz o que eu mandei e depois senta do meu lado. Pouco tempo depois, o rádio dele toca. – O chefe tá aí – diz Yuri. – Passa pra mim – Filipe me entrega o rádio. – Fala aí – digo. – Chefe, a mina disse que não tem o dinheiro. Tava com a mala pronta pra fugir – ele avisa, e Filipe me encara. – Passa a bala – respondo seco. – Tô nem aí se não tem o meu dinheiro. Mete bala nela. – Ela tá aqui chorando, implorando pra não morrer – diz Yuri. Passo a mão no rosto, irritado. – Deixa que eu resolvo isso – falo e desligo o rádio. – Vai matar a guria? – Filipe pergunta, puxando um cigarro. – Vou – digo sem enrolar. – Já veio meio mundo cobrar esse velho. Não quero ninguém invadindo meu morro por causa disso. – E o dinheiro? – ele insiste. – Que se dane essa porcaria de dinheiro. Não quero mais saber – digo. – Vou contigo – ele fala, e eu só balanço a cabeça. Desço e paro na frente do barraco dela. Era o mais simples da favela. Lembro que o velho morava ali há muito tempo, mas nunca reparei na filha dele. – Cadê eles? – pergunto sem paciência. – No quarto dela – responde Mateus. Já saco a arma e engatilho. Não quero explicação, quero resolver logo. Entro no quarto. A garota tá encolhida num canto da parede, se tremendo toda, enrolada só numa toalha. – Olha aí – diz Yuri. – A mala dela – Mateus joga as roupas no chão. Ela chorava olhando pra gente. Troco olhares com ela por um segundo, e ela logo desvia. – Diz que o pai fugiu e levou a grana que ela tinha – comenta Mateus. – Mas nem dava pra pagar a dívida toda – completa Yuri. – Eu não tenho esse dinheiro, juro – ela fala entre lágrimas. – Eu ia fugir porque tava com medo. – Sai todo mundo – ordeno, olhando pros três. – Não tão vendo que a menina tá quase pelada? Dou uma olhada de cima a baixo nela. Corpo todo enrolado na toalha. Depois encaro o rosto dela, os olhos cheios de medo. – Todo mundo – falo também pro Filipe, que sai da casa. Caminho até a porta e fecho. Fico ali parado, encarando ela. Ela também me olha, com os olhos vermelhos, molhados. – Eu não sei onde ele tá – diz ela, tentando segurar o choro. – Teu pai é o maior filho da p**a desse morro – digo, me aproximando. – Fugiu e deixou a própria filha pra ser cobrada? Que tipo de homem faz isso? – Eu não tenho como pagar... eu não tenho dinheiro – ela diz, olhando pro chão. Agarro o rosto dela com força, fazendo olhar nos meus olhos. – EU VOU FICAR NO PREJUÍZO, É ISSO? Ela engole seco, o medo estampado nos olhos. ---
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