Capítulo quatro

3908 Words
Para Sarah o dia seguinte sempre chegava cedo de­mais. Resistiu à tentação de sair da cama e tentou con­tinuar dormindo, mas sentiu um nó de ansiedade na barriga. A grande ideia de ser secretária de Liam era um terrível engano. Nunca deveria ter aceitado aquilo. E como era muito cedo para começar o dia, ficou deitada pensando em comprar um vestido novo, até se virar para a beirada da cama e caçar as pantufas. Le­vantou-se triunfante com o robe enrolado nos braços e caminhou em seguida para o banheiro. Ligando a luz do espelho, Sarah vasculhou seu re­flexo com insatisfação. Parecia uma adolescente, pen­sou desgostosa. Sonya Laithwaite não iria levá-la a sé­rio com aquela aparência. Ela seria uma secretária hor­rorosa e, com toda a certeza, falharia em proteger Liam de Sonya. Richard descobriria que tipo de mulher sua esposa realmente era. Ele teria um enfarte e morreria — e tudo aconteceria por sua culpa! Mas era tarde demais para voltar atrás. Muito tarde. Ela estava contratada e havia gastado muito dinheiro em roupas para proteger o padrinho. Aquilo poderia se tornar uma daquelas grandes dores de cabeça que a mãe de Sarah costumava ter. — Café em cinco minutos — Liam gritou do outro lado da porta, fazendo Sarah saltar nervosa. — Deixei um copo de chá ao lado da porta. Sarah torceu a maçaneta e abriu a porta. — O que você quer de café da manhã? — perguntou Liam. — Só uma torrada e um café bem forte — respondeu, voltando rapidamente para o quarto, para não vê-lo com pouca roupa. Sarah ficaria especialmente nervosa se o visse enrolado na toalha. Ele era delicioso. Mas ela sempre soube disso. Entretanto uma coisa é saber teoricamente, outra bem diferente é ter isto ex­posto dentro de casa. Sarah escondeu-se atrás da toalha de rosto. A imagem dos pelinhos negros do peito e dos bíceps fortes confirmou que sua ótima condição física não era coisa que se perdia facilmente. Ela marchou de volta ao banheiro. Buscou se con­trolar. Não que se sentisse atraída por Liam, disse a si mesma pela milionésima vez. Aquilo era uma impossi­bilidade, pensava, enquanto tentava descobrir onde te­ria guardado os novos sutiã e calcinha dentro da mala. Liam nunca seria o tipo de homem de Sarah. Somente mulheres estúpidas querem ser parte de uma eterna pro­cissão de amantes. E ela não era burra. Sonya tinha de ser a mais estranha mulher do pla­neta. Por que colocaria em risco a confortável e prós­pera posição como mulher de Richard por uma inex­plicável fixação em Liam? Não eram os bíceps desen­volvidos que poderiam levar Sarah a se comportar de maneira i****a. Mas poucas mulheres tinham o benefi­cio de morar tão perto de uma dor de cabeça daquelas. Os incontroláveis lapsos do pai destroçaram a vida fa­miliar de Sarah. Por que as pessoas têm de ser tão cruéis com as outras? E, particularmente, quando fazem pro­messas de amor? Ela não compreendia aquilo. Sarah escorregou para dentro da roupa de baixo, pa­rando um momento para beber um gole de chá, antes de escolher uma saia vermelha combinando com uma camiseta preta. Naturalmente todas as mulheres que compartilharam a cama com Liam se apaixonaram por ele, quaisquer que tenham sido as condições que ele cuidadosamente ditou. Tomou outro gole de chá antes de começar a se maquiar. Liam bateu na porta. — Café na mesa. Vou descer em dois minutos. — Ok. — Sarah sentou diante do espelho e fez uma cara f**a com o reflexo. Na verdade, estava bem. De qualquer ângulo que olhasse, a curva do queixo pare­cia maior, assim os olhos tinham crescido como má­gica. Mas o melhor mesmo era a aparência de volume. Ela abriu bem os olhos e se admirou no espelho da parede. O sutiã claramente digno do preço absurdo