Daren O odor da ONG me corroía por dentro, uma mistura de álcool, sabão e papel molhado, o mesmo de quando ela chegou. Uma fagulha de esperança resistia, mesmo cercada pela morte. Eu detestava aquele cheiro, pois ele a trazia à memória, e tudo que vinha dela me desarmava. Eu prometi a mim mesmo que me afastaria, que voltaria a ser o homem frio, calculista e soberano que eu era. Mas naquela noite, após encará-la novamente, ouvir sua voz e tocar sua pele, mesmo coberta de sangue e medo, eu soube que estava fodido. Eva havia fincado raízes em um lugar dentro de mim que nem mesmo uma bala seria capaz de arrancar. Cheguei na ONG sem aviso, como uma sombra que se alonga ao entardecer, invadindo o espaço com a mesma naturalidade com que o ar preenche os pulmões. A porta, um velho pedaço de mad

