Amor Acima Della Notte [MÁFIA]

Era uma tarde fresca. As ruas em Valleyview estavam bem agitadas. Todos muito ocupados com suas vidas, correndo para sobreviver ao seu trabalho, seu dia no colégio. Estava sentado na cafeteria onde sempre tinha costume de ir antes dos meus serviços mais sérios. Uma boa dose de café era agradável, antes de experimentar sangue inimigo. A situação parecia agravar, a meu ver. Frank Bianchi, Padrino, responsável pelo sul da cidade, alertou que os seus abateram três homens da Famiglia di Sangue no último mês. Não víamos nenhum desses desgraçados há muito tempo. Talvez tenham reagrupado e se preparado para tentar uma retomada e isso era uma péssima notícia — não por falta de capacidade, mas porque significava caos para o povo. Tinha um alvo para pegar, estava apenas esperando dar minha hora, afinal, minha irmã mais velha tinha a missão de atraí-lo ao motel da estrada e demoraria esse pequeno tempo. Na cafeteria, a barista não deixava que eu ficasse muito tempo sem ter um gole de café para beber. Talvez tivesse um ano a mais que eu, mas sempre se insinuava. Noivo e respeitoso, não trairia Beatrice tão facilmente — mesmo que nosso noivado estivesse fadado ao fracasso… mesmo que eu sentisse precisar de outra mulher. Por volta das duas da tarde, pensando tanto na falida vida amorosa, o telefone tocou e Beatrice era quem ligava. — Boa tarde, minha linda! — atendi. — Boa tarde, amor. Está muito ocupado? — Esperando dar minha hora para trabalhar… — Ainda? Não pode ir ao shopping comigo? Estava pensando de comprarmos algo, bebermos um vinho e talvez… — Tenho trabalho, se quiser esper- — Não quero esperar, Dante! Sempre tenho que esperar! — Ela esbravejou do outro lado da linha. Meu problema maior com Beatrice é que tudo deveria ocorrer como e quando ela queria. Senão, eu poderia estar sangrando numa esquina e ela chutaria meu corpo. Nem sempre foi tão r**m. Aos dezesseis, quando nos juntamos, eu tinha dois grandes aliados: os hormônios e o trabalho não era tanto. Ela sempre estava mais excitada do que interessada em compras — bastava um rápido orgasmo para ela e eu podia trabalhar. Na faculdade, isso mudou um pouco. Novas amigas, novas formas de ostentar… novos prazeres, que já não envolviam sexo. Pior, foi quando comecei a trabalhar mais. Minha vida na máfia foi uma montanha-russa. Enquanto criança, o bastardo era empregado de Ashley, esposa do meu pai, que adorava descontar em mim sua frustração por não parir o primeiro filho do Capi di Tutti Capi. O pai não interviu nessa punição e nunca reclamei. Ela nunca tocou a mãe, senão as coisas teriam sido diferentes. Na adolescência, o pai interviu a primeira vez, exigindo que eu estivesse decente enquanto fosse ao colégio. Aí, ela teve poder para opinar, mas não para escolher o pior para mim. Na faculdade, assumi uma função “coringa”. O pai ainda deixava que Ashley lhe mandasse o suficiente para me impedir de estar abaixo dele, logo, eu comecei a passear por todas as hierarquias, conforme a necessidade. Na falta de uma necessidade similar, ainda sou o cão de guarda dele ou seu espírito da morte, enviado para levar ao inferno almas malditas que querem mexer conosco. Saindo da faculdade, os gêmeos nasceram e me dei um novo trabalho: cuidar deles sempre para eles não lidarem com a frustração de uma mulher m*l resolvida consigo. Desdobrei-me para trabalhar, satisfazer as vontades de Beatrice e ajudar Megan, mãe dos gêmeos, para garantir que Ashley não surtaria de uma hora para outra — já que o destino debochou dela entregando gêmeos para a amante mais nova. — Dante, não me ignora! — Ela ainda esbravejava do outro lado. — Odeio quando você faz isso… — Amor da minha vida, você odeia quando eu faço tudo! — ironizei, rindo. — Quer algo mais? Algo que eu possa! — Por que não pode me dar só um dia!? Desliguei o telefone, respirando fundo. Extremamente desconfortável, a barista notou e se aproximou com o café. — Está bem? — Ela me perguntou, servindo minha dose. — Sono vivo… Ela franziu o cenho, tentando me decifrar. — Estou vivo — traduzi-lhe, sorrindo. — Grazie. Retribuindo o sorriso, ela voltou para dentro. Beatrice continuou ligando igual uma louca por quarenta minutos. Às quatro da tarde, o telefone voltou a tocar e era o pai. — Dio te benedica! — atendi-lhe. — Que Deus te abençoe também. Mesmo lugar, filho? — Sim, senhor. Algum novo evento? — Nenhum ainda. — Do jeito que nossa inteligência tem falhado, não me admiraria eu tomar um tiro na cabeça agora — ri. — Não posso deixar de admitir que sofremos uma falha, mas lidarei com isso ainda hoje… enquanto faz sua parte. — Sim, senhor. Logo é minha hora de partir. — Piccola Notte está reforçada o suficiente… mas, precisando, você sabe quem pode ir ao seu favor. — Não se preocupa… quando falhei com você? — Dio te benedica. Desliguei e me levantei. Terminei minha dose e entrei. — Obrigado, princesinha — sorri-lhe. Como habitual, ela se derreteu. Deixei uma gorjeta generosa e fui ao carro. Apesar de confiar muito nos meus, os últimos inimigos, que pisaram na nossa casa, não tinham como estar simplesmente transitando sem sabermos. Alguém sabia e isso me intrigava muito! Ter que lidar com traição na família era lastimável. Na última guerra, o pai quase fora morto por isso e perdemos muitos bons irmãos pelo mesmo motivo. Um arrepio se espalhou em meu corpo com o mero pensamento de que precisaria derramar sangue Notte de novo. Entrando no carro, tirei as pistolas dos coldres, axilar e cintura, colocando-as sobre o banco do motorista, prontas para um rápido saque e manuseio. Não costumava atirar com mais de uma, mas carregava mais de uma em nome da minha agilidade. Mesmo speed loaders acabam… e eu sempre estava pronto para o pior.