que custou, havia operado um milagre. Pela primeira vez na vida ela parecia ter b***o. Não podiam rivalizar com os de Sonya Laithwaite, mas ao menos ganharam porte sem uso de silicone. Escolheu sapatos pretos de salto alto e uma sexy bolsinha vermelha e fechou a porta do quarto. — Você quer que eu sirva um café? — perguntou ao ouvir sons abafados vindos do quarto no fundo do cor­redor. — Obrigado. Preto, sem açúcar — respondeu Liam através da porta fechada. Sarah desceu as escadas sentindo-se mais esperan­çosa e animada do que poderia imaginar. Era muito bom ter roupas novas. Esperava somente que Liam achasse que ela estivesse apropriada para o ambiente do escritório. Ao menos parecia mais velha e, espera­va, mais capaz. Serviu-se de uma xícara de café e procurou por açú­car. O primeiro pote que abriu estava completamente vazio, o segundo escondia umas tristes latinhas e um pacote de açúcar aberto. Sarah abriu a gaveta mais pró­xima e encontrou as colheres. — Você nunca come em casa? — perguntou pela por­ta aberta da cozinha. — Não freqüentemente. Prefiro comer fora — respon­deu debaixo de uma toalha, com os cabelos negros despenteados e molhados e o peito ainda nu. Sarah olhou para longe e rapidamente pegou um dos potes menores. Por que este miserável não se vestiu? O que Liam viu em primeiro lugar foi o tecido da saia moldado em torno de uma pequena e atrevida bundinha. Tentou dizer alguma coisa, mas as palavras fi­caram presas na garganta, intimidadas ante tudo aquilo que Sarah escondia dentro da calça jeans. E isso não podia acontecer numa hora pior. Sarah tinha pernas. Pernas torneadas e moldadas por meias pretas — ou talvez não fossem meias, mas a ima­ginação de Liam já estava indo depressa demais. Sem­pre tinha pensado nela como uma baixotinha, quando na verdade era uma pequena, de estrutura fina e muito, muito sexy. Ele estava hipnotizado, tolamente em pé com uma toalha enrolada na cintura. Ela deu um rodopio. — O que você acha? Estou pronta? Ele encostou a toalha na bancada da pia. — Eu comprei tudo isso? — Muito mais. Gastei uma fortuna. É parte de nosso acordo. Liam atravessou a cozinha e mergulhou os dedos nos cabelos de Sarah. — Não tinha reparado em seus cabelos ontem à noi­te — ele tinha dificuldades em se concentrar no que ia dizer com aqueles olhos castanhos olhando para ele. Nunca tinha reparado neles antes — não daquele jeito — Você... você está adorável. — Mas pareço mais velha? Liam deixou a mão cair ao lado de seu corpo. Sim. Ela parecia mais velha. Os olhos dele pararam na som­bra da f***a entre os s***s, o jeito do pescoço elegan­temente esticado e os cabelos bailando. Ele desejava ser envolvido realmente por aqueles pensamentos. Por Sarah! E esta era a questão. Sarah era a irmã mais nova de seu melhor amigo e Seb poderia sem dúvidas fazer um escândalo se soubesse daqueles pensamentos nada fra­ternos. — Não há muitas mulheres que queiram vestir rou­pas que as envelheçam — disse jovialmente, voltando-se para ajeitar a toalha. — Você sabe o que eu quero dizer. Ainda pareço ter 16 anos? Quero estar vestida apropriadamente. Ele jogou a toalha por cima do ombro direito com uma indescritível expressão nos olhos azuis. — Você está fantástica. Seb já te viu vestida assim? — Não. Liam passou a mão nos cabelos. Ele também nunca tinha visto. Se Seb soubesse do corpo que a irmã tinha escondido todo esse tempo, não estaria muito satisfei­to dela estar com seu amigo. — Certo — ele disse, tomando uma decisão. Ela esta­va lá para lhe fazer um favor e faria qualquer coisa para não deixá-la sem graça. Se dependesse do desejo de puxá-la pela nuca... — Onde você guarda o pão? — Pão? — Quero torradas — disse Sarah, com os olhos