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– Manda o Yago e o Mateus irem cobrar a filha do velho – falo, firme.
– Vai cobrar o aluguel atrasado? – pergunta o Filipe.
– Não. Só a dívida mesmo. – respondo.
– Ué, por que mudou de ideia? – ele questiona.
– Você viu quantas pessoas vieram cobrar esse velho só hoje? – olho sério pra ele. – Se começarem a se juntar e resolver invadir aqui por causa da filha dele, já era.
– Você acha que eles sobem pra matar a guria? – ele pergunta.
– Tenho certeza. Se ele me deve oito mil, imagina o quanto deve pra aqueles três. – respiro fundo. – Manda cobrar e diz pra garota vazar. Não quero mais problema aqui no morro.
– Então quer que eu mande matarem ela? – pergunta ele.
– Não. Manda cobrar e me passar no rádio depois – digo. – Aí eu decido o que fazer.
– Fechou – ele responde.
Filipe faz o que eu mandei e depois senta do meu lado. Pouco tempo depois, o rádio dele toca.
– O chefe tá aí – diz Yuri.
– Passa pra mim – Filipe me entrega o rádio.
– Fala aí – digo.
– Chefe, a mina disse que não tem o dinheiro. Tava com a mala pronta pra fugir – ele avisa, e Filipe me encara.
– Passa a bala – respondo seco. – Tô nem aí se não tem o meu dinheiro. Mete bala nela.
– Ela tá aqui chorando, implorando pra não morrer – diz Yuri.
Passo a mão no rosto, irritado.
– Deixa que eu resolvo isso – falo e desligo o rádio.
– Vai matar a guria? – Filipe pergunta, puxando um cigarro.
– Vou – digo sem enrolar. – Já veio meio mundo cobrar esse velho. Não quero ninguém invadindo meu morro por causa disso.
– E o dinheiro? – ele insiste.
– Que se dane essa porcaria de dinheiro. Não quero mais saber – digo.
– Vou contigo – ele fala, e eu só balanço a cabeça.
Desço e paro na frente do barraco dela. Era o mais simples da favela. Lembro que o velho morava ali há muito tempo, mas nunca reparei na filha dele.
– Cadê eles? – pergunto sem paciência.
– No quarto dela – responde Mateus.
Já saco a arma e engatilho. Não quero explicação, quero resolver logo.
Entro no quarto. A garota tá encolhida num canto da parede, se tremendo toda, enrolada só numa toalha.
– Olha aí – diz Yuri.
– A mala dela – Mateus joga as roupas no chão. Ela chorava olhando pra gente. Troco olhares com ela por um segundo, e ela logo desvia.
– Diz que o pai fugiu e levou a grana que ela tinha – comenta Mateus.
– Mas nem dava pra pagar a dívida toda – completa Yuri.
– Eu não tenho esse dinheiro, juro – ela fala entre lágrimas. – Eu ia fugir porque tava com medo.
– Sai todo mundo – ordeno, olhando pros três. – Não tão vendo que a menina tá quase pelada?
Dou uma olhada de cima a baixo nela. Corpo todo enrolado na toalha. Depois encaro o rosto dela, os olhos cheios de medo.
– Todo mundo – falo também pro Filipe, que sai da casa. Caminho até a porta e fecho.
Fico ali parado, encarando ela. Ela também me olha, com os olhos vermelhos, molhados.
– Eu não sei onde ele tá – diz ela, tentando segurar o choro.
– Teu pai é o maior filho da p**a desse morro – digo, me aproximando. – Fugiu e deixou a própria filha pra ser cobrada? Que tipo de homem faz isso?
– Eu não tenho como pagar... eu não tenho dinheiro – ela diz, olhando pro chão.
Agarro o rosto dela com força, fazendo olhar nos meus olhos.
– EU VOU FICAR NO PREJUÍZO, É ISSO?
Ela engole seco, o medo estampado nos olhos.
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