faiscando de um jeito brincalhão. Ela estava rindo para ele novamente. Era óbvio. Sarah sabia exatamente o efeito que ela tinha sobre ele e es­tava se divertindo. Um músculo pulsou em sua mandíbula forçando a mente a se concentrar sobre o que ela acabara de pedir. — Tem pão dentro de um desses potes. Ponha uma fatia para torrar para mim — disse, saindo pela porta. — OK — disse, indo cuidar daquilo. — Só uma? — Uma basta — respondeu, enquanto aproveitava para olhar de novo o tecido da saia bem preenchido com nádegas firmes. Estas seriam duas longas sema­nas e ele chegou a pensar em fazer uma fuga desespe­rada. Por outro lado, podia ser apenas o choque da trans­formação que estava causando o problema. Eventual­mente ele se acostumaria com a nova Sarah e a libido se estabilizaria. Conseguiria mesmo? Os dedos apalpavam os bo­tões de sua camisa. O problema era Sarah. Ele gostava dela. Tinha de ser forte e mantê-la longe dos limites. Aquilo acontecia dentro da casa dele e tudo podia ter­minar numa enorme bagunça. Pouco depois dele voltar à cozinha, Sarah sentou-se num banco alto com uma torrada na mão. — Sabe, Liam, sua cozinha é uma completa desgra­ça. Você possui todos estes maravilhosos equipamen­tos e não tem nada para comer. Ele escorregou para um banco em frente ao dela. — Eu te disse que como fora. — Não o café da manhã — respondeu, lambuzando uma segunda fatia de torrada com manteiga. E então pensou em voz alta, abrindo os olhos descrentes. — Certamente você não volta para cá toda noite. Então para que mantém uma casa? Liam moveu-se desconfortavelmente, mas esforçou-se para sorrir. — Não toda noite, xereta. Normalmente faço ginás­tica antes de ir ao trabalho e arrumo o que comer na rua. Tudo bem para você? Ela sorriu luminosamente. — Tudo bem. Só estava interessada porque sei que isso é o tipo de coisa que sua mãe vai me perguntar mais tarde. Ela é muito preocupada com seus assuntos domésticos. — Agora você pode informá-la. — Talvez — disse excitada. — Por que a ginástica? Liam pegou sua xícara de café e deu um grande gole. — É relaxante. É uma boa maneira de começar o dia com a mente limpa. — Você deve queimá-la demais com álcool — disse secamente. — Sabia que você tem três garrafas de vi­nho na geladeira e nenhuma de leite? Nem queijo, nem salada. — Garrafas de vinho fechadas — disse, levantando-se. — Se você está procurando sinais de minha devassidão, deve olhar as vazias. Você ainda pretende ir traba­lhar na Harpur-Laithwaite? Sarah pegou o prato vazio. — Provavelmente é melhor se você quiser me consi­derar uma empregada confiável. A que horas Bárbara chega para trabalhar? — Entre 7h e 7h30. Ela parou na frente do lava-louças, com o prato na mão. — É muito cedo! — É quando eu começo a trabalhar. — Pode ser, mas... — Sem mas. A grande questão é que você vai estar por lá quando eu estiver por lá. Se Sonya souber que você não chega antes das nove, então estarei sem defesas. Sarah abriu a porta do lava-louças e colocou o prato dentro. — Compreendo isso, mas ainda acho que uma em­pregada temporária não poderia aparecer tão cedo na primeira manhã. Bárbara estará lá o dia todo para me dizer o que fazer, então não há problemas — ela voltou-se e o encarou interrogativamente. — Acredito que não — disse, apertando o nó da gra­vata. — Mas a partir de amanhã você não pode se atra­sar. É para isso que pago a você. — Amanhã você pode me chamar quando estiver saindo da ginástica e aparecerei como um gênio saindo da lâmpada — sorriu. — Estou começando a achar que vou lucrar com estas roupas. — Não se preocupe. Você vai — disse rapidamente, antes de procurar pela pasta de trabalho. — Bárbara só vai estar por lá até às 1l horas. Então esteja certa de que vá chegar até às 9horas. Até mais tarde. Se ela ainda precisasse de confirmação sobre a ma­neira que ele a tratava antes e depois, bastava prestar atenção em como aquele homem de terno abria a porta para ela. Em sua vida progressa, Liam raramente teria feito tamanha gentileza. Sarah detestava admitir isso, mas havia alguma coi­sa muito intimidadora sobre o sucesso indiscutível de Liam. Era algo que tinha a ver com os amigáveis in­sultos que faziam contra ele em Henley, que revela­vam um outro lado de seu êxito, visto em seu próprio território. Liam Montgomery — “um tipo bonito, jovem e saudá­vel” saía facilmente dos lábios alheios, mas ele tam­bém era responsável por outras pessoas. Pessoas de verdade. Responsável por suas necessidades e felici­dade. Isso fazia com que fosse visto como alguém im­portante. — É um momento terrível para eu ter de me ausen­tar — disse Bárbara com uma voz polida. — Gostaria de poder cancelar, mas então deixaria muita gente em di­ficuldades. Sarah a acompanhava, tentando se manter ao lado da secretária e, ao mesmo tempo, emitindo sons que estava entendendo tudo. — Estou certa que Liam... o senhor, digo, o Dr. Bal­four não gostaria que fizesse isso. Bárbara continuou a caminhada em um ritmo de tirar o fôlego, falando tão rapidamente quanto andava. — Estou muito satisfeita por você estar disponível para me substituir. Uma amiga de família é uma idéia sensata... nas atuais circunstâncias. Tanto quanto é pos­sível se prever, não imaginaria uma crise maior do que esta. E justamente quando eu estou fora daqui. Por isso também deixei para você um arquivo com tudo o que vai precisar saber. — Certo. — Há uma reunião de rotina às quintas-feiras, natu­ralmente — virou-se para o outro lado. — Deixei as no­tas ali. Qualquer coisa a mais, pergunte a Fiona. Ela é a secretária de Adrian Dunn e uma garota muito boa. Siga aquele corredor até o fim que a sala dela fica lá. Apre­sentarei você a ela mais tarde. Seu ramal é dois dois sete. — Dois dois sete — repetiu obedientemente, com mui­to poucas expectativas de se lembrar do número, com a cabeça completamente perdida na confusão de corre­dores. Com todos aqueles rodopios e voltas, se sentia mais e mais confusa. E assustada. Liam estava confian­do nela para não ficar numa situação difícil e ela não se sentia segura de estar à altura do trabalho. — Está no caderno. Sarah saiu de seus devaneios e voltou-se para Bár­bara. — Ah, OK. — Ele gosta de ler o Finantial Times e todas as circulares assim que chega pela manhã. Sempre as colo­co ali, em cima da mesa. Dê a ele uma hora de sossego, antes de transferir qualquer ligação. Ou lhe passe ape­nas informações sobre o que está acontecendo nos Es­tados Unidos. E aqui — disse, abrindo uma porta à es­querda — será seu lar pelas próximas duas semanas. Sarah ficou admirando o mais espaçoso escritório que já tinha visto. Além do computador com design sofisticado sobre a mesa clara, também havia um gru­po de cadeiras em torno de uma mesinha de centro, uma fila de arquivos e uma estante que ia do chão ao teto cheia de caixas. Meticulosamente ordenadas e ter­rivelmente intimidantes. Ela deixou a bolsa cair sobre uma das cadeiras. Se não precisasse de mais nada para confirmar a dimen­são de suas dificuldades, aquela sala o faria. A prévia experiência como secretária temporária seria gasta or­denando arquivos em salas que poderiam ser descritas como cristaleiras gigantes ou, inversamente, salões de festa nos quais garçons e convidados passeariam à von­tade. Nada era igual àquilo. — Se quiser, vá em frente e deixe Liam saber que já está aqui — disse Bárbara, indicando a porta fechada ao lado dos arquivos. — Ele está bem impaciente esperan­do sua chegada. Vou fazer um café antes de sentarmos e começarmos a trabalhar. Como gosta do seu? — Com leite e uma colher de açúcar. Assim que ela desapareceu, Sarah se viu diante do complexo problema de bater ou não na porta da sala de Liam. Era uma questão que necessitava de todo o equi­líbrio e discernimento e que ela teria de fazer sem hesi­tar. Bom humor e respeitabilidade sem ser rude era a maneira correta de agir. Por que ela tinha de aceitar trabalhar para Liam? No final abriu a porta e entrou. E então gelou. Parecia que tudo em volta tinha ressecado, assim que viu Sonya Laithwaite dentro da sala e disse um brilhante "olá". A mulher aproximou-se da mesa com os s***s enormes saltando fora de uma jaqueta fúcsia e rosa. Sarah sentiu a cor de seu rosto desaparecer e suas mãos ficarem suadas. — A cavalaria está chegando — disse Sonya com uma risada chocante anunciando sua entrada. Deu a volta na mesa. — Conheço você, não? Estou certa de que já te vi antes. Uma onda de náusea atingiu Sarah. Ela era tudo o que Liam e Seb tinham contado, mas realmente não dava para acreditar. Como uma mulher podia se com­portar daquela maneira, particularmente uma que ti­nha tanto a perder? Por um momento, Sarah hesitou, sem saber se teria dado um passo em falso. Então ela encontrou uma ajuda silenciosa nos olhos de Liam e a sensação de m*l-estar desapareceu. Fechou a porta do escritório e voltou para a mesa dele exalando tranqüili­dade. Incrivelmente Sonya não se moveu. Permaneceu na borda da mesa, com os s***s ainda mais saltados para fora da jaqueta. O visual impecável não revelava qual­quer sinal de embaraço. — Meu pai e seu marido são amigos, Sra. Laithwai­te — disse claramente, esperando algum traço de des­conforto aparecer no rosto da outra mulher. Mas não havia nada. — É mesmo? Liam levantou-se da cadeira e deu a volta na mesa. — Esta é Sarah Winston — disse, pondo o braço sobre seus ombros e puxando-a para perto dele. Não era um gesto muito comum entre um chefe e a secretá­ria temporária, mas Sarah não se moveu. Pela primeira vez na vida, realmente acreditou que Liam precisasse dela. Era uma nova experiência e ela não tinha inten­ção de deixá-la ir embora. — Winston? — Sonya pensava. — Eu me lembro. Você é a filha de Phillip — o olhar de frio apreço mirou as roupas novas de Sarah. — Você está mudada. Era uma coisinha desleixada quando te conheci. — Você é exatamente como me lembrava — Sarah re­bateu, irritada. Os olhos de Sonya faiscaram. — Perdi alguma coisa? Nossa! Você está namoran­do Liam? — perguntou. — Não... — Liam a cortou. — Um pouquinho mais que isso. Ela se mudou para cá. Somente a pressão dos dedos de Liam na cintura de Sarah a impediu de gritar. O reflexo de Sonya tremeluziu no tampo da mesa, enquanto olhava Sarah como se fosse um animal que tivesse de a****r. — Tillie sabe disso? — Naturalmente — respondeu Liam. Lentamente Sonya começou a abotoar a jaqueta. — Fascinante — os olhos estavam brilhantes e cheios de suspeita. — E eu pensava que você levaria Tillie para a festa de Richard. — Levarei Sarah. Sarah endureceu. Que jogo era esse que Liam esta­va jogando agora? Aquilo era somente um acordo para trabalhar com ele, mas isto era algo a mais. Agora ela estava escalada como secretária, figura decorativa e amante que dorme no serviço. O que tinha acontecido com Tillie? — Estou vendo — disse Sonya, calmamente se diri­gindo para a porta. Sarah permaneceu imóvel enquanto ela passava. Na porta, Sonya parou. — Ela nunca vai apanhar você, Liam. Vai sempre existir mais alguém, querida — disse com condescen­dência, voltando os olhos para Sarah. — Uma nova excitação. Uma nova aventura. Nós somos da mesma espé­cie, Liam e eu. Se você seguir meu conselho não vai querer se expor demais. Saiu e fechou a porta com um silencioso clique. Ficaram em silêncio até que Sarah ouviu um se­gundo clique indicando que a porta da sala da secre­tária também tinha sido fechada. Ela avançou para Liam. — O que vocês estão tramando? Imagino que isso não faça parte das obrigações de uma secretária. O que aconteceu com Tillie? — Quieta — avisou. — Ela pode estar ouvindo. — Não. — Sarah abriu bruscamente a porta para reve­lar um escritório vazio. — Está seguro. O que está acon­tecendo? O que você está fazendo? — Estou feliz que você estivesse aqui — disse dando a volta na mesa e sentando-se em sua cadeira. — Foi uma ótima maneira de agir. — Como pode fazer piada com isso? Não é engraça­do. Pense como Richard se sentiria se ele tivesse entra­do nesta sala em meu lugar. — Eu penso. Esta é a razão de tudo isso estar acon­tecendo — respondeu. — Onde está Bárbara? — Foi pegar um café. — Péssima hora. — Ela não estava sabendo o que se passava. Não jul­gue m*l as pessoas. O que aconteceu entre você e Tillie desde que me deixou esta manhã? Liam caminhou para o computador e clicou em seu e-mail. — Venha ver — disse. — Não há fúria igual a de uma mulher desprezada — completou calmamente. — O que você fez noite passada? — perguntou, dan­do a volta na mesa. — Nada. Creio que tenha sido este o problema. Os olhos de Sarah acompanharam a mensagem. — Não há nada para eu ler aqui. Quem é esta outra mulher que você está achando mais interessante que ela? — Você. O coração de Sarah passou a bater com certa disritmia. — Você não está falando sério. — Leia você mesma — levantou os ombros. — Apa­rentemente dou muita atenção a você e não estou aten­dendo às necessidades dela. Ela está segura de minha falta de espontaneidade em devotar-me a ela e pensa que é melhor a gente dar um tempo. — Eu sei ler, OK? Ele foi até o computador e fechou a mensagem. — Ela está certa quanto a isso. Estou completamen­te desinteressado em manter minha atenção, mas pre­cisava dela para a festa. Pelo menos você está aqui — olhou para ela especulativamente. Sarah sentiu um medo enorme. — Não me olhe assim. Não vou com você. Isso está completamente fora do nosso trato. — Nós não temos muita escolha — disse condescen­dente. — Já falei para Sonya que iria levar você. — Encontre mais alguém. — Quem? Estava namorando Callie desde outubro e não posso inventar mais alguém e fingir que estou apai­xonado ao mesmo tempo. Sonya nunca iria acreditar nisso. — Então sua melhor chance é tentar mudar a opi­nião de Tillie — Sarah sugeriu, saindo da sala. — Somente um compromisso que envolvesse uma aliança no dedo mudaria a opinião dela. Mas você é o meu coringa. Ele falava sério! Aquele rosto inacreditavelmente lindo não tinha a menor vergonha. Ela o encarou por um minuto antes de falar. — Honestamente você não pode esperar que eu aceite uma coisa dessas. — Por que não? Sarah balançou a cabeça, chocada por ele ter feito a pergunta. — Por que não convida uma mulher que já tenha na­morado? É só pegar a agenda e o telefone e ligar para alguém. Que tal uma loura antes de Tillie? Imogen, era este o nome dela? Liam anotou o nome no bloco em cima da mesa. — Sonya não precisaria ser PhD em física quântica para saber que eu estou mentindo. Além disso, que des­culpa eu daria para Imogen para ela acreditar ser o amor de minha vida após meses sem uma ligação sequer? — Você pode tentar contar a verdade. — Você está louca. Naturalmente não poderia. Você conhece Imogen. Ela não é exatamente o tipo de mu­lher reputada por sua discrição. — Este é o seu problema — disse Sarah, saindo da sala. — Não, Richard é meu problema.
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